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quarta-feira, 24 de junho de 2015

Nem tudo será perdoado, nem tudo será esquecido


Café Controverso debate ataque a “Charlie Hebdo” e suas consequências seis meses após o episódio

Em janeiro deste ano, o escritório do jornal francês “Charlie Hebdo” sofreu um ataque terrorista que matou 12 pessoas e deixou 11 feridas. Cometido por irmãos franceses de ascendência argelina, o atentado foi uma resposta à edição do periódico que trazia o título "Charia Hebdo” e utilizava  a figura de Maomé de maneira satírica, o que foi tomado como insulto por grande parte da comunidade islâmica.  À época, enquanto a imprensa internacional se mobilizava para dar visibilidade à comoção da população francesa e a debater os limites da liberdade de expressão, o sentimento de medo espalhado pelas coberturas alimentou ideias xenofóbicas, racistas e anti-islâmicas já existentes na França. Para debater as consequências do ataque, o Café Controverso do próximo sábado, 27 de junho, recebe a Diretora Adjunta de Divulgação e Comunicação do Centro de Comunicação da UFMG, Tacyana Arce, e a filósofa e  doutoranda em Direito Internacional pela PUC Minas, Maria Walquiria Cabral. Com o título “Charlie Hebdo – 6 meses depois”, o encontro acontece às 11h, na cafeteria do Espaço do Conhecimento UFMG, e tem entrada gratuita.

Tacyana Arce vai levar para o debate a visão de quem acompanhou de perto os acontecimentos e a cobertura midiática do caso, dentro e fora da França. Quando o atentado aconteceu, a jornalista morava em Montreuil, na região metropolitana de Paris.  “Vou falar como quem vivenciou, assistiu, se interessou e estranhou muitas coisas. A reação da população francesa e até mesmo da imprensa de lá foram muito diferentes do que teríamos no Brasil”, comenta.  Tacyana explica também que, diferentemente do que se noticiou no Brasil, internamente a noção de que o ataque foi uma espécie de “11 de setembro francês” não estava posta. “Eu frustrei a expectativa de boa parte da imprensa brasileira que me procurou querendo que eu falasse do pavor nas ruas, de pessoas trancadas em casa, porque não era isso que estava acontecendo. Em nenhum momento, houve um sentimento do tipo ‘11 de setembro francês’ e nem imprensa noticiou isso. Eles tinham muita clareza que aquele ataque foi interno, uma resposta à estranheza da sociedade francesa, que trata pessoas de origens diferentes, mesmo que já estejam lá há várias gerações, como estrangeiros. Foi um grande grito de franceses totalmente excluídos do direito de o serem”, completa.

Maria Walquíria também tem uma postura crítica em relação à cobertura midiática dada ao caso. “Minha visão sobre a cobertura dada ao ataque está ligada à ideia do que é o terrorismo e de como ela é introjetada em nossas cabeças. Podemos tomar um exemplo: porque todo mundo sabe de Charlie Hebdo, mas, poucas pessoas sabem do evento de Boko Haram, que aconteceu na mesma semana e matou 2 mil pessoas na Nigéria? “, pontua. A professora também levará ao debate a perspectiva do direito internacional para o caso. “A discussão que se faz, depois que acontecem situações como essa, é a de como será o tratamento para o terrorismo. Temos normas internas para cada país no intento de prevenir ataques, proteger aeroportos e muitas vezes dar algum tipo de resposta. No entanto, o Direito Internacional não tem preparo para assumir o terrorismo como crime e, muito menos, como crime internacional. Na verdade, a tendência é tratar o terrorismo como um qualificador de crimes contra a humanidade, crimes de guerra, crimes de agressão, mas nunca um crime próprio”, completa.

Café Controverso
O conhecimento raramente passa pelo consenso e sua construção se faz, sempre, pelo diálogo. Nos Cafés Controversos, os temas são amplos e diversificados, e não se detêm
aos tratados no interior do Espaço do Conhecimento: abordam diferentes setores da cultura, das artes e da ciência. Um espaço de debate e troca de ideias e perspectivas.

Espaço do Conhecimento UFMG estimula a construção de um olhar crítico acerca da produção de saberes através da utilização de recursos museais. Sua programação diversificada inclui exposições, cursos, oficinas e debates. Integrante do Circuito Cultural Praça da Liberdade, o Espaço do Conhecimento é fruto da parceria entre a operadora TIM, a UFMG e o Governo de Minas. O Espaço conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG, da Rede de Museus e Espaços de Ciências e Cultura da UFMG e da DAC – Diretoria de Ação Cultural da UFMG.

Serviço:
Café Controverso "Charlie Hebdo - 6 meses depois"
Data: 27 de junho, às 11h
Local: Espaço do Conhecimento UFMG - Praça da Liberdade, 700
Entrada franca
Mais informaçõeswww.espacodoconhecimento.org.br/ (31) 3409-8350
Informações para a imprensa: (31) 3409-8366