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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

III Seminário de Ciências Humanas e Sociais no Campo da Saúde



No estado nascente o saber é feliz, primitivamente
livre de toda culpa. Talvez seja feliz por natureza.
Ou, dentro das instituições que dirigem, o exploram
e transmitem, para os indivíduos massacrados por
esse saber, ele alimenta, de fato, o instinto de morte.
(Michel Serres - Hermes: uma filosofia das ciências)

Na mitologia grega, Thanatos é a personificação da morte e conhecido por ter coração de ferro e entranhas de bronze. A ciência, no século 20, desenvolveu aquilo que a psicanálise denomina de pulsão da morte. Ao lado das suas grandes contribuições em todos os campos do saber, a prática científica mostra sua face monstruosa ao desviar-se do seu caminho para atender aos loucos e perigosos no poder. Degradação ambiental e proliferação de armas mortíferas são as consequências mais evidentes desse Programa de extinção da vida, cientificamente justificado. ("Depois da Bomba, a ciência perdeu sua inocência", disse Oppenheimer). Mas já temos boas almas reunidas em partidos políticos e organizações beneméritas que "lutam pela paz" e "protegem a natureza".

Mas, "a razão é genocida desde sua geração", alerta o filósofo-marinheiro.

Vamos, então, entendê-lo ao pé da letra e dirigir o nosso olhar para aquelas populações cujos corpos e mentes não atendem à norma definida pelo poder, populações que são "um problema": as etnias, as classes, os grupos e as pessoas "diferenciadas". Como a pluralidade é que é "o problema", um problema político, essas populações são objetos de domesticação, docilização e eliminação pelos Programas científicos, em nome de ideais transcendentes como a boa moral, o sexo correto, a raça pura, a saúde perfeita, o corpo bonito, o lugar certo, a sociedade civilizada, o progresso.

São processos de exclusão que contaminam todo o tecido social, inspirados em valores "edificantes" e dirigidos por um sentido previsto. Uma ciência sem aleatoriedades. Sem eventualidades. Uma ciência devotada a Programas homogeneizadores de corpos e mentes para sociedades e culturas intolerantes para com a criatividade e a pluralidade.

Propomos, então, trazer para o debate, nesse III Seminário em Ciências Sociais e Humanas no campo da Saúde, esse aspecto perverso da ciência nos seus acordos com o poder e recuperar, para as novas gerações, a inocência, o riso e o eros da ciência. Afinal, "o saber nasce feliz" disse o filósofo-marinheiro...