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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Exposição "Um Olhar sobre O Cruzeiro"



Um olhar sobre "O Cruzeiro"

O Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro abre em 10 de julho (terça-feira), às 19h, a exposição Um olhar sobre O Cruzeiro: as origens do fotojornalismo no Brasil, com mais de 300 imagens e matérias que revelam a história da principal revista ilustrada brasileira do século XX, que foi decisiva para a implantação do fotojornalismo no país. A exposição tem como fio condutor a relação entre as imagens produzidas pelos fotógrafos e as fotorreportagens tal como foram publicadas. Essa abordagem, até hoje inédita, terá como foco as décadas de 1940 e 1950, período de maior inventividade e penetração social da revista. A curadoria da mostra é da professora e curadorado Museu de Arte Contemporânea da USP, Helouise Costa, e de Sergio Burgi, coordenador de fotografia do Instituto Moreira Salles. No dia da abertura, será realizada uma mesa-redonda com o jornalista e escritor Fernando Morais;Flávio Damm e Luiz Carlos Barreto, que colaboraram para a revista como fotógrafos; e a curadora Helouise Costa. A entrada é gratuita e os lugares são limitados.

Na exposição, serão apresentadas as contribuições de Jean ManzonJosé Medeiros, Peter Scheier, Henri Ballot, Pierre Verger, Marcel Gautherot, Luciano Carneiro, Salomão Scliar, Indalécio Wanderley, Ed Keffel, Roberto Maia, João Martins, Mário de Moraes, Eugênio Silva e Carlos Moskovics, além de Flávio Damm e Luiz Carlos Barreto.

Publicada pelos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, a revista O Cruzeirofoi lançada em 1928 como uma publicação semanal de variedades, de circulação nacional. Tornou-se um dos mais influentes veículos de comunicação de massa que o país já conheceu. No início da década de 1940, incorporou o modelo da fotorreportagem, tornando-se pioneira na implantação do fotojornalismo no Brasil. “Mesmo após 38 anos do fechamento da revista, constatamos que ela continua sendo uma importante referência para os profissionais da imprensabrasileira, muito embora seja pouco conhecida pelas gerações atuais”, explica a curadora Helouise Costa.

A exposição do Instituto Moreira Salles apresentará alguns temas recorrentes nas páginas da revista. As informações abaixo, extraídas dos textos dos curadores da mostra, resumem cada um dos assuntos.

- O índio: a temática indígena foi uma constante nas fotorreportagens de O Cruzeiro. A dominação do índio era vista não só como inevitável, mas necessária à modernização do país, ideia apoiada pelo governo, que lançava um projeto de integração do índio à sociedade civil. Inaugurado em 1944 pela fotorreportagem de Jean Manzon e David Nasser sobre uma comunidade xavante nunca antes contatada, o tema do índio ganharia, nos anos seguintes, a contribuição de outros fotógrafos, em especial de José Medeiros e Henri Ballot.

- A imprensa e o sistema de arte: a virada das décadas de 1940 e 1950 no Brasil foi marcada pela fundação de importantes instituições culturais, como o Masp (1947), em São Paulo, e o MAM do Rio de Janeiro (1948). Embasados no discurso da democratização da arte, esses empreendimentos foram resultado da iniciativa privada. Quando Assis Chateaubriand criou o Masp, estabeleceu um estreito vínculo entre a dinâmica do sistema de arte local e os interesses da indústria de comunicação de massa. Não por acaso, O Cruzeiro publicaria constantemente fotorreportagens sobre o museu. Personalidades da elite econômica e política do país seriam retratadas em vernissages, cerimônias e banquetes, ou até mesmo em um luxuoso desfile de moda realizado em meio às obras de arte.

- A autonomia da câmera: a discussão é um exemplo de como, na exposição, serão problematizadas as questões relativas à linguagem fotográfica. A autonomia da câmera, seja fotográfica ou cinematográfica, teve forte presença no imaginário do período entreguerras, materializando a vontade de superação dos limites da visão humana e de sua adequação aos desafios da modernização.

- A política na fronteira entre o público e o privado: os vínculos de Getúlio Vargas com O Cruzeiro remontam ao pedido de auxílio financeiro feito por Assis Chateaubriand, no final dos anos 1920, para o lançamento da revista. Vislumbrando os benefícios que poderia obter com a publicação, o então ministro da Fazenda intermediou a cessão dos recursos solicitados em troca de apoio político. Dali por diante, as relações de O Cruzeiro com Vargas seriam caracterizadas pela instabilidade. As matérias sobre o político gaúcho iam da adesão irrestrita aos ataques diretos, passando por momentos de apoio tácito.

Faits divers – entre a notícia e a ficção: um dos muitos recursos utilizados pelas revistas ilustradas para atrair o interesse dos leitores era a publicação de reportagens ligadas ao universo dos chamados faits divers. O termo, de origem francesa, foi incorporado ao vocabulário do jornalismo para se referir a reportagens sobre temas não muito relevantes, que não se enquadram nas editoriais tradicionais e têm pouca relevância social e política. A revista O Cruzeiro abriu um amplo espaço aos faits divers em suas fotorreportagens. Assuntos banais eram envolvidos em um clima de suspense, como ocorre em “Amor e morte na cidade de cera”, que, contrariando a manchete, trata apenas do trabalho de um criador de abelhas.

- Fotorreportagens seriadasO Cruzeiro reúne diversos exemplos em que as narrativas não se esgotam apenas em uma única fotorreportagem, mas se desdobram em séries de média ou longa duração. As séries estimulavam o consumo regular da revista e induziam o público a colecioná-la. Uma das reportagens seriadas de maior repercussão, na década de 1950, abordou a história da índia Diacuí. Assis Chateaubriand decidiu interceder junto ao governo federal a fim de obter autorização para o casamento de Diacuí com o sertanista Ayres Cunha. A união havia sido negada pelo Serviço de Proteção ao Índio, mas Chateaubriand não apenas conseguiu o aval do Estado e da Igreja para o seu projeto, como transformou o caso em uma verdadeira novela da vida real, exibida em capítulos na revista entre 1952 e 1953.