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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Artigos: Fenomenologia



Fenomenologia é um termo surgido na filosofia, fundado por Edmund Husserl. Formado em matemática e lógica, ele trabalhou com conceitos numéricos de acordo com o neokantismo, explicando as regras da lógica com os princípios do pensamento. Com isso, retirava o valor metafísico daquela, o caráter de algo para além do raciocínio humano e preconizava o chamado psicologismo, um reducionismo da psicologia. Adotou posturas críticas em relação à mesma, como se observa em sua obra "Investigações Lógicas" (1900). A partir da análise de pensamentos como entidades psicológicas ideais (como a idéia de número, que não existe na percepção conforme sua essência) ou diretamente apreensíveis (observação empírica de um objeto), ele lançou os fundamentos da fenomenologia.

   Tradicionalmente, na filosofia, o conhecimento era visto em duas perspectivas da relação sujeito-objeto: a apreensão objetiva e passiva do sentido de um objeto, ou seja, do que ele é em si (visão chamada realismo) ou a representação subjetiva das emanações do objeto, construindo o seu sentido (idealismo). A fenomenologia se propõe como uma alternativa a essa bipolarização. Um objeto fora da relação com a consciência, com o conhecimento, o ser-em-si das coisas é compreensível pela formulação de um "sujeito absoluto", para o qual o ser-em-si é assim como os objetos assumem seu valor relacional para o sujeito vulgar. Em palavras mais simples, trata-se de uma analogia que assume exisitir uma consciência superior, o sujeito absoluto, que acessa a realidade essencial das coisas, que a nós é apenas a base sobre a qual construímos a nossa representação subjetiva das mesmas coisas. Dessa forma, além dos nossos níveis de realidade representada, haveria um mundo objetivo de essências que nunca acessaríamos. A fenomenologia nega essa possibilidade, dizendo que a consciência sempre se dá em função de algo, em uma intencionalidade, é sempre "consciência de ...".

   A abordagem de Franz Brentano, mentor de Husserl e aquele que lançou os preceitos primordiais para a proposição da fenomenologia por este, aceita essa objetividade do objeto para além da consciência. Mas para Husserl, sujeito já pressupõe objeto e objeto já pressupõe sujeito – a relação sujeito-objeto não vem de estâncias originárias absolutas, entidades separadas que se encontram, mas sim de entidades que se engendram, ambas existindo uma em função da outra. Isso Husserl chama de fenômeno, ou seja, ser é aparecer, não é poder aparecer tal qual se é ou aparecer de maneira ilusória. Objeto é sempre experiência; suspendem-se as hipóteses da existência de um ser-em-si e um sujeito absoluto que a apreenda objetivamente. Para que o fenômeno seja compreensível, deve-se falar de um objeto enquanto relacionado a uma consciência. Isso configura a suspensão fenomenológica (epoché), que refuta essa tese natural, estabelecedora de uma relação sujeito-objeto prévia. Em vez de se discutir as propriedades da coisa-em-si, propõe-se um retorno às coisas-mesmas, ou seja, aos objetos tais quais se dão à consciência. A realidade-em-si seria uma abstração, o concreto seria a experiência.

   Para se associar Husserl com a psicologia deve-se analisar sua relação com Descartes, como em sua obra "Meditações Cartesianas", em que se elege seu continuador. Descartes se desvencilha das legitimações apriorísticas para alcançar legitimações racionais, partindo do método da dúvida até a certeza fundamental da existência, ainda que ela não seja como se dê, e do pensamento, independente da validade de seu conteúdo. Husserl questiona o que é o sujeito cartesiano; se entendido com um eu empírico, existente dentro de um mundo, é um contra-senso, pois assume a existência do mesmo mundo que suspende. Husserl chama esse sujeito de sujeito transcendental, um sujeito que não é intramundano, empírico e psicológico. Não se pode falar de nada anterior ao sujeito transcendental, pois ele é a condição de conhecimento. Essa proposição difere da de Kant, que aceita a realidade-em-si (que ele chama de númena) sobre a qual o pensamento se volta e traduz o mundo percebido, ou seja, o eu transcendental kantiano também é intramundano. Husserl não aceita essas pré-existências, mas entende o sujeito transcendental como condição de possibilidade do mundo. O fato de chamar tal pensamento de idealismo fenomenológico acaba sendo criticado por seus colaboradores por sugerir certo cunho metafísico não-intencional, pois a palavra "idealismo" não teria sua acepção clássica.

   Suas críticas à psicologia são voltadas à abordagem natural da mesma, ou seja, à busca de uma compreensão do sujeito empírico e intramundano, em uma relação de determinação do sujeito por causa e efeito, não investigando o sentido, o sujeito transcendental. Nas faculdades humanas não há uma relação determinista causal, com leis de obrigatoriedade de resultados, mas sim um nexo relacional de sentido. A título de ilustração dessa divergência, pode-se citar a lei da gravidade, que opera por constâncias de resultado, por causalidade, em contraste com a satisfação que se tem com a vitória de um time esportivo pelo qual se torce, algo que tem seu sentido relacional e independente de obrigatoriedade. Essas idéias da fenomenologia seriam posteriormente usadas no meio terapêutico, principalmente com o advento das contribuições de seu discípulo Heidegger, dando origem à psicologia fenomenológica existencial.