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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Artigos: Neurose Obsessiva Compulsiva

Dentre as diversas e complexas manifestações neuróticas, sem dúvida nenhuma a que nominamos de neurose obsessiva compulsiva, afigura-se como a mais interessante e rica em conteúdos simbólicos. Porém, ao falarmos de “Conteúdos Simbólicos”, talvez o termo seja muito fraco para expressar o que de fato ocorre no núcleo dessa neurose, pois não estamos falando de uma montagem simbólica comum, o indivíduo afetado por tal desequilíbrio, age como se o símbolo fosse a “realidade”, e não uma mera representação da mesma.
Modernamente a neurose obsessiva compulsiva é denominada pela psiquiatria pelo Termo Técnico: Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).Porém, o enfoque psiquiátrico moderno diverge da abordagem psicanalítica tanto na etiologia de tal neurose como no seu tratamento.

Nesse estudo, no entanto, não iremos tratar das “diferenças”, e sim das similitudes e complementações que ambas podem oferecer no tratamento dessa incômoda e persistente neurose.

Em minha experiência profissional, bem como na pesquisa da Literatura Psicanalítica, pude observar e alistar particularidades normativas que sempre estão presentes no comportamento neurótico compulsivo obsessivo.
O neurótico tem consciência da absurdidade de alguns de seus pensamentos, por isso, uma dolorosa dissociação se estabelece no ego, e a pessoa afetada fica atormentada pelas repetições ideativas.
Frente a esse fato, podemos definir as obsessões ideativas, como intensificações de pensamento ego-distônicos, recursivos e intrusivos, que leva o paciente a ser “pensado” pelos seus muitos pensamentos, gerando uma ansiedade atormentadora.
Objetivando aliviar a ansiedade causada pelas obsessões, o neurótico recorre a ações ritualizadas, essas por sua vez são chamadas de “Compulsões”.


Os atos compulsivos mais comuns, podem ser reduzidos a cinco categorias primárias: rituais envolvendo a verificação; rituais envolvendo a limpeza; pensamentos obsessivos sem compulsões; lentidão obsessiva e rituais mistos.
No tratamento analítico, o terapeuta não deve se apressar em acabar com o “sintoma”, pois como gratificação secundária, os sintomas obsessivos compulsivos podem estar impedindo uma desintegração psicótica no neurótico, o doente se agarra a seus “sintomas estranhos” para garantir seu equilíbrio egóico.
O analista deve estar interessado em descobrir a função inconsciente do sintoma, e a sua configuração compensatória no mundo intrapsíquico do afetado, desvendando pouco a pouco, em sua psicobiografia, como foi levado a montar reativamente certo tipo de sintoma.
Esse processo lento e gradativo mostra-se fundamental para a compreensão da organização simbólica do paciente, possibilitando a perlaboração dos conteúdos analisados, eliminando não só os sintomas, mas sim o núcleo de ansiedade básica atrás do fenômeno.

