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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Artigos: Homosexualidade Adolescente


 O verbo adolescere vem do latim que significa crescer. A adolescência, geralmente, começa entre 12/13 anos para as meninas, 13/14 anos para os meninos, e termina por volta dos 20 anos (Comte-Sponville, 2009). Esse período da vida chamado adolescência é, para algun1s autores, uma invenção do século XX. O adolescente não é mais criança que obedece, ordeiramente, as recomendações e as orientações dos pais, e nem é adulto autônomo dono do seu próprio “nariz”. A criança segue seus pais sem questioná-los, também mostrar ou não descontentamento parece não adiantar, porque é obrigada a acatar o que seus genitores consideram justo, moral e necessário.
Na medida em que, para a criança, seguir indiscriminadamente os pais, algumas vezes, possa ser constrangedor, por outro lado é seguro porque já recebe tudo pronto, e não é responsável pelas consequências dos seus atos, isso porque, são seus pais que responderão pelo seu comportamento. Os pais autoritários não se permitem ouvir o filho, mas apenas que o mesmo siga suas diretrizes, do contrário, os pais democráticos, ouvem a criança e tentam, dentro dos seus limites, atendê-la da melhor maneira possível. O adolescente, por vezes, conhecido como “rebelde sem causa”, na verdade, questiona as determinações que recebe em casa e na escola, avalia as informações obtidas na mídia e o que observa na rua, e essas quanto mais contrastantes, mais angustiantes são as conclusões para o jovem elaborar.
A adolescência consiste num rito de passagem entre o universo infantojuvenil e a vida adulta, de um ser que ainda não está pronto para assumir as responsabilidades pelos seus atos. Sem dúvida, essa é a idade dos contrates, das contradições, dos conflitos (inclusive internos), dos dilemas a enfrentar, das decisões a tomar, tudo isso misturado mum ser imaturo que passa por um processo rápido de crescimento (Winnicott, 1968; Biddulph, 2002; Comte-Sponville, 2009).
As preocupações do adolescente são inúmeras, vão desde a escolha profissional, a procura do que fazer num futuro próximo, sua identificação vocacional numa sociedade em transformações, e está exposto a uma sobre carga de estímulos, a exemplo das drogas, e de informações. Tudo isso, sob a tutela de pais que, por sua vez, também estão à mercê doUnsicherheit (termo alemão para significar incerteza, insegurança e falta de garantia), do mundo líquido de que fala Bauman (2000), cujos parâmetros foram rompidos, e hoje quase nada é estável e exige um considerável esforço de adaptação.
O adolescente vivencia o pleno desabrochar da sua condição física e hormonal que refletem em mudanças como barba, voz etc., que caracterizam o adulto, porém, ainda no comando de uma mentalidade tracejada de características infantis. O novo desperta ansiedade, assim, o moço poderá se sentir amedrontado, inseguro diante do portal adulto que, inevitavelmente, vai ter que adentrá-lo. Como ressalta Comte-Sponville (2009, p.38), “a adolescência, um mistério e uma promessa. Mas só será possível cumpri-la mais tarde”.
Nos grupos primitivos o ritual de passagem da adolescência para a vida adulta é bem nítido e, por vezes, agressivo. No Brasil os índios saterés-maués orgulham-se do ritual da tucandeira, autêntico rito de iniciação dos jovens da tribo. Como prova de virilidade, colocam a mão numa luva de palha recheada de formigas negras (as tucandeiras), 20 vezes, pelo menos três horas, antes de serem admitidos entre os homens adultos (Trevisan citado por Silva, 1999). Entre os cerimoniais de iniciação, os mais longos (etapas que duram de cinco a quinze anos) e exigentes estão o dos Sambia, da Nova Guiné: os meninos são chicoteados com urtiga até liberar pelo nariz os líquidos femininos. Além disso, praticam a felação e copulam com jovens celibatários, isto é, que não foram contaminados pelas mulheres. Acreditam que é por meio do esperma que se transmite a identidade masculina e a competência viril (Badinter citada por Silva, 2010).
