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terça-feira, 31 de março de 2015

Brasil ainda utiliza pesticidas condenados pela OMS

Os jornais Correio Braziliense e Estado de Minas, na edição de domingo (29/3), publicaram reportagem na qual alertam para a liberação, no Brasil, de pesticidas condenados pela Organização Mundial da Saúde. Intituladas Os venenos nas mesas dos brasileiros, as matérias denunciam que a Agência Internacional de Pesquisas do Câncer, órgão da OMS, classificou cinco pesticidas como "provavelmente" ou "possivelmente" carcinogênicos. Desses, quatro são liberados no Brasil: glifosato, malation, diazinon e parationa metílica. “É preciso adotar o princípio da precaução. Conforme as pesquisas avançam, aparecem novas evidências contra os venenos”, disse o pesquisador da ENSP Luiz Cláudio Meirelles - fonte ouvida pela reportagem.

Correio Braziliense - Dos 5 pesticidas condenados pela OMS, 4 são usados com frequência no país


Leia a reportagem completa:
 

Os venenos na mesa dos brasileiros - Correio Braziliense e Estado de Minas
 
Dos cinco pesticidas condenados pela OMS, quatro são usados com frequência. Anvisapromete reavaliar liberação
 
Warner Bento Filho
 
Brasília - Agrotóxicos condenados pelaOrganização Mundial da Saúde (OMS) na última semana continuam liberados no Brasil, apesar de alertas de especialistas àAgência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a quem cabe a reavaliação dos venenos. A Agência Internacional de Pesquisas do Câncer (Iarc, na sigla em inglês), órgão da OMS, classificou cinco pesticidas como "provavelmente" ou "possivelmente" carcinogênicos. Quatro deles são liberados no Brasil: glifosato, malation, diazinon e parationa metílica.
 
O glifosato, ingrediente ativo do herbicida Roundup, desenvolvido pela empresa Monsanto, é o veneno agrícola mais vendido no mundo. No Brasil, foram comercializadas, em 2013, 186 mil toneladas da substância, usada, principalmente, em lavouras de soja transgênica.
 
Em 2008, a Anvisa resolveu reavaliar a liberação do glifosato. Para isso, contratou a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que reuniu sete especialistas para a elaboração de uma nota técnica. O documento entregue à Avisa condenava o uso do glifosato, com base em pesquisas científicas que indicavam o potencial cancerígeno. Até hoje, porém, o agrotóxico continua liberado e o consumo é crescente.
 
Por meio de nota, a Anvisa informou que não há prazo para a conclusão do processo, mas que o caso terá prioridade depois da divulgação do estudo do Iarc. "Seguramente, as conclusões do Iarc serão relevantes na conclusão da reavaliação", diz a nota.
 
O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) informou que pautará o assunto no Conselho Consultivo da Anvisa. "É preciso finalizar urgentemente a reavaliação. Proibir seria o ideal", propõe a nutricionista do instituto Ana Paula Bortoletto. "Antes, se dizia que os agrotóxicos eram necessários para acabar com a fome no mundo. Hoje, sabemos que isso não é verdade", diz.
 
CONTROVÉRSIA A Monsanto nega que o glifosato cause câncer e garante que o produto é seguro para a saúde humana e para o meio ambiente. De acordo com o Iarc, há "evidências limitadas de carcinogenicidade em humanos" e "suficiente evidência de carcinogenicidade em animais". A classificação do glifosato como "provavelmente" cancerígeno pela agência se baseia em estudos desenvolvidos nos Estados Unidos, no Canadá e na Suécia. A Monsanto, no entanto, coleciona outras indicando a segurança do produto, incluindo análise do BfR, órgão alemão responsável pela liberação do glifosato na União Europeia, onde se lê que a decisão do Iarc foi "surpresa".
De acordo com o Iarc, o glifosato está ligado ao desenvolvimento de linfomas não-Hodgkin, que incluem mais de 20 tumores diferentes. OInstituto Nacional do Câncer (Inca) indica que o número de casos desse tipo de câncer duplicou em 25 anos. A médica toxicologista Márcia Sarpa de Campos Mello diz que o aparecimento do câncer pode ocorrer até 30 anos depois da exposição ao agente causador. Daí a dificuldade em fazer a relação.
 
A grande barreira, porém, no controle dos agrotóxicos, segundo especialistas, é a pressão econômica da indústria química. Esse mercado movimentou no Brasil R$ 13 bilhões em 2011, de acordo com estudo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). No mesmo ano, o orçamento da Anvisa, para bancar toda a estrutura e ações de fiscalização, foi de cerca de 3% desse total: R$ 400 milhões.
 
O ex-gerente de toxicologia da Anvisa Luiz Cláudio Meirelles foi exonerado do cargo em 2012, depois de denunciar irregularidades na liberação de agrotóxicos. "É preciso adotar o princípio da precaução. Conforme as pesquisas avançam, aparecem novas evidências contra os venenos."
 
Alerta ignorado
 
Os inseticidas Malation e Diazinon, classificados pelo Iarc como "provavelmente carcinogênicos para humanos", continuam sendo vendidos normalmente no Brasil. Além deles, a Parationa Metílica, classificada como "possivelmente carcinogênica", também está liberada, mas em reavaliação pela Anvisa. Nota técnica elaborada pela equipe da Fiocruz recomenda a proibição do uso do inseticida na agricultura e em outras atividades que ofereçam possibilidade de exposição humana.