Páginas

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Artigos: Para entender a Literatura 1


Contos
Desde sempre o homem vem sido seduzido pelas narrativas, sejam elas de ordem simbólica ou realista, que diretamente ou indiretamente falam da vida, relacionando-as com deuses ou com os próprios homens. 
Duas dessas narrativas destacam-se, pois conseguiram grandes divulgações e atravessaram séculos, são os Contos de Fadas e os Contos Maravilhosos. É importante diferenciá-las, pois ambas nasceram de fontes diferentes e tem enfoques distintos.
  • O Conto de fadas expressa uma atitude humana que refere-se a luta do eu, ou seja, a nível do existencial, onde tudo gira em torno do casamento homem x mulher.
  • Por sua vez os Contos maravilhosos tratam das realizações no plano material, profissional, de realizações externas, ao nível social.
Vale lembrar que uma não anula a outra, as duas se completam em uma realização integral.
Também chamados de Contos da Carochinha, os Contos de fadas surgiram no Brasil e em Portugal no final do século XIX, e nem sempre tem a real presença de fadas como diz o nome. São desenvolvidos dentro da magia feérica (reis, rainhas, príncipes, bruxas, gigantes anões, animais, objetos mágicos, tempo e espaço fora da realidade conhecida etc.). Tem como eixo gerador uma problemática existencial, a realização do herói ou da heroína alcançando seus objetivos, essa realização intimamente ligada à união homem mulher.
A estrutura básica de um conto de fadas é uma narrativa curta, dotada de tempo, espaço,clímax, enredo e o número reduzido de personagens.
Na literatura infantil a linguagem deve ser usada como instrumento de criação, revelação e direção. Dizemos linguagem para nos referir não só a forma com que ela se apresenta, mas também para a intenção total da obra, seus arranjos e seus objetivos .
No conto Dona Baratinha percebemos que o seu léxico é adequado à literatura infantil, não contendo rebuscamento de termos ou emprego de palavras grosseiras, possuindo clareza e simplicidade de estilo.

A linguagem do conto é repleta de onomatopéias e diálogos, o que desperta o interesse das crianças. Veja algumas falas abaixo:
"–Gato! Como é que fazes de noite ?"
"- Faço miau! miau !"
"-Cachorro ! Como é a tua fala a noite ?"
"-Uau ! Uau !"
Outro aspecto que não deve ser ignorado é que o conto Dona Baratinha não possui gírias, o que o torna ainda mais fácil de ser compreendido e lhe garante ser atual. Como a maioria dos contos sempre se volta para palavras mágicas ou mesmo frases que se repetem ao longo do texto, Dona baratinha não poderia ser diferente, durante toda a história notamos a forte presença da pergunta que a protagonista faz a todo candidato a noivo:
"-Queres casar comigo ?" (o que funcionaria como um "abre-te sésamo", ou "Rapunzel jogue as tranças").
Outro tipo de linguagem contida na fábula é a das ilustrações, uma linguagem não verbal, mas tão expressiva quanto.
No início da história percebe-se um cenário todo colorido, arborizado e com casinhas, mostrando um local calmo, tranquilo e pacato, nota-se também que essas ilustrações não são tecnicamente perfeitas, pois são desproporcionais ao tamanho da protagonista, além disso os traços das figuras se assemelham aos desenhos feitos por crianças. Essas características servem como recursos para atrair o pequeno leitor, entrando assim no seu vasto mundo imaginário. Ao longo da fábula nota-se que as cores que antes eram claras, passam a ficar mais fortes e mais escuras, preparando o leitor para algum acontecimento importante, esse acontecimento chama-se clímax, na verdade essas cores que se tornam fortes funcionam como um " Parananam!!!!!!!! " dos filmes e novelas .

