O cenário atual do comércio de recursos naturais não é dos mais favoráveis. A queda dos preços de commodities, como o minério de ferro, e a expectativa de um crescimento negativo para o PIB do Brasil neste ano indicam um caminho difícil, mas não impossível de ser enfrentado. Essas e outras questões foram discutidas no seminário “Produção de Commodities e Desenvolvimento Econômico”, realizado na última terça-feira, dia 14 de julho, pela FGV/EPGE - Escola Brasileira de Economia e Finanças e pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), ambos da Fundação Getulio Vargas (FGV), em conjunto com a Vale SA. O objetivo foi promover um debate considerando as divergências entre as visões econômicas dos especialistas presentes e divulgar o livro homônimo, editado pelo Instituto de Economia da Unicamp.
A obra abrange o que estaria por trás do sucesso de alguns países ricos em recursos naturais, como Austrália, Chile e Noruega, enquanto outros ainda não conseguiram alcançar o mesmo patamar de desenvolvimento, como Angola, Nigéria e Venezuela. “A experiência histórica mostra que diversos países têm lidado muito bem com a abundância de recursos naturais. Por outro lado, há exemplos de países que não souberam usar bem os recursos. Experiências nacionais são muito ricas, mas têm que ser ‘temperadas’ pela institucionalidade de cada país”, afirma o pesquisador do FGV/IBRE, Regis Bonelli.
No entanto, de acordo com o diretor do Instituto Tecnológico da Vale, Luiz Eugênio Mello, a presença de recursos naturais por si só não é o único determinante na trajetória a ser seguida por cada país. “Existem diversas perspectivas históricas que podem iluminar esse debate. O nosso país tem outra história, outro momento e situação, que não necessariamente fazem o reflexo imediato dessas perspectivas”, salienta Mello.
Para que os países ricos em recursos naturais possam crescer economicamente, um dos principais caminhos apontados pelo economista Claudio Frischtak, da Inter.B Consultoria, é investir na área de ciência e tecnologia. “As commodities são uma alavanca eficaz para países que deram ênfase à engenharia e à ciência. Inversamente, países que negligenciaram a educação geraram uma elite rentista”, ressalta Frischtak. Já o pesquisador do FGV/IBRE, Armando Castelar, acredita que investimento em educação deve ser uma trajetória a ser seguida por quaisquer países, independentemente dos recursos que possuem. Assim, Castelar levantou a questão de quais seriam as especificidades para os países ricos em recursos naturais. Para Rubens Cysne, diretor da FGV/EPGE, a evidência empírica internacional é rica em mostrar que o câmbio real fora do lugar reduz o crescimento. A política econômica a ser seguida deveria ter isto em mente. Uma política fiscal mais apertada e monetária menos restritiva poderia encaminhar adequadamente o assunto.
“Nós todos queremos o desenvolvimento econômico. Recursos naturais não são exógenos. Em boa parte, eles resultam do esforço e de muito investimento em pesquisa, de conhecimento, e isso refuta a tese de que recursos naturais são dádivas dos céus que costumam ser uma plataforma para o excesso de intervenção estatal na indústria de recursos naturais”, completa o economista Roberto Castello Branco, professor da FGV/EPGE e diretor do FGV Crescimento e Desenvolvimento.
Dentre os pontos negativos da exploração dos recursos naturais está a deterioração dos termos de troca, seguindo o raciocínio do economista Raúl Prebisch. Castelar salienta que a queda dos preços das commodities observada atualmente poderia provocar uma tendência de queda da renda e salários secularmente, em comparação ao que acontece em países em que a economia é mais calcada na indústria. “Seria um empobrecimento aos poucos. É um pouco que nem o sapo na água que vai esquentando. A gente não sentiria porque seria muito devagar. Mas, eventualmente, acabaríamos fervidos na pobreza secular”, conclui Castelar.
Também estiveram presentes Edmar Bacha (Casa das Garças), Eloi Fernández y Fernández (ONIP e PUC-Rio), José Féres (IPEA), Ana Lucia Gonçalves da Silva (Unicamp), e Mariano Laplane (CGEE/Unicamp).
Confira o livro, disponível na íntegra e gratuitamente, no site do evento.