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terça-feira, 29 de setembro de 2015

Pesquisa revela aumento de óbitos por Alzheimer


No período de 2000 a 2009, foram registrados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), 1.505.326 óbitos na população de 60 anos e mais, residentes nas capitais brasileiras, dos quais 0,4% tiveram a Doença de Alzheimer (DA) como causa básica e 0,8% como causa mencionada na Declaração de Óbito (DO). Considerando o conjunto dos óbitos por doenças do sistema nervoso central em 2009, a DA codificada como causa básica de morte representou 65% dos óbitos entre as mulheres e 51,1% entre os homens. Os dados foram estudados pela aluna de doutorado em Epidemiologia em Saúde Pública da ENSP Jane Blanco Teixeira, sob orientação da pesquisadora Mariza Miranda Theme Filha. Segundo ela, ao se comparar a causa básica de óbito na população estudada, o Diabetes Melitus e o Acidente Vascular Cerebral (AVC) foram significativamente maiores entre aqueles com menção de DA em comparação aos sem a doença, em ambos os sexos.

Este é o primeiro estudo de abrangência nacional sobre a mortalidade por DA no Brasil, informa Jane. Os resultados revelaram aumento anual constante e significativo das taxas de mortalidade nos idosos com 60 anos e mais, de ambos os sexos, e nas várias regiões do país. Este comportamento é observado nas duas últimas décadas em diversos países também. A aluna lembra que o aumento da mortalidade por DA ocorre num momento em que o controle de vários fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis vem reduzindo a mortalidade por doenças cardiovasculares, AVC e neoplasias. “Embora elas ainda se constituam as principais causas de morte na população idosa, vários países vêm relatando a redução da mortalidade por estas causas. Nos Estados Unidos, a doença Alzheimer é a quinta causa de morte na população com 65 e mais anos. No período de 2000 a 2008, enquanto a mortalidade por doenças cardiovasculares, AVC e câncer de próstata tiveram um decréscimo, respectivamente de 13%, 20% e 8%, a doença de Alzheimer teve um crescimento de 66% “, advertiu.

Conforme apresenta a pesquisa da aluna, a evolução temporal da mortalidade com DA nas capitais brasileiras mostrou taxas crescentes entre homens e mulheres nos dois grupos etários analisados (60 a 79 anos e 80 e mais). Contrariamente, descreve Jane, a evolução das taxas de mortalidade por todas as causas apresentou declínio em ambos os sexos, tanto naqueles com 60 a 79 anos, quanto nos idosos com 80 anos e mais. Em 2009, a DA codificada como causa básica de morte representou 65% dos óbitos entre as mulheres e 51,1% entre os homens.

Jane observa que houve o aumento das taxas de mortalidade ao se analisar cada unidade geográfica separadamente (capitais ou conjunto de capitais das regiões), segundo sexo e faixa etária. Entre as mulheres, as maiores taxas de crescimento anual foram verificadas nas regiões Norte, Nordeste, Centro-oeste e Brasília, nas duas faixas etárias analisadas, sendo o aumento estatisticamente significativo. Entre todas as capitais, somente Florianópolis não apresentou aumento significante nos menores de 80 anos. Comportamento semelhante foi observado no sexo masculino, aponta a aluna. “Neste caso, entretanto, as variações anuais nas capitais da região Sul foram menos importantes, e apenas na população de 80 anos e mais de Curitiba e Porto Alegre observou-se variação estatisticamente significativa”. A aluna acrescenta que resultados muito semelhantes foram encontrados na França e Estados Unidos, quando se observou crescimento da taxa de mortalidade por DA nas regiões menos desenvolvidas e de fronteira.

De acordo com a metodologia da pesquisa, a opção do estudo apenas nas capitais foi fundamentada pela sua melhor cobertura e qualidade das informações. As informações sobre óbitos nos municípios do interior apresentam problemas em grande parte dos estados. Definiu-se óbito por doença de Alzheimer aquele em que esta doença constava como a causa básica da morte na DO, e morte com doença de Alzheimer quando a mesma era mencionada em qualquer parte do atestado médico da DO.

Sobre a autora

Jane Blanco Teixeira, mestre em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é médica, especialista em Gestão em Saúde da Familia e Administração Hospitalar pelo Instituto Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).