No início do século XVIII, a Era Clássica entra em crise, dando origem, na Europa, ao movimento romântico cujas primeiras sementes dão-se na Inglaterra e na Alemanha, cabendo à França, posteriormente, a função de difusora desse movimento.
A Inglaterra enviava para a Escócia, devido à separação geográfica e lingüística, a literatura clássica francesa que, por sua vez, era divergente da literatura popular escocesa. Logo, percebeu-se que a literatura escocesa estava sendo deixada a segundo plano, ficando, cada vez mais, atrelada à oralidade. Esse fato causou uma revolta dos escoceses contra o movimento clássico, tendo como principal objetivo ressuscitar o prestígio das velhas lendas e canções tradicionais escocesas, conforme cita Massaud Moisés, em “A Literatura Portuguesa”, p. 113:
“(...) a Inglaterra exporta para a Escócia os produtos do Classicismo francês, em tudo contrário à literatura popular escocesa que existira até os fins do século XVI e que agora se reduzia à transmissão oral. Tudo, razões políticas e literárias, convidava a uma rebelião que visasse a instaurar o prestígio dessas velhas lendas e canções que corriam na voz do povo (...)”.
O primeiro escritor escocês a rebelar-se contra a poesia clássica foi Allan Ramsay quando, em 1724, publica uma antologia de velhos poemas escoceses: “The Evergreen”, seguida de outra coletânea, “The Teatable Miscellany”, também de velhas canções e, já com base no sentimento da natureza, publica, em 1725, “The Gentle”. Este exemplo não ficou sem eco, pois surgiram vários escritores escoceses e ingleses envoltos pela “escola do sentimento” contra a “escola da razão” e é importante citar os nomes de: James Thomson (1700-1748), autor de “The Seasons” (1726-1730); Edward Young (1683-1745), autor de “The Complaint, or Night Thoughts on Life”, “Death and Immortality” (1742-1745), dando início à poesia funérea; outro nome importante é o de Samuel Richardson (1689-1761), que é considerado o precursor do romance, juntamente com Pamela (1740-1741), Clarrisa Harlowe (1747-1748) e Sir Charles Grandison (1753-1754).
Em 1760, o escritor escocês James Macpherson (1736-1796) começou a publicar a tradução em prosa dos poemas escritos por Ossian, um velho bardo escocês do século II d. C.; e, o sucesso imediato motivou-o a continuar com o cumprimento da tarefa de fazer conhecida uma tão rica e original tradição poética, segundo Massaud Moisés, em “A Literatura Portuguesa”, p. 114:
“(...) a impressão causada foi a de espanto e surpresa, e logo alguns trechos foram traduzidos para outras línguas, sobretudo os referentes a” “Fingal” e “Temora”. Embora aguardassem vinte ou mais anos para ser inteiramente traduzidas, as baladas e canções de Ossian se beneficiaram em pouco tempo de generalizado aplauso em toda a Europa culta do tempo. Em meio ao unânime elogio, ouviam-se raras vozes discordantes: não poucos elevaram o bardo gaélico ao nível de Homero e Virgílio, quando não acima (...)”.
Com tanto sucesso, o Ossianismo tornou-se uma forte corrente literária cuja influência não deixou nenhum país europeu imune e, quando descobriu-se que tudo não passava de uma mistificação, visto que o autor dos poemas era Macpherson; porém, era já suficientemente tarde para que houvesse um impedimento da difusão do Ossianismo, cuja profunda e benéfica influência, causou inspiração a tantos outros escritores através da simplicidade lexical e sintática, da melodia natural e espontânea das frases utilizadas, bem como um acentuado primitivismo no sentimento da natureza, da guerra e do amor. Com isso, é aberta a senda para a instalação e consolidação do movimento romântico na Inglaterra e na Europa, assim, nos próximos anos houve o aparecimento de vários poetas cujas obras refletiam seus sentimentos, seus transes interiores; citam-se os nomes de: Thomas Gray, Robert Burns, Samuel Taylor Coleridge, Wordsworth, Southey, Byron e Shelley.
Neste contexto, na Alemanha assim como na Escócia, a literatura estava sob influência francesa, bem como os costumes vigentes como retrata em “A Literatura Portuguesa”, p. 114, Massaud Moisés:
“No primeiro quartel do século XVIII, a literatura alemã vive sob influência do rococó francês, última floração do barroco decadente. O afrancesamento manifesta-se ainda no culto das boas maneiras e das modas parisienses”.
Em meio a este clima, desponta o movimento alemão chamado Aufklärung (“filosofia das luzes”), sob a influência do cartesianismo, da ciência de Newton e da filosofia de Locke.
O Aufklärung pregava o uso da razão como condição básica para a reforma e transformação do mundo e da sociedade, porém, devido a seu caráter predominantemente estrangeiro, o movimento não obteve grande êxito; entretanto, deve-se ressaltar que houve um sintoma de renascença alemã após todo um período de transição e conflitos entre espiritualismo e materialismo como foi marcada a Era Clássica.
É importante citar que a influência francesa não desapareceu de repente na Alemanha; contudo, a mesma soma-se à influência das novas correntes literárias inglesas que, após o Aufklärung alemão, passaram a ser exaltadas na Alemanha. Nesse contexto, Lessing, através da “Dramaturgia de Hamburgo”, exalta Shakespeare, declarando-se contra o clássico francês. Com Laocoonte, há uma ruptura do passado de estrangeirismos inseridos à cultura alemã, o que continuou sendo desenvolvido pelos jovens pertencentes ao movimento “Sturm und Drang” (Tempestade e ímpeto).
Goethe, que em 1770 encontra-se com Herder em Estrasburgo, junta-se a ele e a outros escritores para que montassem uma aliança de combate às regras e à separação de gêneros vigentes na escola clássica; além de visarem a um retorno à poesia livre, irracional, de cunho melancólico, sentimental, isto é, anti-Aufklärung.
Com o movimento anti-Aufklärung começando a apagar-se, Goethe publica, em 1774, “Werther”, obra que representa o símbolo acabado dos males da imaginação, levando ao suicídio, ato que teve grande sucesso na Europa da época.
Em 1781, Schiller publica “Os Salteadores”, peça histórica que inaugura o gênero na Alemanha e, assim, o rótulo “Sturm und Drang” é retirado duma peça de igual título feita por Klinger, publicada em 1776, dando início ao Romantismo na Alemanha.