Mas, apesar desse aspecto agressivo e estranho para a cultura urbana e ocidental, esses rituais trazem segurança pela objetividade e definição que explicitam. Uma vez que, o adolescente supere a tortura, vença os medos e os obstáculos, imediatamente é considerado adulto, assim o tratam, e desse modo é acolhido pela comunidade. Certamente, deve ser desoladora a situação do adolescente que não consegue atender a essa demanda de construção da identidade masculina, quando não demonstra, nesse momento preciso, essa competência, ou seja, não confirma que é macho e nem é suficientemente adulto segundo as referências do seu povo.
Na sociedade contemporânea, a passagem do adolescente para a vida adulta é pouco delineada ou visível, isso torna mais complicada a aquisição dessa identidade porque não são claros ou inexistem sinais desses rituais. Seria o vestibular o marco mais distinto que pode se levar em consideração que o adolescente já está preste a se tornar adulto? Ou, em particular, no caso dos rapazes, sua entrada para um dos segmentos das forças armadas? O fato é que não existem marcas bem definidas que pontuem essa passagem, e isso exige muito mais do adolescente porque tem de buscar dentro de si recursos para enfrentar essa realidade, ou seja, é obrigado a, praticamente sozinho, construir a estrada na qual fará seu próprio percurso.
Segundo Ferrari (1996) e Clerget (2004), o adolescente é um ser doloroso, em cujo cerne da existência está à ameaça permanente da depressão. Mas, será que não é possível adolescer sem tanta complicação, de uma maneira amena? A adolescência é vivida, comumente, com bastantes conflitos, com pressões de ordem interna quanto externa, objetiva ou subjetiva, assim, também entra nesse rol a questão da sexualidade. Isso, certamente, se acentua quando se trata da sexualidade dita desviante, porque diverge da maioria, portanto, se torna bem mais inquietante ou angustiante adolescer com esse tipo de orientação sexual.
Quando o adolescente manifesta comportamento sexual voltado para heterossexualidade, é mais um motivo facilitador para sua entrada no mundo adulto, os pais ficam orgulhosos, isso parece atestar que, pelos menos, no campo da sexualidade “acertaram na educação”. Tem a quase certeza da perpetuação do nome da família por meio dos futuros netos que virão a encher sua casa de alegria. Porém, se o adolescente não sinaliza seu desejo sexual dentro do esperado, isto é, atração pelo sexo oposto, como a família reage? Quando se tem um filho anormal, isso parece dizer que os pais estão sós, porque por meio dele não se sentem reconhecidos como humanos, e passam a ser vigiados, assim, mais do que os outros pais, são instigados a demonstrarem uma imagem suportável (Mannoni, 1999).
No caso do filho gay a situação parece bem mais delicada do que a criança com alguma dificuldade genética ou característica especial, porque os pais de gay, a priori, sentem-se envergonhados, se culpam por um suposto erro ou falta de “pulso forte” para que o filho não tivesse desviado da heterossexualidade. Em razão disso, tem-se notícia de mães1 que tentaram suicídio a partir da descoberta de que seus filhos são gays. Pode-se dizer que, para esses pais, a ferida narcísica é bem maior e, portanto, mais subjetivamente profunda. Nem sempre a família, quando toma conhecimento do fato, tem ou desenvolve a capacidade de resiliência. Isto é, a habilidade de superar adversidades, embora não signifique que possa sair ileso da situação, como implica a expressão invulnerabilidade (Zimmerman & Arunkumar, 1994).
O termo “resiliência” foi tomado de empréstimo da física, se denomina a energia de deformação máxima que um material é capaz de armazenar sem sofrer deformações permanentes (Silva Jr. citado por Yunes & Szymanski, 2002). Em medicina, por exemplo, resiliência seria a capacidade do indivíduo resistir a uma doença ou infecção, por si próprio ou com a ajuda dos medicamentos (Tavares, 2002). Na psicologia, “a resiliência é um processo constantemente possível, uma condição de que a pessoa em curso de desenvolvimento encontre um objeto significante para ela” (Cyrulnik, 2003, p.85).
