A atividade física é um fator imprescindível para que a criança tenha um desenvolvimento saudável. São inúmeros os estudos que têm enfatizado os benefícios de programas que envolvem atividades motoras, tanto para o crescimento e a maturação quanto para o desenvolvimento de capacidades cognitivas e sociais1, 2, 3. No entanto, a gama de atividades físicas na infância é bastante extensa, incluindo desde as brincadeiras espontâneas, com intensa carga lúdica, até os programas esportivos orientados para o alto rendimento, rotulados como especialização precoce. Avaliar as conseqüências que essas práticas mais organizadas possam ter para a vida futura de seus praticantes é tarefa difícil e foi motivo do surgimento, nas últimas décadas, de uma nova área de estudo, a fisiologia pediátrica do exercício.
A investigação de aspectos negativos e positivos do engajamento de crianças em programas de esporte organizado vem sendo realizada pelo professor Ruy Jornada Krebs, doutor em educação física e professor da Universidade do Estado de Santa Catarina, que apresentou a palestra “Atividade Física na Criança e no Adolescente”, durante o Congresso Nacional de Pediatria, realizado em Aracaju.
A fisiologia e as implicações metabólicas do exercício para crianças são os fatores que têm recebido mais atenção dos pesquisadores e os resultados dessas pesquisas têm levado a considerações positivas. “Mas não devem ser analisados isoladamente dos fatores psicológicos, biomecânicos e dodesenvolvimento motor”, afirma o professor Krebs, que salienta: “Um modelo de esporte para crianças baseado exclusivamente na fisiologia pediátrica do exercício mostraria apenas parte do complexo fenômeno da prática esportiva infantil”.
Para ele, é necessário haver uma harmonia entre os vários aspectos. “A excessiva cobrança, bem como a exclusão de outras atividades mais prazerosas, tendem a causar frustração e baixa auto-estima. E o conceito de saúde não pode ser só físico, deve considerar também o bem estar no contexto social, o fato de a criança estar feliz”, afirma. No aspecto biomecânico ele adverte para a necessidade de adequação dos materiais e equipamentos à estatura e força das crianças, sob pena de causarem males.
Outro aspecto abordado pelo professor Krebs foi a associação indireta de doenças (pulmonares, cardiovasculares, endócrinas, alimentares, etc.) ao exercício físico. “Muitos pais fazem dessas doenças motivo de exclusão das atividades físicas. Isso é um erro, pois o sedentarismo cria condições propícias para que as doenças se instalem de vez”.
Segundo o professor Ruy Krebs, o correto é que essas crianças tenham restrições mas pratiquem o exercício, ainda que moderadamente, sob supervisão do professor e do médico, como forma de criarem condições de desenvolvimento e de controle das doenças.
Que a Associação Européia de Educação Física (EUPEA), através da Declaração de Madrid (1991), estabeleceu como necessário que a Educação Física seja compulsória na Escola, devendo ser diária até os 11 ou 12 anos de idade e pelo menos três horas por semana para as crianças e adolescentes acima desta idade;
Que a mesma Associação Européia de Educação Física (EUPEA), ainda pela Declaração de Madrid (1991), ao defender a Educação Física como parte integrante do currículo escolar, estabeleceu como parâmetros de qualidade:
(a) manter ou incluir a Educação Física como matéria curricular no período de educação obrigatória;
(b) reconhecer que a formação em Educação Física está no nível de estudos superiores;
(c) garantir o suficiente peso curricular para a Educação Física Escolar;
(d) a Educação Física devera ter pelo menos uma hora diária na educação primária;
(e) garantir três horas semanais de educação Física para o ensino secundário;
(f) que os professores sejam altamente qualificados, como é o caso das outras disciplinas;
(g) deve-se promover estudos acadêmicos sobre Educação Física, de acordo com a crescente importância da disciplina;
(h) desenvolver um intercâmbio de informações sobre Educação Física na Europa, como meio de estabelecer critérios comuns que possam contribuir para a geração de idéias que possam ser assumidas pelos governos, autoridades e organizações européias;
Que o Documento "Uma Visão Global para a Educação Física na Escola", preparado conjuntamente pelo Forum do Comitê Regional Norte-Americano (NARFC) Associação Canadense para a Saúde, Educação Física, Recreação e Dança (CAHPERD) e Aliança Americana para a Saúde, Educação Física, Recreação e Dança (AAHPERD), apresentado no Forum Mundial sobre Atividade Física e Esporte (1995), registrou que uma Educação Física de Qualidade tem um impacto positivo no pensamento, conhecimento e ação, nos domínios cognitivo, afetivo e psicomotor na vida de crianças e jovens e que as crianças e jovens fisicamente educados vão para uma vida ativa, saudável e produtiva.
