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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Os 18 do Forte de Copacabana


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O aprimoramento profissional da oficialidade do Exército, decorrente do surto de modernização que empolgou a Força Terrestre pós-Império, gerou, como subproduto, a politização das classes armadas, em especial a dos jovens oficiais. Começou a se corporificar no seio dos tenentes e capitães consciência revolucionária resistente à utilização do Exército como massa de manobra dos velhos políticos da “República do Café com Leite”. 
      
A vitória contumaz do candidato situacionista, fruto da "eleição a bico de pena" e dos "currais eleitorais" - o voto não era secreto - envolvia os pleitos em aura de suspeição, abalando, em muito, a credibilidade e a representatividade dos eleitos.

A oposição ao Presidente Epitácio Pessoa recrudescera em virtude da punição aplicada ao Marechal Hermes da Fonseca: ex-presidente da República, ex-Ministro da Guerra e presidente do Clube Militar. O fechamento deste pelo Governo, aliado ao célebre episódio das “Cartas Falsas” - que teriam sido escritas pelo canditado à presidência Arthur Bernardes e endereçadas ao político mineiro e Ministro da Marinha, Dr. Raul Soares - publicadas na imprensa, desgastou a classe política perante o Exército e fez transbordar o copo da paciência tenentista.
Em 5 de julho de 1922, irrompe a Revolução. Não obstante a intensa articulação, o levante restringe-se às guarnições do Rio de Janeiro e de Mato Grosso. 
Os18Forte
No então Distrito Federal, os alunos da Escola Militar do Realengo seriam fácil e rapidamente derrotados pelas tropas aquarteladas na Vila Militar. Mas foi no Forte de Copacabana que a Revolução expôs sua natureza mística: na madrugada de 5 de julho, eclodiu uma rebelião de jovens oficiais, que, sob o comando do Capitão Euclides Hermes da Fonseca, dominou o Forte, enfrentando resistência das forças legalistas. O combate continuou na rua e os 17 militares que saíram do Forte receberam o apoio do civil Octávio Corrêa. Cada um com um pedaço da Bandeira Nacional junto ao coração, marcharam de peito aberto para enfrentar as forças legalistas. A luta foi desigual e terminou com a morte de praticamente todos os revoltosos.

Como resultado, foi decretado estado de sítio no país, mantido durante quase todo o governo Epitácio Pessoa. Esse gesto representou o supremo sacrifício de um punhado de jovens pelo mais puro ideal de regeneração da Pátria. Entre os “Dezoito do Forte” estavam os Tenentes Antônio de Siqueira Campos e Eduardo Gomes que sobreviveram à imolação de seus companheiros.
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O episódio dos "Dezoito do Forte" eterniza o movimento tenentista brasileiro.
“Os dezoito do forte”

Elles eram dezoito... Os mais partiram 
Tanto que a causa, enfim, viram perdida. 
Elles – dezoito apenas – preferiram 
Ficar, quando ficar custava a vida... 

Poetas e heroes, à hora derradeira, 
Como uma só mortalha ter quiserem. 

Tomaram, soluçando, da bandeira 
E em dezoito pedaços a fizeram... 

Elles dormem agora: e, ao longe, sobre aquelles 
Que os venceram, no forte, adeja outra bandeira 
Porque aquella que os viu, a hora derradeira. 
Lutar, morrer por ella, essa morreu com Elles... 

(Reminiscencias da epopéa de Copacabana) 
Trechos do poema publicado no Jornal “Correio da Manhã” em setembro de 1923.
Autor desconhecido.

Textos encontrados nos pedaços da bandeira do Brasil:

"Aos meus pais e meus irmãos e a memória dos 28 companheiros e daquela que não posso dizer." Siqueira Campos

"Forte de Copacabana, 7 de julho de 1922. Aos queridos pais offereço um pedaço da nossa bandeira em defesa da qual resolvi dar o que podia, minha vida." Mario Carpenter