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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Colóquio França-Brasil: A Ontologia Maligna de Heidegger


A Academia Brasileira de Filosofia e a Folha Dirigida fazem a Semana da Liberdade, apresentando o Colóquio França-Brasil, com tradução Heidegger-A Ontologia Maligna, dia 13 de Junho de 2011, na Casa de Osório, Centro-RJ.

SOBRE A ONTOLOGIA HEIDEGGERIANA
[...] as extremidades, as margens, as regiões opostas da pertinência não são
separadas e cortadas umas das outras; elas não se mantêm por elas mesmas
na unilateralidade; ao contrário, são libertadas da unilateralidade
de seu ser-finito (e), por conseqüência, elas se entre-pertencem in-finitamente
umas as outras na pertinência que as mantêm juntas “de um lado a outro”
a partir de seu Meio.
M. Heidegger

O pensamento do filósofo alemão Martin Heidegger (1889 – 1976) desponta em uma época em que os homens têm o orgulho de sua civilização e seus valores tradicionais abalados pelas conseqüências da Primeira Guerra Mundial.
Seu pensamento surge como alternativa à metafísica, para que haja uma compreensão do mundo que não seja a partir da dicotomia mundo sensível & mundo supra-sensível. Ele irá se preocupar com um ponto fundamental da filosofia que é a questão do Ser, e publica sua obra mais famosa, “Ser e Tempo”, em 1927. Através dessa obra, Heidegger aborda a questão do Ser, que é seu ponto de partida, através do método fenomenológico.
Esse autor concluiu que o homem é o ente através do qual o Ser se manifesta em seu grau maior de desvelamento. É na sua solidão que o homem pode entrar em contato com o Ser, a partir de uma reflexão sobre ele mesmo. O objetivo dessa reflexão filosófica é que, partindo da existência humana enquanto Dasein, “ser-aí”, o homem procure desvendar a si mesmo.
Heidegger cria uma terminologia própria ao denominar o homem como Dasein. Com isso ele quer dizer que o homem é ser-aí em um determinado momento histórico, situado nesse contexto, e por isso já é sempre algo forjado nessa ou naquela situação. É o acontecimento que tem a forma do salto, do imediato, não tendo nenhum sujeito ou causa implícita que sustente isso. E nesse sentido ele é jogado no mundo, surgindo a co-pertinência entre homem e mundo. Essa junção homem-mundo é o modo fundamental de ser-no-mundo do homem.
O ser-aí é um ser possível, ou seja, é sempre aquilo que pode ser. Na primeira parte de “Ser e Tempo”, Heidegger descreve a vida cotidiana do homem considerada por ele como uma forma de existência inautêntica, constituída por três aspectos: facticidade, existência e decadência.
A inautenticidade refere-se ao distanciamento do homem de sua condição real, de como ele se ocupa do mundo e distrai-se de sua condição enquanto um ser mortal. A autenticidade é justamente quando o homem pode conviver com sua condição enquanto ser-para-a-morte. O homem é um ser de possibilidades infinitas, as quais ele vai “escolhendo” realizar enquanto vive, mas esta possibilidade da morte é a única que lhe é dada como certa.
Na segunda seção de sua obra, surge a noção de angústia. Esta se faz presente quando o homem passa a assumir-se nesta projeção futura da morte. A angústia heideggeriana possibilita que o homem possa resgatar-se do viver cotidiano indo ao encontro de sua totalidade. Ela está sempre presente tanto no distanciamento quanto na aproximação do eu, podendo ser vivida como medo no distanciamento.
Outra questão importante que Heidegger apresenta neste livro é a questão do tempo. O autor encontra na temporalidade uma dimensão fundamental da existência humana, pois o ser-aí tem como condição realizar-se nas suas possibilidades no seu vir-a-ser. Este filósofo acredita que há sempre no Dasein a presença de uma tensão constante, de uma inquietação relativa ao tempo, entre aquilo que o Dasein é, o seu vir-a-ser e seu passado.
A vivência da temporalidade pode dar-se na inautenticidade assim como na autenticidade. A autenticidade da temporalidade dá-se através da inquietação, que possibilita que o homem ultrapasse o estágio da angústia e retome o seu destino em suas próprias mãos. A inautenticidade dá-se no distanciamento dele próprio, como se fosse levado pelo destino.
É importante ressaltar que há uma mudança no pensamento de Heidegger em um segundo momento: ele não considera mais a existência humana a porta de entrada para o Ser, mas sim o Ser passa a ser a abertura para a possível compreensão da existência humana.