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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Exposição "1971-A Cisão da Superfície"


Fernando Lindote apresenta nove telas gigantes, segundo ele porque "precisava de espaço para extravasar"
A sala A Contemporânea do Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio Janeiro, célebre espaço de artes do Brasil, recebe a partir do dia 10 deste mês exposição de Fernando Lindote, 51. Reconhecido artista radicado em Florianópolis, com participação em bienais, ele apresenta na capital carioca “1971 – A Cisão da Superfície” (um trabalho de vida inteira, nas palavras do artista). A mostra tem tom biográfico e passa por um posicionamento de Lindote sobre sua arte: “Assumo na integralidade que meu interesse agora é pintar.”
Há pelos menos dois anos ele vem trabalhando o repertório de referências presentes nas nove telas gigantes e histórias em quadrinhos que integram a mostra, embora o convite para expor no CCBB tenha vindo no ano passado. “Tem sido um grande processo”, comenta (ele ri: “todos os artistas dizem isso”). A exposição mescla ideias do artista sobre pinturas e desenhos, com elementos que estão na formação do seu trabalho – entre eles o cartum.
Fernando Lindote começou a desenhar depois do verão de 1971. Era o auge da ditadura militar, e famílias como a dele viveram uma situação particular. “Fomos uma família feliz porque na contramão da ditadura a situação econômica estava boa”, lembra. Lindote nasceu em Santana do Livramento, fronteira do Rio Grande do Sul com Uruguai. Nessa época morava em Porto Alegre e veraneava em Capão da Canoa, litoral norte gaúcho. “O verão de 1971 foi o último muito bom. O ano que seguiu, ao contrário, foi difícil para mim. Parei de estudar, mas comecei a desenhar.” Por isso o título da exposição faz referência à data. Foi onde tudo começou.
E tudo começou com cartum. “Meu modo de entender a imagem passa por isso”, justifica o artista. Por isso os quadrinhos aparecem tanto na mostra. Em parceria com o artista plástico e gráfico carioca Fernando Leite, Lindote desenhou um gibi de 12 páginas que não seguem um roteiro e sem falas. Cada quadrinho tem uma história, mas não uma sequência narrativa. “A gente montou uma versão sequencial, mas pode ser diferente”, sugere. Foram impressas 20 mil cópias dos gibis, à disposição dos visitantes.
Roberto Carlos, Sid e Quadrinhos
O ateliê de Fernando Lindote, no Campeche, é um conglomerado de referências oscilantes e diversas. Em meio a telas, tintas e pincéis, aparecem elementos curiosos, quem sabe inspiradores: foto de astronauta na lua, avião de brinquedo, ímã de Roberto Carlos, pedras e até o boneco de Sid, a preguiça da animação “A Era do Gelo”. Também tem muitos gibis. “Comecei a ler quadrinhos ainda antes de saber ler. E ficava muito tempo em cada quadradinho, sentia o cheiro, as cores”, conta ele. Quando veio para Florianópolis, em 1983, seu primeiro emprego não podia ser diferente: foi ilustrador do extinto jornal A Ponte e depois de outros jornais.
O artista passa muitas horas do dia no ateliê, montado em sua casa e de frente para o jardim. Ele não costuma deixar nada por fazer. É perfeccionista. “É tudo controlado. Até as manchas são calculadas, até o borrão. E se não fica legal, faço tudo de novo”, diz. Muitas das obras que estarão expostas no Rio já tinham sido planejadas por Lindote muito antes de virem à luz. “Tem  que ser aquilo. Penso muito antes. Depois que o trabalho acontece, é  livre.”
Suas obras que hoje estão guardadas no espaço são parte de um processo de não-desapego. “Eu era extremamente desapegado. Destruía meus trabalhos depois das exposições”, conta. A partir dos anos 1990 o artista passou a conservar suas obras, e muitas delas têm sido requisitadas para integrar acervos dos principais museus e galerias do país.
Espaço para a Maturidade
Fernando Lindote costumava pensar mais sobre a exposição que se formava. Mas em “1971 – A Cisão da Superfície”, o artista foi simplesmente fazendo, pintando – as obras não têm relações umas com as outras. “Sinto-me mais  corajoso em mostrar coisas que não tenho baliza para elas”, comenta. Ele considera essa exposição bem resolvida nesse sentido. “Hoje eu acho que tenho maturidade para fazer isso.” Por isso também as telas em tamanhos quixotescos:  “eu precisa de espaço para extravasar isso tudo.”
Não à toa, o título da exposição é cisão da superfície. “Quis quebrar a superfície da representação.” É a cisão de superfície da vida. 

Exposição “1971 - A Cisão da Superfície”
10/10 até 18/11, terça a domingo, 9h às 21h
CCBB, rua Primeiro de Março, 66, 2 andar, Centro, Rio de Janeiro, tel. 0800-729 0722