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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Retrospectiva de Lygia Clark



Uma das artistas brasileiras de mais difícil classificação no século XX, Lygia Clark (1920-1988) trabalhou desde esculturas até pinturas e proposições interativas com o público. A variedade de sua obra é celebrada agora na exposição Lygia Clark: Uma Retrospectiva, com 145 de seus trabalhos  expostos no Itaú Cultural do dia 1 de setembro até 11 de novembro.
Num país em que parte importante do seu acervo artístico está fraturado por coleções privadas, retrospectivas como essa são talvez a única oportunidade de observar a evolução da obra de artistas nacionais de porte.
O conjunto mostra a forma coerente pela qual o trabalho de Lygia se desenvolveu, numa abordagem cada vez mais completa dos sentidos e num envolvimento crescente do público. Logo no primeiro dos três andares pelos quais as obras estão dispostas no Itaú Cultural, estará  “A Casa É O Corpo”, instalação de oito metros que convida os visitantes a percorrê-la. O percurso foi montado pela primeira vez no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro em 1968, e remete às experiências da penetração, ovulação, germinação e nascimento.
No mesmo andar, pinturas das décadas de 1940 e 1950, no começo da carreira da artista, prenunciam os caminhos que iria tomar. “É um trabalho que lida com uma função óptica muito precisa. As imagens saltam aos olhos do expectador”, avalia Felipe Scovino, que divide a curadoria com Paulo Sergio Duarte. Para ele, a série “Bichos” (1960), uma das importantes da carreira da artista, é um desdobramento deste trabalho. Ele afirma que a série estaria obrigatoriamente em qualquer livro de história da arte – se esta “deixasse de ser eurocêntrica”.
Feitas de alumínio com dobradiças que compõem seus “corpos”, as esculturas dos Bichos inovaram ao convidarem o público a manuseá-las e remodelá-las. A obra fez de Lygia Clark uma pioneira da arte participativa e lhe rendeu o prêmio de melhor escultura nacional na VI Bienal de São Paulo. Na exposição, estarão presentes tanto originais quanto réplicas à disposição dos visitantes.
Dos cadernos de anotações
Estarão presentes também obras concretizadas pela primeira vez, feitas com base em anotações da artista. Com os dados que os curadores obtiveram com exclusividade junto à família de Lygia, foram trazidas à tona obras como as maquetes de Construa Você Mesmo e Casa do Poeta. Os trabalhos também estão no Museu Virtual, que as posiciona em pontos de um percurso fictício através do Parque do Ibirapuera.
Outra obra recém concretizada, chamada O Homem no Centro dos Acontecimentos, estará numa pequena sala em que projeções serão feitas em suas quatro paredes. Os vídeos exibem quatro pontos de vista obtidos com quatro câmeras fixadas sobre o capacete de uma pessoa andando pelas ruas, gerando imagens de 360 graus. Junto com “Filme Sensorial”, também feito com exclusividade para a mostra, é um raro exemplo do experimentalismo cinematográfico de Lygia.
A obra Construa Você Mesmo foi posicionada dentro de um percurso virtual pelo Parque do Ibirapuera (Crédito: Núcleo de Inovação)
Proposições
Lygia Clark também se tornou conhecida pela promoção da interatividade na arte. Ela marcava posição ao separar seu trabalho das “performances” de artistas, que despontavam pelos Estados Unidos e Europa na década de 1970, e chamava suas obras antes de “proposições” direcionadas à participação ativa do público. “Ela cria as proposições para deixar que o expectador seja um moto contínuo, uma parte da obra”, explica Scovino.
Um dos trabalhos trazidos pela retrospectiva é Corpo Coletivo (1970). Apenas no domingo do dia 2, às 17h, participantes poderão vestir macacões que, costurados uns nos outros, limitam e impedem gestos corriqueiros, como andar e sentar livremente. Outros finais de semana oferecerão propostas do mesmo tipo, como Cesariana (1967), nos dias 8 e 9 de setembro. Nela, um participante do sexo masculino veste um macacão com uma bolsa de borracha fechada com zíper e repleta de flocos de espuma, que devem ser removidos.
No dia 15 de setembro, Jards Macalé, que foi amigo de Lygia, realiza um show no Auditório Ibirapuera em homenagem à artista e lançamento do CD “Jards” – o espaço também tem programação sob os cuidados do Itaú Cultural.

Itaú Cultural – Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do metrô. Tel. 2168-1776/1777, itaucultural.org.br. 1/9 a 11/11. ter. a sex. 9h/20h, sáb. dom. e feriados, 11h/20h. 1/9 coquetel para convidados. Grátis