Feminista à frente do seu tempo, Karen Horney estudou psicanálise freudiana em Berlim. Descrevia seu trabalho como sendo uma extensão do sistema de Freud e não como uma tentativa de suplantá-lo
Karen Horney nasceu em Hamburgo, na Alemanha. O pai era capitão de um navio, homem religioso e taciturno, muito mais velho que a esposa, mulher ativa e liberal. Ela deixava muito claro a Karen que desejava a morte do marido e que se casara apenas por medo de permanecer solteira. Rejeitava a filha e demonstrava nitidamente a preferência pelo filho mais velho, de quem Karen sentia muita inveja simplesmente por ser menino, e o pai a menosprezava por causa da sua aparência e inteligência. Consequentemente, ela se sentia inferior, inútil e hostilizada (Sayers, 1991). Essa falta de amor por parte dos pais provocou o surgimento, mais tarde, do que ela chamou de *ansiedade básica, outro exemplo da influência da experiência pessoal na visão do teórico. Um biógrafo comentou: "Em todos os trabalhos psicanalíticos de Karen Horney era visível a sua luta para encontrar o sentido da própria existência e para superar as dificuldades" (Paris, 1994, p. xxii).
Precocemente, já aos 14 anos, Horney teve várias paixões de adolescente na busca frenética do amor e da aceitação que não encontrava em casa. Criou um jornal que chamava de "órgão virginal para supervirgens" e andava pelas ruas frequentadas por prostitutas. Em seu diário escreveu: "Na minha imaginação não há sequer uma parte de mim que não tenha sido beijada por uma boca ardente. Na minha imaginação não existe depravação do mais baixo nível que eu não tenha experimentado" (Horney, 1980, p. 64).
Contra a vontade do pai, Horney ingressou na escola de medicina da University of Berlin, recebendo, em 1913, o título de Doutora em Medicina. Casou-se, teve três filhas (duas das quais se submeteram a análise de Melaine Klein) e começou a sofrer de profunda depressão. Ela afirmava sentir-se muito tempo infeliz e oprimida e passar por dificuldades no casamento. Apresentava sintomas como crises de choro, dores de estômago, cansaço crônico, comportamento compulsivo e incapacidade para trabalhar, além de pensamentos de suicídio. Depois de manter vários casos, divorciou-se para continuar a busca incansável pela aceitação pelo resto da vida. Seu relacionamento mais duradouro foi com o psicanalista Eric Fromm e, quando a realção terminou, ela ficou arrasada. Resolveu submeter-se à psicanálise para tratar da depressão e dos problemas sexuais. Seu analista freudiano disse-lhe que a busca por amor e a atração por homens mais fortes refletiam paixões edipianas que da infância pelo pai severo (Seyers, 1991).
Quando Horney percebeu que a análise freudiana não estava ajudando, passou para a auto-análise, prática que adotou pelo resto da vida. Impressionada com a observação de Adler sobre a falta de atrativos físicos como causa dos sentimentos de inferioridade, concluiu que, estudando medicina e adotando uma vida sexual promíscua, estava agindo mais como homem que como mulher. Essa atitude a ajudava a sentir-se superior, mas, mesmo assim, nunca desistiu de encontrar o amor.
De 1914 a 1918, Horney estudou psicanálise ortodoxa no Berlin Psychoanalytic Institute. Mais tarde, tornou-se professora do instituto e começou a atender pacientes particulares. Escrevia artigos de revista abordando os problemas da personalidade feminina, descrevendo alguns pontos discordantes em relação a conceitos de Freud. Em 1932, seguiu para os Estados Unidos para ser diretora adjunta do Chicago Institute for Psychoanalysis. Lecionou também no New York Psychoanalitic Institute e continuou a atender seus pacientes. O crescente descontentamento com a teoria freudiana logo a levou ao rompimento com o grupo. Fundou o American Institute of Psychoanalysis e ali permaneceu como diretora até a morte.
*Ansiedade básica: definição de Horney para a solidão invasiva e a impotência, sentimentos que dão origem a neurose.