O adolescente que se descobre com tendência homossexual ou gay, se sente desamparado, em decorrência da intolerância social e falta do apoio familiar, esse sentimento poderá ser potencializado e causar-lhe danos psicológicos, autoestina comprometida, baixo rendimento escolar e outros. Em virtude de que, não constitui uma tarefa fácil renunciar a uma representação de si com qualidades extraordinárias e promessas grandiosas que, durante anos, lhe serviram de modelo (NOLASCO, 1986). Portanto, se faz necessário que a família desenvolva capacidades de resiliência para ser o esteio emocional do adolescente na formação dessa sua identidade sexual.
O entender de Bobbio (2002), uma situação de tolerância existe quando um tolera o outro, isso nasce de um acordo e dura enquanto perdurar o acordo. A intolerância à sexualidade divergente, ainda nos dias de hoje, é muito forte. Adam et al. (citado por BOZON, 2004) ressaltam que o fim das discriminações legais é bem menor do que as reais em seleção para emprego, local de trabalho, e que os homossexuais jovens experimentam mais depressões e tentativas de suicídio.
O texto biográfico Adolescência Gay, do adolescente J. G., acessado no site PortugalGay.pt, ilustra o drama do adolescente gay diante da família e da sociedade, da sua necessidade de ser aceito pelos pais e, em especial, pelos amigos e a sociedade em geral. Esse autor que não especifica sua idade, também explicita a dificuldade do jovem homossexual viver e vivenciar sua sexualidade como qualquer outro adolescente ou cidadão. Com base na Análise do Discurso (Bardin, 1977), que busca compreender as falas do indivíduo além da linguagem verbal, ou seja, as incoerências e as incongruências que estão subjacentes nas entre linhas do seu discurso, o citado texto, a seguir, será analisado:
A noção da adolescência como uma fase marcadamente de crise, parece ser unânime entre os teóricos, e o adolescente em foco confirma esse fenômeno quando diz:
“A adolescência é difícil de 'passar' sem crises e sem medos [...].”(J. G.).
A intolerância à diversidade sexual leva o adolescente, por medo de ficar sozinho, a ocultar sua condição homossexual, uma vez que a solidão é sentida como algo mortífero. Porém, todo esforço de negação de si mesmo para atender a expectativa do outro e ser aceito termina, exatamente, num estado emocional mais crítico do qual fugia ou evitava, ou seja, com a sensação de “estar só no meio de tanta gente”. Posto que, na realidade, não passa de um desconhecido que todos julgam conhecê-lo. O adolescente deixa claro, como sendo mais importante a sua aceitação pelos amigos, seguida da aceitação da família:
“O medo de ficar sozinho no meio da adolescência é terrível, o medo de abandonarem-nos é mortífero. É o 'peso' dos amigos e da família que está em causa e é a presumível perda destes que nos faz mentir e ocultar a verdade acerca de nós. Mostramos tudo o que os outros gostam de ver, mas não mostramos quem realmente somos ou queremos ser. Temos que manter aparências para ficar ou aderir a um grupo de amigos, temos que abdicar dos sonhos, das ilusões e acabamos sempre por cair na mais terrível das sensações que é estar só no meio de tanta gente que até pensam saber tudo de nós” (J. G.).
A expressão pública dos afetos entre pessoas de sexo diferente, dentro dos limites socialmente aceitos é até estimulada, por ser vista como romântica, mas a manifestação de afeto de casal homossexual é totalmente interditada. Assim, mesmo sem desejar, mas por conta dessa proibição, não tem alternativa para o jovem gay que não seja a do sexo puro, genital, praticado no silêncio perigoso da clandestinidade:
“Temos sentimentos que tentamos apagar, entramos em relações que só nos fazem mal e passamos a pensar que a homossexualidade só pode ser vivida em silêncio e em encontros amorosos para assim saciar o desejo (sexo por sexo)” (J. G.).