Que o Encontro denominado World Summit on Physical Education realizado pelo Conselho Internacional de Ciência do Esporte e Educação Física (ICSSPE/ Berlim/ 1999) ao reforçar a importância da Educação Física como um processo ao longo da vida e particularmente para todas as crianças, reiterou que uma Educação Física de Qualidade;
(a) é o mais efetivo meio de prover nas crianças, seja qualquer capacidade/ incapacidade, sexo, idade, cultura, raça, etnia, religião ou nível social, com habilidades, atitudes, valores e conhecimentos, o entendimento para uma participação em atividades físicas e esportivas ao longo da vida;
(b) ajuda as crianças chegarem a uma integração segura e adequado desenvolvimento da mente, corpo e equilíbrio;
(c) é a única alternativa escolar cujo foco principal é sobre o corpo, atividade física, desenvolvimento físico e saúde;
(d) ajuda as crianças a desenvolver padrões de interesse em atividade física, os quais são essenciais para o desenvolvimento desejável e constróem os fundamentos para um estilo de vida saudável na idade adulta;
(e) ajuda as crianças a desenvolver respeito pelo seu corpo e dos outros;
(f) desenvolve na criança o entendimento do papel da atividade física promovendo saúde;
(g) contribui para a confiança a auto-estima das crianças;
(h) realça o desenvolvimento social, preparando as crianças para enfrentar competições, vencendo e perdendo, cooperando e colaborando;
Que a Educação Física é um fim educacional em si mesmo, que se integra em outras áreas do currículo escolar, permitindo ações interdisciplinares que sempre favorecem o processo educativo; na busca da totalidade dos seus beneficiários;
Que a 3a. Conferência Internacional de Ministros e Altos Funcionários Encarregados da Educação Física III MINEPS, na Declaração de Punta del Este (1999), no seu art. 4o. evidenciou uma profunda preocupação com a redução dos programas de Educação Física, o que pode estar contribuindo para o aumento da delinqüência juvenil e da violência, assim como um incremento nos gastos médicos e sociais, mostrando que para cada dólar investido em atividades físicas corresponde a uma diminuição de 3,8 dólares em despesas médicas;
Que o Documento "A Indispensabilidade da Educação Física", divulgado pela Associação Internacional das Escolas de Educação Física (AIESEP/ 1999), esclareceu que as pesquisas mostram que a atividade física pode: (a) ser um meio de prevenção contra doenças físicas (cardiovasculares, diabetes, câncer no cólon, obesidade e osteoporose) e mentais (depressões e estresses); (b) exercer um papel de enriquecimento da vida social e de desenvolvimento das habilidades de interação social;
Que a Educação Física é a única disciplina na escola que atua diretamente com o físico, movimento, jogos e esporte, oferecendo oportunidades às crianças e adolescentes para, adquirir competências de movimentos, identidades, desenvolver conhecimentos e percepções necessárias para um engajamento independente e crítico na cultura física, e por isto deve ter o mínimo de 2-3 horas por semana e as aulas devem integrar um currículo longitudinal e ser dirigidas por professores de Educação Física preparados para esta função.