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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Pesquisa aborda o cuidado em situações-limite


O trabalho humanitário da organização não governamental Médicos Sem Fronteiras e a emergência de um hospital público no município do Rio de Janeiro foram os campos de pesquisa da aluna do doutorado em Saúde Pública da ENSP Luciana Bicalho Cavanellas. Para ela, os desafios impostos por contextos críticos e complexos, onde limites e riscos são permanentemente confrontados, tornam o trabalho mais exigente, expondo a vulnerabilidade dos pacientes, dos trabalhadores e das organizações, mas também sua capacidade de superação, enfrentamento e criação. A tese foi orientada pela pesquisadora da Escola Jussara Cruz de Brito.

O interesse pelo trabalho em saúde em situações extremas é o fio condutor dessa tese, que investiga a atividade de trabalhadores, buscando entender a compreensão de cada um no confronto com a realidade do trabalho de cuidado.

A pesquisa de base qualitativa fez uso de observação participante, elaboração e leitura de diários de bordo, e entrevistas apoiadas na abordagem dialógica, visando a compreensão da atividade a partir das vivências dos trabalhadores. Foram entrevistados vinte profissionais de saúde (dez em cada instituição), dentre eles: médicos, enfermeiros, farmacêuticos e psicólogos, de ambos os sexos, com tempos de formação e atuação bastante diversificados.

No caso de Médicos Sem Fronteiras, disse Luciana, surgiram temas específicos como a relação com o risco nas missões, a necessidade de adaptação em contextos adversos e a motivação humanitária como aspecto fundamental de identificação com esse tipo de trabalho. Já na emergência hospitalar, a fragmentação do serviço, as questões relativas às condições de trabalho e os desafios impostos pela demanda endossam os dilemas enfrentados pelo sistema de saúde.

Luciana explica que, em ambos os campos pesquisados, os impactos das atividades consideradas "extremas" na saúde dos trabalhadores podem ser melhor compreendidos à luz de conceitos como recentramento do meio e renormatização em Canguilhem e as dramáticas dos usos de si, conforme concebido pela perspectiva ergológica de Schwartz, revelando inúmeras possibilidades diante da exposição a situações-limite no trabalho.

O estudo aponta como resultados aspectos diferenciados entre os dois contextos, como a diferença entre trabalho e emprego, a liberdade de escolha, a relação com pacientes e  familiares, o reconhecimento e a valorização profissional, a proteção institucional e a questão da carreira e dos projetos de vida; assim como ressalta pontos convergentes entre os campos estudados ,como o desgaste físico/mental e o tempo de trabalho, os conflitos com as estruturas organizacionais e suas concepções de gestão, a relevância da parceria e da cooperação no coletivo e a confirmação de vocações e da mobilização dos trabalhadores, preservando o sentido do trabalho na assistência e no cuidado em saúde.

Sobre a autora

Luciana Bicalho Cavanellas é graduada em Psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1990) e mestre em Filosofia pela mesma universidade (1998). Psicóloga clínica há 24 anos, ela atua na Fundação Oswaldo Cruz, onde trabalha na Diretoria de Recursos Humanos, na área de gestão do trabalho e saúde do trabalhador. Ela defedeu sua tese intitulada Os desafios do cuidado em situações-limite: as dramáticas da atividade no trabalho humanitário e na emergência hospitalar, em 30/5, na ENSP.