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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Aniversário de 150 Anos da Floresta da Tijuca-RJ

A Floresta da Tijuca, que fica no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, é muito conhecida pela beleza natural que se ergue no meio de uma das maiores cidades do mundo. Ana Cristina Vieira, coordenadora cultural e autora de um projeto de pesquisa sobre a memória institucional do parque, acrescenta que se a mata não existisse, a temperatura da cidade seria mais alta entre 4 e 7ºC. Mas, os benefícios que essa floresta garante já foram ameaçados seriamente. Isso aconteceu ao longo do século XVIII com o cultivo do café e da cana-de-açúcar, a extração de lenha e exploração de carvão. A recuperação de todo o estrago causado se tornou um exemplo de como medidas relativamente simples e persistentes de conservação, como a criação e a manutenção de áreas protegidas, são eficazes para reverter um processo de degradação florestal. Em 2011, comemoram-se os 150 anos do decreto que D. Pedro I emitiu em 1861. Nesse documento, estavam as primeiras instruções para o plantio de novas mudas e a conservação da mata que compõe a Floresta da Tijuca – e também de outras áreas.

“A Floresta da Tijuca é hoje o resultado da combinação entre o reflorestamento e a regeneração natural de várias partes da mata”, afirma Ana Cristina Vieira. Mas, ela lembra que, embora a ordem para repor a mata devastada tenha partido de D. Pedro I, medidas básicas tomadas por D. João VI ajudaram a diminuir o impacto da monocultura sobre as florestas bem antes. De acordo com o Plano de Manejo e estudiosos do parque, D. João VI decretou, em 1817, a proteção das bacias do rio Carioca, que foi um dos principais responsáveis pelo abastecimento de água da cidade. Registros históricos que pertencem ao parque mostram que a preocupação em garantir água potável para a população, que crescia rapidamente na época, impediu que o desgaste da mata fosse maior.
ameaças e pressões (Foto: Divulgação/ Stanley, Owen)
 
No topo, a mata. Nas encostas, o café
(Foto: Divulgação/ Stanley, Owen)

O período de maior devastação foi no início do século XIX, por volta de 1820, quando, de acordo com os arquivos históricos do parque, propriedades com lavouras que tinham entre 5 e 100 mil pés de cafés se instalaram na região. Uma das áreas mais prejudicadas que se tem registro corresponde, atualmente, ao Morro Queimado, na Gávea. No século XIX, existiram ali as duas maiores fazendas de café do Rio de Janeiro da época: a fazenda do Dr. Louis François Lecesne e a do holandês Van Mook. Mapas do início do governo imperial se referiam a essa região como “terras cansadas” e “matas estragadas”.
No entanto, a crise de abastecimento de água na cidade foi o grande estopim para iniciar o reflorestamento. Os registros do parque apontam que, na época, as autoridades estimavam ser necessários 60 milhões de litros de água, quando eram produzidos apenas 8 milhões para uma população calculada em torno de 400 mil pessoas. As pequenas nascentes protegidas não eram suficientes e, então, o governo baixou a decisão Nº 577. Na prática, ela determinava que fossem plantados arvoredos no país pelo sistema de mudas e em linha reta, começando de ambas as margens das nascentes dos rios. A medida foi aplicada imediatamente na Floresta da Tijuca com a designação do major Manuel Gomes Archer como responsável pela área. Logo após, Tomás Nogueira da Gama também foi nomeado como responsável pelas Paineiras.
“As histórias dizem que o major Archer e apenas 6 homens iniciaram a plantação das mudas. No entanto, para o tamanho daquela área isso seria impraticável. Acredita-se que, no mínimo, entre 20 e 30 homens começaram o trabalho sob o comando do major”, esclarece Ana Cristina. Ela diz que algumas estimativas apontam que o major teria plantado cerca de 100 mil mudas durante a sua administração. Segundo o Plano de Manejo, ele trabalhou por 13 anos com o reflorestamento. Além do major Archer, Ana Cristina cita que Tomás Nogueira da Gama teria sido o responsável pelo plantio de 120 mil mudas.

ameaças e pressões (Foto: Divulgação/Ruy Salaverry)
 
Cristo é um dos monumentos que atrai os 2 milhões de visitantes anuais do Parque Nacional da Tijuca
(Foto: Divulgação/Ruy Salaverry)

Os arquivos históricos do parque ressaltam que há uma carência de registros que deem a dimensão exata do quanto foi plantado por cada um desses agentes e qual o alcance real do reflorestamento executado. Os documentos históricos falam também que nos primeiros anos a mortalidade dos plantios variava entre 11% e 96%. Consta do Plano de Manejo que somente em 1869, com a coleta de sementes nas matas de Jacarepaguá e de Guaratiba, é que o reflorestamento passou a alcançar melhores resultados. Ana Cristina diz que foi ao longo do século XX que as ações se intensificaram e deram melhores resultados. O plantio de mudas também ajudou no enriquecimento da vegetação, auxiliando na formação das florestas secundárias (mata reposta com exemplares de espécies originais), que são maioria no parque.

Até 2004, antes do parque ser ampliado, o tamanho da Floresta da Tijuca, segundo registro do Plano de Manejo, era de 1.600 hectares. Isso corresponde a 40% da área total que o parque possui hoje, que é de 3.953 hectares distribuídos entre a Floresta da Tijuca, a Serra da Carioca, a Pedra Bonita/Pedra da Gávea e Pretos Forros/Covanca. Ana Cristina adianta que um dos presentes do aniversário de 150 anos de reflorestamento que o parque irá receber será uma doação de uma família carioca (que pediu para não ser identificada) de alguns hectares nas áreas limítrofes do parque. "Infelizmente não podemos revelar os doadores, mas temos certeza que essa contribuição é mais uma ação que ajuda na preservação e no crescimento da Floresta da Tijuca", diz Ana.