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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Artigos: O Efeito Zeigarnik e a Motivação



 Lewin propôs a existência de um estado básico de balanço ou equilíbrio entre o indivíduo e o ambiente. Qualquer pertubação desse equilíbrio provoca uma tenção que, por sua vez, conduz a alguma ação em um esforço de avaliar a tensão e restabelecer o equilíbrio. Assim, para explicar a motivação humana, Lewin acreditava que o comportamento envolve um círculo de estados de tensão ou estados de necessidade seguidos de atividades e alívio.
 

   Em 1927, Bluma Zeigarnik realizou um experimento, sob a supervisão de Lewin, para testar essa proposição. Os indivíduos recebiam uma série de tarefas e lhes era permitido terminar algumas, mas eles eram interrompidos antes de completarem outras. Lewin fez algumas previsões.

  1. Um sistema de tensão será criado quando o indivíduo receber uma tarefa para realizar.
 

  2. Quando a tarefa for concluída, a tensão desaparecerá.
 

  3. Se a tarefa não for concluída, a persistência da tensão resultará na maior probabilidade de o indivíduo lembrar-se da tarefa.

   Os resultados de Zeigarnik confirmaram as previsões. As pessoas lembravam-se das tarefas não concluídas com mais facilidade do que das completadas. Desde então, esse efeito passou a se chamar de Zeigarnik.

Efeito de Zeigarnik: tendência de se lembrar mais facilmete das tarefas não completas do que das tarefas completadas.


   A inspiração para essa pesquisa de Lewin a respeito da motivação surgiu da sua observação de um garçon do café situado do uotro lado da rua do Psychological Institute em Berlim. Uma terde, ao reunir-se com alguns alunos da pós-graduação no café, alguém comentou estar surpreso com a habilidade aparente do garçom em lembrar-se do pedido de cada um sem anotar nada. Algum tempo depois de pagar a conta, Lewin chamou o garçom e perguntou-lhe o que eles haviam consumido. O garçom, indignado, respondeu que não se lembrava mais. (Ash, 1995, p. 271.).

   Uma vez paga conta, a tarefa do garçom havia terminado e a tensão, desaparecido. Ele não precisava mais se lembrar do que cada um tinha pedido.

Os processos são infinitos, o movimento é eterno. Ao nos relacionarmos, estabelecemos limites, posições, espaços. Descontinuamos, interrompemos para continuar. Isto cria tensão, cria motivação. Bluma Zeigarnik, uma pesquisadora dos fenômenos da memória, descobriu no início do século passado, que as tarefas interrompidas eram frequentemente mais memorizadas, mais lembradas que as completadas. Esta experiência é muito fértil; podemos entender a  motivação, o estar interessado em algo ou alguém em função desta descontinuidade, desta interrupção. O que eu chamo de "efeito Zeigarnik" explica a tensão criada pelo que não é concluido.

As sequências relacionais vivenciadas em contexto de não aceitação, de autorreferenciamento são ilustrativas de como o interesse ou desinteresse, o ânimo ou desânimo variam em função de metas realizadas, completadas ou situações instigantes sempre insinuadas e nunca definidas.

As técnicas de manipulação política, a propaganda, a demagogia são sempre um exemplo desse efeito Zeigarnik: motivar é gerar esperança que quanto mais distante fica, mais motiva.

Estar motivado é querer continuar o que se está vivenciando. A sensação de completar equivale ao terminar, encerrar, não oferece perspectiva de continuidade, é alívio ou realização.

O completo, íntegro é tedioso para quem garimpa sucesso, riqueza e bem-estar, por exemplo.

Interrupção, não conclusão do que se realiza estabelece insatisfação, cria tensão, estabelece meta ou gera perspectivas à depender da aceitação dos limites existentes.

A interrupção, pelos vazios preenchidos de motivação, gera continuidade. Frustrações esmagadas, sepultam os desejos que as engendraram. Este progressivo esvaziamento faz com que não exista motivação. O presente é vivenciado como expectativa; o pregnante, a figura (elemento figural) é o que vai acontecer, é independente do que se está vivenciando. É o rompimento da continuidade, é a estagnação. 

Continuidade não é manutenção, continuidade é a única maneira de mudar, desde que ao interromper cada sequência, se recria, continua, graças à motivação que é intrínseca ao processo de interrupção.

No indivíduo fragmentado, dividido, parcializado, não há o que interromper, não há consequentemente o que continuar, motivar. São "rochas" inanimadas, pontualizações existentes, onde o que se busca é ponte de união, de complementação. 


Na psicoterapia gestaltista, o questionamento, as novas percepções dele resultantes, criam espaços de tensão, de motivação, onde se retorna ao interrompido. Aliviar é sedar, tensionar é acordar.

Interrupções conseguem recuperar o contínuo estar no mundo através das demandas e sinalizações criadas pelos encontros e desencontros do que se faz e do que se deseja, pensa ou precisa fazer.

"Somos feitos de todas as marcas que deixam em nós os seres e as coisas que amamos fortemente agora ou que amamos fortemente no passado e às vezes perdemos. Isto é os seres e as coisas com os quais nos identificamos.Então quem sou eu? Sou a memória viva daqueles que amo hoje e daqueles que amei outrora e depois perdi. A identificação é aquilo que faz amar e ser o que sou."