Esse currículo, nascente em dias atuais, deverá ser concebido num modelo escolar totalmente renovado. Ele deverá surgir no seio de uma escola nova, capaz de conviver com a diversidade do seu aluno e proporcionar-lhe a maleabilidade necessária para ser garantido o direito de escolha, seja de seu futuro nas plataformas acadêmicas ou até mesmo no mercado de trabalho.
É fato que uma escola única para todos não oferta uma educação que surta um efeito positivo. Na verdade esse perfil de escola promove uma educação farsante, sem resultados promissores visíveis, incapaz de formar um aluno autônomo e detentor de um pensamento criativo e livre. Por isso, não há motivos para manter essa estrutura escolar tradicionalista. O que deve haver é uma ruptura paradigmática viabilizando o nascimento de uma escola nova, totalmente desnuda dos pensamentos fracassados de outrora. “(…) essa escola única, inflexível, igual para todos e com inúmeras disciplinas faz com que se criem o aluno entediado e o perdido”. (Costa, 2012)
Comungando do pensamento do Professor José Carlos O. Costa, além da inflexibilidade curricular existente nas escolas, que não permitem ao aluno o direito de escolha de suas áreas de estudos, ainda convivemos com um dilema antigo e, a meu ver, irreparável, o do grande número de disciplinas, elementos da base comum nacional e também dos temas transversais. Desta forma, o aprendiz fica dividido entre vários conhecimentos fragmentados e que não representam possibilidades de progresso em seus objetivos finais patrocinados pela educação, levando o tédio aos que estão além do que é ensinado naquele momento, e deixando perdidos os que não conseguem acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos escolares.
Talvez o debate sobre os êxitos ou fracassos do currículo escolar brasileiro deva ganhar um novo rumo e repensar sobre sua real existência. Quando partimos para uma discussão dessa natureza, largamos do pressuposto de que existe um currículo em nosso sistema educacional, por mais que sua existência seja insuficiente para solucionar os problemas atuais. Será que estamos no caminho certo, quando tentamos corrigir um currículo de existência questionável? Qual o referencial curricular vigorante no país? Quais os conhecimentos que os aprendizes deverão alcançar ao final de cada ciclo/etapa?
No mesmo cenário estão às avaliações externas da educação como Saeb, Prova Brasil, Provinha Brasil etc. O que avaliamos é o que se pretende alcançar ao final de cada etapa do ensino. Para isso deveríamos ter metas claras e instruções precisas, onde os professores pudessem se embasar para alcançar os objetivos finais. Por mais que nos preocupemos com a correção do suposto currículo existente, temo que o debate deva se encaminhar para o campo de seu concebimento. Assim afirma a professora Magda Soares (2012) “(…) não existe um currículo no Brasil… não temos um currículo que defina, por exemplo, ‘no fim do primeiro ano, a criança deverá ser capaz de… ’, ou ‘ao fim da educação infantil, a criança deve ser capaz de… ’” e assim por diante.
As avaliações externas nacionais, que seriam responsáveis por diagnosticar as mazelas contraídas no processo de ensino-aprendizagem, apontam cada vez mais para a inexistência de um currículo, seja ele bom ou ruim. Além disso, com a cobrança acirrada que elas causam nos docentes, estes passam a ensinar baseados em suas exigências, levando o ensino para um nível totalmente mecânico, que não proporciona o desenvolvimento investigativo do discente, característica que faria nascer o conhecimento global, sem fronteiras.
O bom currículo define os objetivos a serem avaliados ao final de cada ciclo/etapa. O que temos hoje é a omissão dessa função, o que deixa uma lacuna entre o que é ensinado, o que era para ser ensinado e o que é, mesmo assim, avaliado. “(…) a escrita e a produção de textos não estão incluídas, pelo menos ainda, nas avaliações externas, pela dificuldade de correção objetiva e de expressão dos resultados em números”. (Soares, 2012)
Isso com certeza reflete a omissão da “cúpula educacional” com a importante missão de alfabetizar, verdadeiramente, os nossos alunos. Como não se sabe como estão os nossos alunos em termos de escrita e leitura, não tem como empreender esforços ou implantar medidas que amenizem esse problema recorrente ao longo do tempo. Em vez de se fazer um diagnóstico verídico, prefere-se atirar no escuro e acertar o causador do problema como num jogo de azar.
Este trabalho demonstra suscintamente o debate que se gera a cada dia em torno do currículo escolar brasileiro e o modelo tradicionalista da maioria das nossas escolas. Sem dúvida a discussão não se encerra neste breve artigo, sendo este, apenas um ensaio advindo de uma pesquisa que empreendi a fim de diagnosticar os elementos do fracasso em nossa educação no que concerne ao desenvolvimento de um aluno crítico desde sua origem, pesquisador por essência, abrangente na busca pelo conhecimento sem fronteiras, reflexivo das questões sociais e educacionais e, não menos importante, capaz de inserir-se no mercado de trabalho.
“Deve haver múltiplos caminhos formativos disponíveis às escolhas dos discentes, pois estes são ‘metamorfos’ em sua natureza e livres em sua essência”.