Neste sábado (27), um dos cartões-postais mais famosos do Rio, e do Brasil, completa 100 anos. O idealizador do bondinho foi o engenheiro Augusto Ferreira Ramos, que buscava uma ideia para alavancar o turismo na cidade. Ao conseguir capital e apoio do governo, ele fundou a Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar, a mesma que administra o local até hoje. No ano passado, o bondinho contabilizou recorde de viagens. Foram 77.441 percursos nos dois bondinhos.
Da Praia Vermelha ao Morro da Urca, a distância é de 528 metros, percorridos a uma velocidade de aproximadamente 22 km/h, com tempo total de 3 minutos. Da Urca até o Pão de Açúcar, a distância é de 735 metros, percorridos a uma velocidade de aproximadamente 31 km/h, com tempo de viagem também de 3 minutos. Aos mais aventureiros, é possível subir o morro da Urca por uma trilha. A distância é de 1487 metros e exige esforço físico e preparo para escaladas íngremes e escorregadias. A trilha tem início pela pista Claudio Coutinho, em área militar. Micos, pássaros de diferentes espécies, flora típica da Mata Atlântica e as ondas da praia Vermelha compõem o cenário abaixo dos bondinhos.
Taxistas e cobradores de estacionamento são os primeiros a abordar quem chega próximo à bilheteria. O ingresso custa R$ 53,00 (estudantes e idosos pagam meia). As filas não são grandes durante a semana. Em 2011, foram1.331.487 visitas. É, junto com o Cristo Redentor, o ponto turístico mais visitado do Rio. O trem do Corcovado recebe anualmente 1 milhão de visitantes. Em termos comparativos, a Torre Eiffel, símbolo de Paris, recebe uma média de 7 milhões de visitantes a cada ano. Mas ali o que não falta é beleza. A visão a mais de setecentos metros de altura é estonteante. Pode-se ver toda a extensão da Baía da Guanabara, a ponte Rio-Niterói, a praia de Copacabana, a cidade de Niterói no canto direito e, ao fundo do lado oposto, o Corcovado, a pedra da Gávea e o morro Dois Irmãos.
De camelô a síndico do bondinho
Antonio Lourenço, mais conhecido como Seu Gato, é o funcionário mais antigo do Pão de Açúcar. É o responsável pela oficina e manutenção de todo o mecanismo que faz os bondinhos funcionarem de segunda a segunda, sempre das 8h às 21h. Não por acaso é chamado por alguns como “síndico do bondinho”. Sua história se confunde com a do local. Começou como camelô nos arredores do morro, vendendo sucos, refrigerantes e doces para os turistas. No começo dos anos 70, o velho bondinho já não dava conta do intenso tráfego turístico que só crescia.
Foi então construída outra linha, mais segura, com novos cabos, estações e carros, multiplicando por dez a capacidade de transporte. Seu Gato foi recrutado para auxiliar. “Estava ali embaixo todo dia, conhecia o pessoal. Daí me chamaram e fui. Em seguida fiz curso de soldador e maçariqueiro e continuei empregado até hoje”, diz ele, aos 72 anos.
Seu Gato não precisou arriscar sua vida na adaptação dos novos bondinhos. Se na primeira vez, os cabos de sustentação foram instalados com ajudas de alpinistas, agora tudo foi feito com auxílio de um elevador de peças paralelo aos bondinhos. A nova linha foi inaugurada em 1972 e, com algumas reformas, ficou em operação até 2008. Foi substituído por outro, mais moderno, de designer suíço – com vidro fumê, o que possibilita fotos mesmo contra o sol. A capacidade diminuiu: de 75 para 65 passageiros por viagem. “Não vejo uma pessoa ao menos subir o morro estressada e chegar aqui em cima mantendo a irritação. Não tem como. Só a vista já é uma terapia”, diz Seu Gato.
Botão de emergência
O complexo do Pão de Açúcar tem duas salas de máquinas, ambas no primeiro morro, o da Urca. Três geradores ficam de prontidão para caso haja falta de energia. O motor principal tem 320cv, com rotação de até 1500 RPM, e é comandado por um sistema de inversão de frequência. Há ainda desde 1972 um sistema de resgate, cujo carro pode seguir pelo cabo de aço e retirar sete passageiros por vez. O grupo de operações tem 50 pessoas e o de manutenção, 48.
Giuseppe Pellegrini, diretor técnico da Companhia que administra os bondinhos, conta um dos segredos mais bem guardados dos bondinhos. O que poucos sabem é que há espalhados pelo local, incluindo os dois morros, 15 botões vermelhos estrategicamente posicionados, mas fora da visão dos turistas. Acionados, estes botões param imediatamente o funcionamento dos bondes. Em uma das salas de comando, Pellegrini conta que nunca foi preciso apertar o botão de emergência. “Mas garanto que funciona. Nos testes de simulação que fazemos, conseguimos detectar qualquer problema que porventura possa surgir”, diz.
São raros os acidentes ocorridos no local. Não há registros de vítimas fatais nestes 100 anos de funcionamento dos bondinhos. Um fato histórico marcante ocorreu em 1935, durante a Intentona Comunista, quando uma bala de canhão atingiu as estações, que tiveram de ser fechadas por vários dias. Em 1951, um cabo de tração se rompeu com bonde cheio e as pessoas foram retiradas durante a noite. Mas foi no dia 22 de outubro de 2000 que ocorreu um acidente com repercussão internacional. Um dos cabos de aço se rompeu, prendendo vários turistas por horas no teleférico. Ninguém se feriu.
Pellegrini também se tornou parte integrante da equipe do Pão de Açúcar por acaso. Era alpinista e, num sábado de sol, aproveitava para escalar o lado direito do morro da Urca quando, avistado pelo então presidente da administração local, foi convidado a trabalhar ali. Já se vão cinquenta anos de bondinhos. “Faço esta viagem entre os bondinhos todo dia. Me sinto privilegiado”, afirma, cheio de sorrisos.