O jovem chama a atenção para a insignificância da vida, como se essa consciência tornasse as pessoas tolerantes à sexualidade tida como desviante. Mas acredita que, mesmo em meio a tantas coisas ruins ou opressoras, pode se destacar. Seria profissionalmente? A chance de existirem extraterrestres, supostamente mais evoluídos, sugere a perseguição à homossexualidade com algo mesquinho, menor. O adolescente faz uma analogia da homossexualidade com a natureza, assim como, comparado com o universo, o mundo “é insignificante, não vale nada”, mas “não desiste de girar em volta de quem 'ama' (sol)”, o homossexual não deve desistir de buscar a “luz”, a aceitação dos amigos, pais e outros do universo heterossexual, representação de um poder social maior:
“Temos que pensar que a vida é uma merda, e nós não somos nada, somos sim um minúsculo grão de areia numa praia de enorme extensão, mas podemos destacarmo-nos da merda que nos rodeia. O universo é indimensionável, ninguém pode afirmar que não existe extraterrestres, o nosso mundo comparado com o universo é insignificante, não vale nada e mesmo assim ele não desiste de girar em volta de quem 'ama' (sol)” (J. G.).
Há uma queixa como um misto de resignação sobre a falta de liberdade de expressão, não relaxam e nem aproveitam o que a vida oferece, quer dizer, diferente dos adolescentes heterossexuais enamorados, não podem manifestar afeto em qualquer lugar. Diante de prováveis protestos que, certamente, acabariam estéreis, se fecham num sentimento de menosvalia. Até porque, preocupados em não revelar sua verdadeira identidade, não conseguem se desvencilhar do olhar discriminador do outro (sociedade, vizinho, amigos). Desse modo, restam-lhes apenas o silêncio, a dissimulação e a angústia do esconderijo:
“Se sairmos à noite numa noite estrelada contemplamos uma bela noite, mas não pensamos quantos 'nadas' como a terra existe a girar à volta da sua estrela. Em nós quase que não vale a pena falarmos porque somos mais pequenos e mais insignificantes. E estamos nós a preocuparmo-nos com a sociedade, com o vizinho, com os amigos???” (J. G.).
De repente, esse adolescente parece tomado por um rompante desejo de ficar livre dessa opressão implícita ou manifesta do meio social, tendo como leitmotiv dessa libertação a legitimação da vida dos dominantes também como insignificantes, por conta disso, não teriam autoridade moral para reprimi-lo:
“Que se lixem toda essa gente porque a vida deles também é insignificante” (J. G.).
O adolescente reivindica tolerância, nesse sentido, Dimenstein (2009, p.41) diz: “a tolerância é, antes de tudo, uma atitude ativa fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro”. Depois de reconhecer a insignificância da vida do outro, o adolescente parece catalisar forças para fazer jus ao seu direito de vivenciar a homossexualidade, avalizada na sua condição de Humano. Com base nesse princípio “não há que ter medo”. Agora, o adolescente, contraditoriamente, transfere para si a autoria da repressão, nega que nesta realidade social exista homofobia, razão pela qual não faz sentido “ter medo de ficar sozinho porque isso nunca acontecerá”. Enfim, atribui esse medo a algo que “só acontece nas cabeças de adolescentes”, portanto, uma produção fantasiosa. Esse fato parece explicitar o fenômeno da identificação com o agressor. Anna Freud (citada por Laplanche & Pontalis, 2004, p.230), “vê em ação a identificação com o agressor em contextos variados (agressão física, crítica etc.) e a identificação pode intervir antes ou depois da agressão temida. O comportamento observado é o resultado de uma inversão de papéis: o agredido faz-se agressor”. Em outras palavras, a vítima, sem perceber, passa a se autoinfligir aquilo que o outro lhe infligia:
“Nós temos direito à vida, temos direitos, somos Humanos e não há que ter medo de ficar sozinho porque isso nunca acontecerá, só acontece nas cabeças de adolescentes.” (J. G.).
