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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Exposição Entardecer No Ano do Coelho

Partitura, 2010 / 2011

Durante meses a fio, o artista paulista Cadu perseguiu o vento do aeroporto de Heathrow, em Londres. Contratou os serviços da estação meteorológica local e, munido das medições de sua temperatura, direção e intensidade, dia a dia, compôs 365 desenhos inspirados nos movimentos eólicos. Também criou um vídeo que retrata, em stopmotion, parte dessa coreografia.
Imagens e vídeo são parte da exposição Entardecer no ano do coelho, que Cadu inaugura nesta quarta (17 de agosto), às 19h, na galeria da Casa de Cultura Laura Alvim – espaço que ele ocupa pela primeira vez. Os trabalhos reunidos mostram um panorama recente da obra do artista radicado no Rio, que ganhou, em 2007, o prêmio-residência do International Artist Fellowship in England, e que foi artista-bolsista da Fundação Iberê Camargo em 2006.

Entardecer no ano do coelho é uma espécie de continuação de Manhã no ano do coelho, exposição que tomou a Galeria Vermelho, em São Paulo, há alguns meses. Ambas revelam a poética que Cadu tem desenvolvido nos últimos anos, em diferentes suportes, apesar de ter se formado em pintura. “Não adoto uma linguagem específica, não sou um artista que escolhe uma técnica e se aprofunda nela. Eu tenho carinho é por continuar investigando o que me parece curioso no mundo. Persigo minhas perplexidades e, como elas são muitas, só o desenho e a pintura não dão conta”, explica o artista, que diz se identificar com a obra de Cildo Meireles e Nuno Ramos.

Baralho e trem elétrica

Exemplo dessa busca terna por “perplexidades” do cotidiano está no trabalho "Ás de espadas (Flotilha)", de 2011, que dispõe 108 cartas de baralho sobre uma mesa. Dessas cartas, pulam diferentes modelos de avião, cujo formato foi recortado a laser do papel. “Tudo começou como uma alusão ao termo às de espadas, que é uma expressão de jogo, de brincadeira, que tem uma natureza infantil. Mas a verdade é que foi uma forma de dar continuidade às minhas obsessões de criança”, revela o artista.


Outra obsessão de criança deu origem à instalação sonora “Partitura” (2010/2011), na qual um trenzinho elétrico circula por um itinerário composto por copos e outros recipientes de líquidos. O impacto de hastes metálicas projetadas dos vagões em movimento produzem uma música aleatória.


Na série de desenhos a óleo sobre papel intitulada "Nantucket Island" (2010/ 2011), a referência à infância é indireta: Nantucket é a ilha de onde o navio Pequod à procura da baleia de Moby Dick.


“Eu trabalho muito com formas não usuais de empurrar os limites do desenho de paisagens. São sistemas onde a natureza é convidada a se manifestar. Já trabalhei com a luz do sol, o vento, as chuvas”, descreve Cadu, que é parceiro do inglês Tim Knowles no projeto Weather Exchange, uma rede global de artistas que usa os dados de estações meteorológicas para produzir arte – daí a série de desenhos perscrutando o vento do aeroporto de Heathrow.


Serpente no zodíaco chinês, Cadu nomeou sua mostra para aludir à força criativa do coelho, animal que rege o ano de 2011. “E o entardecer foi uma forma de dizer que é a continuação de Manhã no ano do coelho, além de ser uma referência ao local que abriga a exposição: a Casa Laura Alvim, aberta para os lindos entardeceres de Ipanema”, conta.