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quarta-feira, 24 de junho de 2015

‘Dor crônica é um importante problema de saúde pública’

“A dor crônica é muito mais que um fenômeno biológico, contém aspectos psicológicos e sociais associados de forma intrínseca.” Esse modelo biopsicossocial de entendimento sobre a questão foi utilizado pelo aluno de Doutorado em Epidemiologia em Saúde Pública, Israel Souza, ao desenvolver sua tese Resiliência e dor crônica: construção de um perfil de resiliência sob orientação da pesquisadora Ana Glória Godoi Vasconcelos. A dor crônica possui uma alta prevalência e consiste num importante problema de saúde pública, explica ele, trazendo impactos não apenas para o indivíduo acometido, mas também às famílias, ao sistema de saúde e para a economia, em especial devido ao absentismo, aposentadoria precoce e perda de emprego. O público pesquisado consistiu em 414 pacientes atendidos na Clínica de Dor e Cuidados Paliativos no Hospital de Clinicas de Porto Alegre (RS), todos com dor crônica musculoesquelética, com dados oriundos de pesquisa anterior.
 
O aluno  traçou perfis de resiliência, que pode ser compreendida como um mecanismo de manejo e regulação da dor crônica, e como um fator psicológico que promove respostas adaptativas à dor. Utilizando uma técnica estatística ainda pouco explorada no Brasil, a Análise de Classes Latentes, que é similar à análise fatorial, mas utilizada para dados categóricos, ele identificou três classes latentes, ou três perfis de resiliência. 
 
O primeiro perfil, de resiliência primária, foi caracterizado pela ausência de sintomas importantes de estresse psicológico, em que os indivíduos parecem ter recursos suficientes para manter seu estado de saúde mental e baixa probabilidade de experimentar pensamentos catastróficos. O segundo perfil, de resiliência secundária, foi caracterizada por sintomas iniciais de estresse psicológico, perda moderada do bem-estar emocional, e níveis moderados de pensamentos catastróficos. Já o terceiro perfil, de resiliência terciária, foi caracterizado por altos níveis de estresse, com prejuízo para a saúde mental e alta probabilidade de experimentar pensamentos catastróficos, inspirando mais cuidados e atenção profissional multidisciplinar.
 
Segundo Souza, essas três classes revelam três caminhos distintos de resiliência na dor crônica, e apresentam relevância para prática clínica. “Destaco a importância da atuação multidisciplinar e interdisciplinar envolvendo médicos, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, entre outros, nos cuidados ao paciente com dor crônica.” Ele também considera fundamental a construção de um Estado de Bem-estar Social, uma vez que aqueles que desfrutavam do acompanhamento médico regular, de mecanismos de seguridade social (por exemplo, aposentadoria, seguro desemprego) e níveis elevados de escolaridade tinham maior probabilidade de pertencer ao perfil de resiliência primária ou secundária. 
 
Israel Souza é graduado em Educação Física pela UFRRJ e atuou como professor de Educação Física da SEE-RJ e da SME-RJ. Desde 2008, é professor de Educação Física do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, onde desenvolve projetos na área de saúde e qualidade de vida. Atualmente, tenho me dedicado a estudos de validação de questionários na área da saúde (dor e qualidade de vida), bem como a aplicação de técnicas estatísticas (análise de classes latentes e teoria da resposta ao item) nestas áreas.