Pode-se dividir um conto de fadas em partes:

Enredo: É o conjunto de fatos que se subdivide em:
  • Introdução: Coincide geralmente com o começo da história onde são apresentados os fatos iniciais e os personagens. Enfim é à parte em que se situa o leitor diante do que irá ler.
  • Complicação: É a parte do enredo na qual se desenvolve o conflito.
  • Clímax: Como já foi citado assim é o momento culminante da história. Ele é o ponto de referência para as outras partes do enredo, que existem em função dele.
  • Desfecho: É a solução dos conflitos, boa ou má, com final feliz ou não.
Tempo: Constitui o pano de fundo para o enredo. A época da história nem sempre coincide com o tempo real em que foi publicada ou escrita. Os contos de um modo geral apresentam uma duração curta em relação aos romances. Algumas narrativas dão dicas da época que estão retratando através de frases do tipo: "Era no tempo dos reis" ou "No tempo em que os bichos falavam".
Espaço: É o lugar onde se passa a ação de uma narrativa. O termo espaço só dá conta do lugar físico onde ocorrem os fatos da história.
Ambiente: É o espaço carregado de características socioeconômicas, morais, psicológicas, em que vivem os personagens.
Narrador: É o elemento estruturador da história, pode estar em terceira pessoa, que se divide em onisciente e onipresente. O primeiro sabe tudo da história e o segundo está presente em todos os lugares da narrativa. Outro tipo de narrador é o de primeira pessoa, o qual participa diretamente do enredo como personagem.


Mini-conto

É uma narrativa muito curta que pode abordar qualquer tipo de tema. Sua estrutura básica é formada pelos seguintes componentes:
  • Personagens
  • Narrador
  • Espaço
  • Tempo
  • Símbolos
Um exemplo deste tipo se dará a seguir:
A narrativa Proustiano nos conta as peripécias de um adolescente que ao espiar uma biblioteca sente-se atraído por ela e desapercebidamente a penetra.
Em uma hora morta do dia em que as mulheres estão atarefadas demais para notá-lo, e os homens descansando, o menino que era proibido pelo tio de visitar a biblioteca não resiste a curiosidade e começa a espiá-la e quando se dá conta já está lá dentro. Embora ali só houvesse livros para adultos o menino aleatoriamente escolhe um e começa a ler. A medida que ia lendo era tomado por uma sensação de bem estar avassaladora e inesplicável, foi quando lembrou que quando bem pequeno ele sentia esta mesma sensação, quando salvava mariposas de serem seduzidas pelo reflexo da água.
Temos aqui um narrador em terceira pessoa, que não participa da história mas que sabe exatamente o que se passa na cabeça de seu personagem.
Ao analizarmos o mini-conto percebemos que ele possui um reduzido número de personagens que aparecem sob a forma de pessoas. Temos o protagonista que é entitulado pelo narrador como "menino". Temos os personagens secundários que pode-se dizer que são as outras crianças que moravam na casa e também o tio, que queria mantê-las longe de sua sedutora biblioteca .
Ao falar da narrativa, pode-se notar que no início do mini-conto é apresentado o conflito, e que todos os acontecimentos presentes no texto irão girar em torno deste conflito. a proibição da entrada na tentadora biblioteca, e o doce sabor de ao nela penetrar e se deliciar com o sabor da leitura.
Em relação ao espaço em que se passa a narrativa, nota-se que ela não se divide, tudo começa dentro da biblioteca e lá se desenvolvem todos os outros acontecimentos  Embora nosso protagonista se lembre de alguns fatos que aconteceram há alguns anos, isso não interfere no espaço em que se desenvolve a história.
É proposto ainda a utilização de alguns símbolos na narrativa. Temos a biblioteca que remete a idéia de sabedoria e conhecimento, encontrados nos livros. temos também a tentativa adotada pelo menino de salvar mariposas, transparecendo assim na esfera simbólica toda a pureza, inocência e fantasticidade de uma criança.
Temos embutida na narrativa a questão da verossimilhança, que é a lógica interna do enredo, tornando-o ou não verdadeiro para o leitor. Os fatos contidos em um mini-conto não precisam ser verdadeiros, no sentido de corresponderem exatamente a fatos ocorridos no universo exterior ao texto, mas devem ser verossímeis, isto quer dizer que mesmo sendo inventados, o leitor deve acreditar no que lê. Esta credibilidade advém da organização lógica dos fatos dos fatos dentro do enredo.
Enfim, são esses os aspecto que devem ser ressaltados, a fim de se compreender e explorar um mini-conto dentro de suas possibilidades.