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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Pesquisa sobre saúde bucal adolescente é destaque na imprensa

O dentista Humberto Luís Candêo Fontanini, mestre pela ENSP em 2011, conclui uma pesquisa que mostra a relação de determinantes sociais com o surgimento de cáries em adolescentes. O estudo foi feito na cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul e foi destaque na imprensa local. Falta de informação e de estrutura familiar estão entre os motivos que levam 55,2 % de um grupo de 542 estudantes de escolas públicas da cidade a terem pelo menos um dente atacado por cárie. Veja mais detalhes abaixo, na reportagem que foi publicada no jornal Dourados Agora.
 
Dentista Humberto Fontanini realizou pesquisa inédita com estudantes de escolas públicas em Dourados
 
Pesquisa realizada pelo dentista Humberto Luís Candêo Fontanini revela que 55,2% de um público de 542 estudantes de 18 escolas públicas da área urbana de Dourados apresentam pelo menos um dente atacado por cárie. A coleta de dados realizada em 2011 serviu como base de estudo da dissertação de mestrado de Humberto, pela Fiocruz.
 
Em novembro passado Humberto publicou artigo científico na revista britânica "Community Dentistry and Oral Epidemiology", descrevendo a realidade da saúde bucal dos 542 estudantes na faixa etária de 12 e 14 anos de idade em Dourados. O periódico internacional é um importante meio de divulgação de pesquisas para a classe da área odontológica.
 
De acordo com Humberto Fontanini, que em Dourados atua em clínica particular e na rede pública de saúde bucal, o objetivo do estudo foi a investigação da associação entre determinantes sociais intermediários (rede e apoio social) com cárie dental em adolescentes da cidade de Dourados no ano de 2012. Os alunos da pesquisa, segundo ele, foram escolhidos por critério de sorteio.
 
Os adolescentes com baixos níveis de apoio e rede social (aqueles que não têm acesso a informação e possuem desestrutura familiar) apresentaram um índice de cárie maior. No trabalho, o pesquisador analisou, também, uma série de características socioeconômicas, incluindo principalmente renda, escolaridade e condições de moradia, e hábitos, como escovação dentária, uso de flúor e uso de serviços de saúde, como os principais determinantes das condições bucais nos adolescentes.
 
A média de idade dos adolescentes na pesquisa foi de 13 anos e 50,6% eram do sexo masculino. A raça/cor da pele predominante foi a parda (60,5%). A maioria dos participantes relatou escovar os dentes 3 vezes ou mais por dia (54,8%), sendo que 5 adolescentes informaram não escovar os dentes. Cerca de 2,8% afirmaram fumar ou ter fumado alguma vez na vida. E sobre a ingestão de biscoitos e guloseimas, 41% e 36,2% informaram comer de 1 a 3 dias por semana, respectivamente.
 
As mães dos estudantes também responderam a um questionário para melhor conhecer o perfil dos 542 estudantes que foram avaliados por meio de entrevista e de consulta através de exame bucal. Segundo a pesquisa, a média de idade das mães responsáveis pelos filhos foi de 39,4 e a maioria declarou ser de cor da pele parda (58,9%). Houve um predomínio de responsáveis com 9 anos ou mais de estudo, com renda familiar de 1 a 4 salários mínimos (76,0%) e com residência própria (77,3%).
 
Dos adolescentes pesquisados, 94,1% relataram já ter ido alguma vez ao dentista. Destes, 69% visitaram o dentista em menos de um ano e 74,4% utilizaram o serviço público de saúde, sendo o tratamento odontológico o motivo predominante (77,1%). Ainda foi reportado por 63,5% dos adolescentes não existir consultório em suas escolas.
 
Humberto Fontanini já esperava que grande parte dos estudantes poderiam apresentar cárie. Para ele, se as escolas tivessem dentistas essa realidade seria bem diferente. "Percebi que muitos desses adolescentes só procuram um dentista após serem influenciados, seja pelos pais, parente ou amigo", diz o pesquisador. No entanto, o grupo de pessoas ao redor desse adolescente, chamado de rede social, nem sempre pode ser visto como estrutura social, quando não oferece apoio necessário ao adolescente. Segundo Humberto Fontanini, as relações sociais atuam como determinantes da saúde bucal em adolescentes através das influências dos diferentes grupos sociais que estão inseridos, como a família e a escola.
 
A convivência dos adolescentes com estes grupos é um dos principais fatores que molda seus comportamentos, que tenderão a se estabelecer ao final da adolescência e, em geral, se mantém ao longo da vida adulta. E que muitos dos hábitos e comportamentos adquiridos neste período da vida afetam a saúde bucal e podem favorecer a prevenção de doenças e agravos bucais, pois se associam à melhor qualidade de vida, como dieta adequada, exercícios físicos e cuidados com a saúde. Por outro lado, as relações sociais podem afetar a saúde bucal de modo desfavorável pela adoção de hábitos não saudáveis como a maior ingestão de açúcar, tabagismo e alcoolismo.
 
No caso de Dourados, segundo ele, as condições de ataque de doença cárie foram semelhantes ao perfil epidemiológico no Brasil segundo o último inquérito nacional de saúde bucal. "A caracterização das condições bucais na cidade pode representar o início de estratégias de vigilância em saúde bucal para monitorar a evolução destes agravos, e assim, servirem como instrumento de avaliação das ações de controle e redução das doenças bucais", explica.
 
Diante destes resultados, o pesquisador chama a atenção para a necessidade de políticas intersetoriais envolvendo as áreas da educação, serviço social e saúde. Além disso, estratégias que atuem no reforço e aumento das redes sociais e fortaleçam o apoio social aos adolescentes também tem grande potencial em efeito de redução das principais doenças bucais e, por consequência, os impactos gerados por elas nas atividades diárias e na qualidade de vida dos adolescentes.