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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Mostra de Cinema Clint Eastwood


Um bom antídoto contra os blockbusters infantilizadores que inundam as telas nas férias é a grande retrospectiva dedicada pelo Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro  à obra de Clint Eastwood. Serão exibidos 42 longas-metragens dirigidos e/ou estrelados por ele.
Dos faroestes espaguete de Sérgio Leone dos anos 60 ao drama sensitivo Além da vida, do ano passado, é possível acompanhar o amadurecimento artístico e humano de Eastwood pelas mudanças no seu modo de encarar a morte.
Forçando um pouco a barra, podemos dizer que, na primeira parte da trajetória do ator/diretor, a morte era uma festa, um espetáculo, uma catarse, uma apoteose, quase uma epifania.
Olho por olho
Nos faroestes alheios em que Eastwood atuou, e nos primeiros que dirigiu, o assassinato do oponente era justificado pela lógica do “olho por olho, dente por dente” que predominava numa terra sem lei. Nos policiais de Don Siegel, o que legitimava o homicídio brutal era o caráter de cruzada contra o crime, de punição exemplar dos facínoras.
Essa licenciosidade homicida sustentava e condimentava o culto do herói americano com todos os seus atributos: individualista, cool, destemido, implacável, certeiro.
Pois bem. A certa altura do cinema de Eastwood, a figura desse herói monolítico começa a rachar. Seus valores tornam-se instáveis, suas certezas balançam.
A par dessa crise do herói, também a visão da morte começa a mudar, a se adensar, a ganhar peso dramático e moral.
É difícil determinar com precisão o ponto de virada desse processo. Talvez tenha sido Bird (1988), com sua escolha, como herói trágico, do grande músico negro Charlie Parker, derrotado pelas drogas, pelo racismo, pela morte da filha, por um mundo que não entendia sua arte.
Pode ser que o ponto de inflexão tenha sido Coração de caçador (1990), em que Eastwood encarnava outro de seus ídolos, o cineasta John Huston, machão como ele, mas eivado de contradições e movido por uma auto-ironia e um savoir-vivre que transcendiam qualquer maniqueísmo.
Autocrítica pungente
Mas o filme que, a meu ver, realiza cabalmente a transmutação humana e artística de Clint Eastwood é Os imperdoáveis (foto acima), o extraordinário faroeste crepuscular que ele dirigiu e estrelou em 1992. É impossível deixar de ver a história do pistoleiro aposentado que larga seu rancho e volta à ativa em troca de um punhado de dólares para vingar uma prostituta supliciada como uma pungente autocrítica do ator/diretor.
Algumas cenas são eloquentes, em particular aquela em que um jovem falastrão metido a pistoleiro entra numa crise agônica ao ser confrontado com a possibilidade real de matar um ser humano. Poucos momentos do cinema mostraram de modo tão vívido como é difícil, como é pesado, tirar a vida de uma pessoa.
A morte como fardo
Na sequência final – sangrenta, mas apocalíptica em vez de apoteótica –, o veterano Will Munny, o personagem de Eastwood, apresenta-se como alguém que matou mulheres e crianças, que matou “quase tudo o que anda ou rasteja”, como se tratasse de uma condenação, uma sina, uma maldição. É quase um fantasma surgido das trevas. Estamos longe da violência festiva e automática dos filmes dos anos 60 e 70.
Daí para a frente, multiplicam-se no cinema de Clint Eastwood os momentos em que a morte é retratada quase como um ritual às avessas, uma passagem tão dolorosa para quem a sofre como para quem a causa.
Se, nos faroestes e policiais do jovem Eastwood, a morte era uma explosão espetacular, nas obras mais maduras ela é como uma implosão, um abismo silencioso de dor e culpa, sem direito à catarse.
Chamo a atenção para apenas dois exemplos, talvez os mais belos em sua tensão quase insuportável. O primeiro é o momento de Sobre meninos e lobos (2003) em que, num cais de rio, um homem sacrifica (como numa cena bíblica) seu amigo de infância, por julgar que este violentou e matou sua filha.
O outro rito de morte, ainda mais complexo do ponto de vista moral, está no final de Menina de ouro (2004), e quem não quiser saber o desfecho do filme deve parar por aqui. Na cena em questão, movido pela compaixão mas também pela culpa, o treinador de boxe Frank Dunn (Eastwood), como um anjo da morte, esgueira-se pelas sombras de um hospital deserto para abreviar a vida infeliz de sua pupila (Hillary Swank), que jaz imobilizada numa cama.
Era quase lógico que, aos 80 anos, o passo seguinte desse artista atormentado pela morte fosse um mergulho na descabelada esperança humana de descobrir e explorar o que existe além da vida.

TERÇA, 31

14h: Sem medo da morte (The Enforcer)

de James Fargo (EUA, 1976. 97’. Cópia digital)

Terceiro filme da série Dirty Harry. Numa tentativa de abrandar o comportamento do detetive Harry Callahan, após um incidente com seu carro numa loja, o arrogante Capitão McKay o transfere da divisão de homicídios para a seção de pessoal. Harry deverá ainda aceitar uma condição para voltar às ruas: seu novo parceiro será uma parceira, Kate Moore.

15h45: Magnum 44 (Magnum Force)

de Ted Post (EUA, 1977. 124’. Cópia digital)

O detetive “Dirty” Harry Callahan reaparece para descobrir quem está por trás de uma onda de assassinatos, de alguém que está fazendo justiça com as próprias mãos ao matar os principais chefões do crime de São Francisco.

18h15: Meu nome é Coogan (Coogan’s Bluff)

de Don Siegel (EUA, 1968. 93’. Cópia em 35 mm)

Coogan é um assistente de xerife enviado a Nova York para extraditar um prisioneiro suspeito de assassinato. Ao chegar, é tratado como um caipira e informado de que o prisioneiro ainda não está pronto para o transporte. Quando sua paciência acaba, engana um dos atendentes para chegar ao prisioneiro, que se aproveita da situação para fugir. Apesar da ordem de seu chefe para retornar, Coogan resolve perseguir o prisioneiro, mesmo sem ter autoridade policial na cidade.

20h: Cadillac cor de rosa (Pink Cadillac)

de Buddy van Horn (EUA, 1989, 122’. Cópia em 35 mm)

Tommy Nowak é um experiente caçador de recompensas, um homem que consegue sempre apanhar as suas presas. Ele entra em uma aventura com uma mulher carregando um bebê e 250 mil dólares no porta-malas em um cadillac cor de rosa roubado.