No entanto, esse adolescente acredita que alguns jovens homossexuais podem dá uma resposta diferente a essa não aceitação social, em relação a qual não está de acordo:
“Há quem tente fugir a esta regra e demonstra que é diferente pela irreverência (no meu ponto de vista não é a melhor forma)” (J. G.).
A repressão, a não aceitação social e da família fazem os adolescentes homossexuais se sentirem anormais (“aberrações”), de acordo com os indicativos que a sociedade, em geral, assim considera. Os jovens sofrem de crises nas quais, sem ajuda, passam a se verem como doentes. Como se a homossexualidade fosse uma opção, acham que decepcionaram os outros, em particular, os pais. Numa carta dirigida a uma mãe americana preocupada com a homossexualidade de seu filho, Freud (citado por Roudinesco, 2003, p.184) diz: “é uma grande injustiça perseguir a homossexualidade como um crime, e também uma crueldade”. Enfim, sentem-se criminosos por crimes que não cometeram, introjetam sentimentos de menosvalia e lançam mão do ódio social da homossexualidade contra si mesmos, por meio do ideário suicida e, por vezes, chegam as vias de fato:
“Temos graves crises existenciais e por vezes vamos à loucura do abismo. Nas crises não queremos ver ninguém, deixamos de gostar de viver e passamos a odiarmo-nos por sermos assim, é horrível e muito difícil superar uma crise sozinho sem ajuda. Pensamos em nós matar porque somos 'aberrações', inúteis, motivo de desgosto, etc... e alguns passam mesmo da teoria a prática e colocam termo a uma vida que lhes aparece a incriminá-los sem estes terem cometido um crime” (J. G.).
Apesar de ocultar sua sexualidade, da solidão, do sentimento de inutilidade e outros, esse adolescente considera seu país Liberal, e que o mesmo “precisa só de um empurrão para que nós (jovens homossexuais) tenhamos uma vida como a dos outros” (acréscimo e grifo nossos). Se “Portugal é um país Liberal”, então por que precisaria do tal empurrão? Aqui, o adolescente explicita um desejo, certamente pouco provável de se concretizar, espera que a aceitação da sua homossexualidade comece pelo do grupo de pares, coloca toda responsabilidade por essa mudança a cargo dos amigos heterossexuais, tidos como “jovens abertos à causa Gay”. Essa aceitação, na sua cabeça, ira provocar mudança na mentalidade dos demais, pais, avôs etc., que passariam, a partir disso, a aceitá-los:
“Portugal é um país Liberal e precisa só de um empurrão para que nós tenhamos uma vida como a dos outros... e se vermos bem os jovens aceitam bem a homossexualidade e eles são os nossos amigos (por isso se eles souberem ajudam) com eles modificamos o resto da população que são os pais e os avôs destes jovens abertos à causa Gay” (J. G.).
As falas do adolescente gay J. G. explicita e implícita todo um sofrimento e dúvidas de não poder revelar sua condição sexual, de ter que ocultar dos amigos, por receio de não ser aceito. A intolerância à homossexualidade funciona como um desvalor, uma insignificância que, por vezes, provoca crises tão profundas que o remete ao ideário suicida. Sem o apoio do grupo de pares o adolescente parece pouco resiliente para se aceitar quanto homossexual e para enfrentar o preconceito ou discriminação da sociedade.