O Comportamento Obsessivo Compulsivo

Descreverei agora, alguns dos sintomas que aparecem com mais freqüência nessa neurose: lavar as mãos demoradamente inúmeras vezes durante o dia (alguns pacientes são levados a levantar-se durante a noite para fazê-lo); tomar longos e repetidos banhos por não se sentir limpo; passar a maior parte do tempo limpando as coisas; preocupar-se fanaticamente com germes e contaminações; verificar repetidamente se portas e janelas foram fechadas; dar valor excessivo a números ou a contagens (é como se quisessem ficar livres do tempo, porém, estranhamente, é a sua cronometragem que os prendem); pensamentos catastróficos (algo de ruim que pode acontecer a qualquer momento); simetria neurótica; pensamentos ligados a castigo e morte, etc...
De forma coerciva, essas pessoas são vítimas de suas compulsões; mesmo que racionalmente não queiram praticar suas “esquisitices”, são devastadas por uma enorme ansiedade que, por fim, as leva a ceder ao ritual neurótico.
Uma outra peculiaridade marcante é a busca pela perfeição, tanto intrapsiquicamente como extra psiquicamente. Sua exigência maior é encontrar aquilo que é perfeito, mesmo que racionalmente admita que tal exigência é absurda e frustrante.
O desequilíbrio gera uma acentuada ambivalência relacional, são capazes de ruminar interminavelmente uma pequena atitude, desgastando e fadigando qualquer pessoa de seu convívio. Por causa do conflito interno, tudo que fazem requer muito esforço, podem criar uma “tempestade num copo d’água” na realização de qualquer atividade corriqueira, por mais simples que pareça.
Os pensamentos intrusivos se avolumam de tal forma na mente neurotizada, que é muito comum ficarem presos por uma cadeia interminável de pensamentos, que por vezes paralisam totalmente ações práticas, fazendo com que a “dúvida” seja a regra geral do comportamento compulsivo obsessivo. São fracos em tomar decisões, não sabendo como agir frente a escolhas banais do cotidiano.
Embora tudo isso se suceda ao neurótico obsessivo compulsivo, muitos deles conseguem levar uma vida como qualquer outro, são normalmente inteligentes e, portanto, capazes plenamente de estudar e trabalhar.
Sua capacidade psíquica não é totalmente prejudicada, e por terem consciência de seus “atos estranhos”, conseguem disfarçá-los no ambiente social.
É notório que as compulsões são exageradas quando a pessoa encontra-se em casa, por isso, ao mesmo tempo em que sua casa é um símbolo de proteção uterina, é também o palco de suas maiores angústias e fraquezas neuróticas.
Para que o processo analítico tenha bom êxito, o terapeuta precisa perceber em profundidade em que a dinâmica familiar influencia o paciente, pois muitas vezes o sintoma obsessivo é fomentado por uma organização familiar neurótica.
Quase sempre, para que o paciente tenha uma melhora significativa, o ambiente familiar deve ser readaptado às novas exigências do processo, sendo um meio facilitador e não um obstáculo intransponível.

Reparação Neurótica
Para a Psicanálise, a neurose obsessiva compulsiva, tem como origem um conflito psíquico infantil e uma fixação da libido no estágio anal de maturação. Como já enfocado parcialmente, tal neurose manifesta-se através de ritos conjuratórias de tipo religioso, sintomas obsedantes e uma ruminação mental permanente, que dá origem a intermináveis dúvidas e escrúpulos que acabam por inibir o pensamento e a ação.
No estudo sobre o “Homem dos Ratos”, Freud descobriu que é o erotismo anal que domina a organização sexual do neurótico obsessivo, por isso, para ele, a obsessão deveria ser sempre relacionada a uma regressão sexual ao estágio anal, tendo como sustentação inconsciente um forte sentimento de ódio primitivo.
Para Freud, o ódio surge psiquicamente antes do amor, pois esse sentimento tão prezado ao conjunto das relações humanas, foi criado exatamente para nos proteger do fluxo livre de nossa agressividade primitiva, daí elaboramos uma consciência moral.
Freud viu nos sintomas obsessivos um trabalho defensivo que visa ocultamente, transformar a representação forte da experiência infantil, numa representação enfraquecida e controlável, desligada por meio desse estratagema de sua verdadeira e dolorosa fonte.
É lógico que esse desligamento não tem totalmente bom êxito, pois a aliança desarmônica entre o estado afetivo e a idéia associada acaba por criar um caráter absurdo e irracional próprio da neurose obsessiva compulsiva. Nessa neurose, os sintomas são ego-distônicos, causando danos terríveis ao portador.
Frente a esse fato, Freud revelou que uma das características marcantes do desequilíbrio é a sua vinculação estrutural com o sentimento de culpa. Sobre isso ele escreveu: “Aquele que sofre de compulsões e de interdições se comporta como se estivesse sob o império de uma consciência de culpa, a cujo respeito, aliás, nada sabe; sob o jugo, portanto, de uma consciência de culpa inconsciente, como nos sentimos forçados a dizer, por mais que essas palavras resistam a se combinar”.
Examinando a religião, Freud chegou a perceber semelhanças desconcertantes entre os atos compulsivos e as práticas religiosas, que ao seu entender visavam essencialmente a mesma coisa: afastar o sentimento de culpa por uma reparação compensatória ritualística. Tanto no religioso como no obsessivo, a fórmula principal é o deslocamento psíquico (semelhante ao que acontece no sonho), pelo quais os detalhes triviais da atividade ritual se tornam a coisa mais importante, uma vez que se expulsou à força o conteúdo verdadeiramente significativo.
Em sua famosa tese da “Concordância Essencial”, Freud descreve: “Podemos conceber a neurose obsessiva como a contra partida patológica da formação religiosa, a caracterizar a neurose como uma religiosidade individual e a religião como uma neurose obsessiva universal”.