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domingo, 27 de julho de 2014

Enfermeiros sofrem com precariedade nas emergências

De acordo com o Ministério da Saúde, os principais problemas da assistência às urgências e emergências no Brasil são: estrutura física e tecnológica inadequada, insuficiência de equipamentos, recursos humanos limitados e com capacitação insuficiente para trabalhar em emergências, baixa cobertura do atendimento pré-hospitalar móvel e número insuficiente de unidades de pronto atendimento não-hospitalares com baixa resolutividade e insuficiente retaguarda para transferência de doentes. A partir desses dados, o aluno da ENSP Hebert de Oliveira desenvolveu sua dissertação de mestrado em Saúde Pública. De acordo com ele, a assistência às urgências e emergências há muitas décadas é um dilema para o sistema público de saúde e cada vez tornou-se mais latente a necessidade de se pensar políticas que possibilitassem a organização, qualificação e consolidação da atenção nesses locais.

“Considerando as mudanças do perfil demográfico e de morbimortalidade ocorridas no país nos últimos anos, tendo como um dos principais destaques o aumento dos casos de acidentes e violência, podemos afirmar que hoje os serviços de urgência e emergência exercem um papel muito relevante dentro da assistência à saúde no Brasil”, destacou. Conforme explicou o aluno, em vários desses serviços são as profissionais de enfermagem que realizam a maioria dos procedimentos e estão presencialmente nas 24 horas de funcionamento, além de terem maior contato direto com os pacientes e familiares. "Por estarem na linha de frente desses serviços essas profissionais são fundamentais."
 
Para o estudo, Hebert buscou caracterizar as condições de trabalho vivenciadas pelas trabalhadoras de enfermagem da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Manguinhos, identificando e discutindo as normas antecedentes presentes neste trabalho da enfermagem e investigando as renormatizações realizadas e suas relações com o processo saúde-doença-cuidado dessas trabalhadoras. 
 
A pesquisa constatou que essas profissionais estão inseridas em uma realidade bastante complexa, na qual convivem com algumas situações que vão muito além dos problemas clínicos. De acordo com ele, é característico desse processo de trabalho o ritmo intenso, o excesso de atividades e pacientes com quadros clínicos instáveis. Além disso, as trabalhadoras de enfermagem que atuam em urgência e emergência têm que estar preparadas para o inesperado, o imprevisível e, na maioria dos casos, faltam condições e instrumentos de trabalho. “Isso é importante, pois o sofrimento de várias trabalhadoras desse setor pode ser atribuído ao fato delas terem que lidar, muitas vezes, com situações incontroláveis frente às quais se sentem impotentes.”
 
Sobre os problemas de saúde relacionados ao trabalho da enfermagem em urgência e emergência, o mais recorrente foi o estresse. Segundo Hebert, o estresse ocupacional está muito presente na enfermagem, sendo classificada pela Health Education Authority como a quarta profissão mais estressante.
 
Conforme constatou o aluno, apesar dessas condições desfavoráveis e de todos os outros problemas encontrados, essas trabalhadoras renormatizam suas atividades no sentido tanto de resolver essas adversidades, quanto para preservarem a sua saúde. Essas renormatizações ocorrem considerando valores como resolutividade, trabalho em equipe e humanização do cuidado. “A tentativa de estimular essas profissionais a refletirem sobre seu trabalho e sua saúde é um fato que pode ser considerado um passo importante para futuras intervenções e transformações das situações de trabalho vivenciadas naquela unidade.”
 
O aluno pontuou ainda que devido as UPA’s serem muito recentes, existem ainda poucos estudos sobre a saúde desses trabalhadores. Desta forma, com esta pesquisa ele buscou colaborar com a produção de conhecimentos sobre esse tipo de unidade, com foco nas profissionais de enfermagem que, numericamente, correspondem a maior categoria dentro das UPA’s.
 
O estudo foi realizado na UPA Manguinhos no período de novembro de 2013 ate janeiro de 2014. Foram pesquisadas somente as profissionais de enfermagem (enfermeiras e técnicas de enfermagem). 
 
Hebert de Oliveira Gomes possui bacharelado e licenciatura em Enfermagem pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009) e especialização em Saúde Pública pela ENSP (2012). Sua dissertação de mestrado acadêmico em Saúde Pública intitulada Trabalho e saúde das profissionais de enfermagem em urgência e emergência: estudo de caso em uma Unidade de Pronto Atendimento no Município do Rio de Janeiro foi apresentada no dia 16 de julho, na ENSP, sob a orientação da professora Jussara Cruz de Brito.