O apoio dos pais é fundamental, como ressalta Cyrulnik (2003, p.101), ”uma criança impregnada por uma vinculação (65%) possui uma melhor prognóstico de desenvolvimento e uma melhor resiliência [...].” Esse adolescente coloca muita significância ou peso, na sua aceitação pelos colegas heterossexuais. Ou seja, aonde vislumbra apoio, seria mais improvável de recebê-lo, pois se trata de adolescentes que, não vivenciam essa questão sexual angustiante, mas não deixam de, certamente, apresentar características inerentes a essa fase: dúvidas, medos, indecisões e outros. Embora careça de ajuda nas suas crises, J. G. as suporta sozinho, isso já demonstra certo nível de resiliência. Porém, não se sabe até que ponto capaz de conter um gesto suicida, daí a relevância do apoio da família e/ou ajuda profissional.
Uma vez que, o simples fato de compreender o mundo mental das crianças melhora a relação e passa a ser um fator de resiliência (Cyrulnik, 2003). O apoio dos pais, bem como seu próprio fortalecimento da capacidade de resiliência para a elaboração desse luto (se espera do sujeito masculino que tenha desejo pelo sexo oposto), e o enfrentamento da intolerância e da homofobia tão presente no social, parece fundamental. Nesse sentido, uma mudança, mesmo que ainda incipiente, começa despontar, em países a exemplo do Brasil e dos Estados Unidos, mães organizam passeatas para apoiarem a liberdade de expressão dos seus filhos gays.

Nota:

  1. Pelo menos dois casos de mães que tentaram o suicídio foram relatados recentemente para o Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), uma organização não governamental fundada por Edith Modesto (2012), criada para acolher pais que têm filhos homossexuais.

Referências

Bardin, L. (1977). Análise do conteúdo. Lisboa: Edições 70.
Bauman, Z. (2000). Em busca da política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
Biddulph, S. (2002). Criando meninos. São Paulo: Fundamento.
Bobbio, N. (2002). Elogio da serenidade e outros escritos morais. São Paulo: Editora UNESP.
Bozon, M. (2004).   Sociologia da sexualidade. Rio de Janeiro: Editora FGV.   
Clerget, S. (2004).  Adolescência: a crise necessária. Rio de Janeiro: Rocco.
Comte-Sponville, A. (2009). A vida humana. (2a tiragem). São Paulo: Martins Fontes.
Cyrulnik, B. (2003). Resiliência: essa inaudita capacidade de construção humana. Lisboa: Instituto Piaget.
Dimenstein, G. (2009). O cidadão de papel: a infância, a adolescência e os Direitos Humanos no Brasil. São Paulo: Ática.
Ferrari, A, B. (1996). Adolescência: o segundo desafio. São Paulo: Casa do Psicólogo.
J. G. (2012). Adolescência Gay. Disponível em: http://portugalgay.org/ (03/06/2012).
Laplanche & Pontalis. (2004).  Vocabulário da psicanálise. (4a edição). São Paulo: Martins Fontes.
Mannoni, M. (1999). A criança retardada e mãe. (5a edição). São Paulo: Martins Fontes.
Modesto, E. (2012). In Mães participam de caminhada contra a homofobia em SP/ Agência Brasil. (13/05/2012).
Nolasco, S. (Org.). (1995). A desconstrução do masculino. Rio de Janeiro: Rocco.
Roudinesco, E. ( 2003). A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
Silva, V. G. (1999). Faca de dois gumes: percepções da bissexualidade masculina em João Pessoa. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. (mimeo.).
______. (2010). Nuances dos testes psicológicos e algumas inquietações pós-modernas. João Pessoa: Ideia.
Tavares, J. (Org.). (2002). Resiliência e educação. (3a edição). São Paulo: Cortez.
Winnicott, D. W. (1968). “A imaturidade do adolescente”. In Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes.
Yunes, M. A. M., & Szymanski, H. (2002). Resiliência: noção, conceitos afins e considerações críticas. In Tavares, J. (Org.). Resiliência e educação. (3a edição). São Paulo: Cortez.
Zimmerman, M. A.,  &  Arunkumar, R. (1994). Resiliency research: implications for schools and policy. Social Policy Report: Society for Research in Child Development, VII. 4.