“Na tentativa de
entender o comportamento social, os sociólogos se baseiam em um tipo incomum de
pensamento criativo. Um importante sociólogo, C. Wright Mills, descreve tal
pensamento como a imaginação
sociológica – uma consciência da
relação entre o indivíduo e a sociedade mais ampla. Essa consciência permite que
todos nós (não apenas os sociólogos) compreendamos as ligações existentes entre
o nosso ambiente social pessoal imediato e o mundo social impessoal que nos
circunda e que colabora para nos moldar. (...)
Um
elemento-chave da imaginação sociológica é a capacidade de uma pessoa poder ver
a sua própria sociedade como uma pessoa de fora o faria, em vez de fazê-lo
apenas da perspectiva das experiências pessoais e dos preconceitos culturais.
Tomemos como exemplo algo bem simples, os esportes. No Brasil, centenas de
milhares de pessoas de todos os níveis sociais vão semanalmnete aos estádios
torcer por seus times de futebol e gastam milhares de reais em apostas. Em Bali,
Indonésia, dezenas de espectadores se juntam ao redor de um ringue para apostar
em animais bem-treinados que participam das rinhas de galos. Em ambos os
exemplos os espectadores exaltam os méritos dos seus favoritos e apostam nos
melhores resultados das competições que são consideradas normais em uma parte do
mundo, mas pouco comuns em outra.
A imaginação
sociológica nos permite ir além das experiências e observações pessoais para
compreender temas públicos de maior amplitude. O divórcio, por exemplo, é um
fato pessoal inquestionavelmente difícil para o marido e para a esposa que se
separam. Entretanto, (...) o uso da imaginação sociológica [permite ver] o
divórcio não apenas como problema pessoal do indíviduo, mas sim como uma
preocupação da sociedade. Usando essa perspectiva, podemos notar que um aumento
da taxa de divórcio na verdade redifine uma instituição fundamental – a família.
Os lares hoje com frequência incluem padrastos, madrastas e meios-irmãos cujos
pais se divorciaram e casaram novamente.
A imaginação
sociológica é uma ferramenta que nos proporciona poder. Ela nos permite olhar
para além de uma compreensão limitada do comportamento humano, ver o mundo e as
pessoas de uma forma nova, através de uma lente mais potente que o nosso olhar
habitual. Pode ser algo tão simples como entender por que um colega de quarto
prefere música sertaneja ao hip-hop, ou essa outra forma de olhar as coisas
poderá revelar uma maneira completamente diferente de entender as outras
populações do mundo.”