O setor financeiro é fundamental para a construção de uma economia verde e os primeiros resultados positivos desse engajamento começam a aparecer. Esta é a conclusão geral do Seminário Internacional “Sistema Financeiro, Economia Verde e Mudanças Climáticas”, realizado no último dia 21, pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), com apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EAESP).
Durante o evento, foram apresentados os resultados do estudo “O Sistema Financeiro Nacional e a Economia Verde: Alinhamento ao Desenvolvimento Sustentável”, realizado no contexto do projeto Inquiry do PNUMA, que tem como objetivo identificar fatores, políticas públicas e inovações capazes de acelerar e ampliar a destinação de recursos financeiros para iniciativas que propiciem uma transição mais rápida para uma economia verde e sustentável. No Brasil, esta pesquisa foi conduzida pelo GVces em conjunto com a Febraban.
A proposta central do estudo foi identificar e mensurar os recursos de financiamentos intermediados pelo setor financeiro brasileiro para a economia verde, com foco particular em dois setores importantes da economia nacional – energia renovável e agropecuária.
“O setor bancário brasileiro nunca foi indiferente aos desafios trazidos pelas mudanças climáticas e pelo imperativo de promover a economia verde”, disse Murilo Portugal, presidente da Febraban. “As iniciativas voluntárias do setor remontam a 1995, com a assinatura de um protocolo verde pelos bancos públicos. A partir daí, muitas outras iniciativas foram incorporadas”, completou.
Outro foco da pesquisa foi mensurar a exposição dos bancos a setores que têm maior potencial de risco ao meio ambiente, como frigoríficos, infraestrutura, carvão, petróleo e outros. Em 2014, os bancos emprestaram R$ 533 bilhões, 33,2% do total de crédito corporativo; no ano anterior, esse valor era de R$ 471,2 bilhões (33,5% do total). Para esses setores, são exigidos o licenciamento ambiental, análise de impactos sociais e ambientais, respostas a questionários ambientais, checagem da existência de demandas administrativas ou judiciais, auditoria interna ou externa e planos de ação corretiva quando necessário.
“Com esta metodologia, o setor financeiro está criando a possibilidade de medir, controlar, avaliar e gerenciar a segmentação da carteira por setores de atividade, análise de potencial dos mercados e alinhamentos à estratégia de negócios”, explica Paula Peirão, pesquisadora do GVces. “Ela também permite a comparabilidade dos volumes de recursos intermediados pelo setor bancário para a economia verde e sua evolução em frente ao desempenho individual das carteiras de empréstimos e financiamentos dos bancos. Esse levantamento também permite o desenvolvimento de estratégias de mitigação de risco e a identificação de novas oportunidades de negócios para as instituições financeiras”, disse.
No encerramento do seminário, os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente) apresentaram um panorama sobre as negociações internacionais em clima, os futuros compromissos do país dentro do novo acordo climático, que será fechado, em Paris, no final deste ano, além das oportunidades que a economia verde abre para o desenvolvimento sustentável do Brasil nas próximas décadas.
Para Joaquim Levy, o engajamento dos setores financeiro e produtivo é importante para criar condições favoráveis a uma agenda verde no Brasil. “A ampla adoção de práticas socioeconomicamente sustentáveis pode ser importante para o país no longo prazo, com revisão de práticas operacionais e administrativas. Isso põe a economia verde no centro da discussão sobre produtividade”, disse Levy. O ministro da Fazenda também refletiu sobre a emergência de novas métricas de desenvolvimento que considerem a depleção dos recursos naturais e os serviços prestados pelos ecossistemas, e como as empresas brasileiras estão discutindo isso e começando a atuar a partir disso. Dentre as iniciativas destacadas pelo ministro, estão o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE BM&FBOVESPA), que conta com apoio técnico e metodológico do GVces.