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segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O direito da favela: Boaventura lança livro

Sociólogo português, diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), em Portugal, e coordenador doutorado do internacional Direitos Humanos, Saúde Global e Políticas da Vida, desenvolvido a partir do convênio entre Fiocruz e CES, Boaventura de Souza Santos está no Brasil para lançar o livro O Direito dos Oprimidos, uma versão da sua tese de doutorado defendida na Universidade de Yale (EUA) sobre o direito no Jacarezinho, uma favela do Rio de Janeiro. "Boa", como é chamado por muitos parceiros brasileiros, também é colaborador do Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural da Escola Nacional de Saúde Pública (Dihs/ENSP/Fiocruz). O lançamento, que será no sábado, às 14 horas, na Quadra da Escola de Samba do Jacarezinho, homenageará o líder comunitário Irineu Guimarães, parceiro e principal interlocutor do sociólogo durante sua experiência no país. 
 
O lançamento do livro na comunidade que acolheu o sociólogo nasceu do reencontro entre Boaventura e o sapateiro e líder comunitário 40 anos após a experiência na favela. “Além da tese, o livro traz uma curiosidade pelo fato de eu, 40 anos mais tarde, ter reencontrado o líder comunitário com quem tinha trabalhado de forma mais intensa, com quem tinha mais de identificado: o senhor Irineu Guimarães. Estive com ele em 2012 e foi um encontro maravilhoso. Tomamos a decisão conjunta de fazer o lançamento não só em uma livraria do Rio de Janeiro, mas também na favela do Jacarezinho. O Irineu faleceu, mas esse livro é dedicado a ele”, assegurou o português ao comentar o lançamento do livro.
 
O Direito dos Oprimidos é a publicação em português (pela primeira vez) da tese de doutorado defendida por Boaventura na Universidade de Yale, nos EUA. O estudo consiste no trabalho sociológico em uma favela do Rio de Janeiro, realizado através da metodologia da observação participante, quando viveu por alguns meses no Jacarezinho - chamado de Pasárgada por ele.
 
“Estudei, fundamentalmente, a forma como a comunidade dessa grande favela resolvia os litígios, os problemas e os conflitos normalmente mediante a associação de moradores. Falo de um direito paralelo, informal, não reconhecido pelo Estado, mas que tratava-se de um direito que efetivamente ‘governava’ a população nos conflitos entre vizinhos, familiares e autoridades da própria favela. Direito que chamei de direito dos oprimidos”.
 
Souza Santos diz ainda que deu à favela o nome fictício de Pasárgada, dos versos de Manuel Bandeira, porque o trabalho de campo foi realizado na década de 1970, um período forte de ditadura no Brasil. “Nesse tempo, identificar a favela poderia ser perigoso para os líderes da comunidade que tão generosamente me acolheram”, explicou.
 
A trajetória e as reflexões de Boaventura de Souza Santos motivaram a criação do Curso de Introdução ao Pensamento de Boaventura de Souza Santos 'Buscando um Conhecimento', desenvolvido pelo Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural da ENSP. O sociólogo, junto com a coordenadora-geral de Pós-Graduação da Fiocruz e pesquisadora da ENSP, Maria Cristina Guilam, coordena o doutorado internacional Direitos Humanos, Saúde Global e Políticas da Vida.
 
O curso, cuja titulação será concedida pelo convênio Fiocruz/CES, é estruturado com base em três temas centrais que definem desafios à saúde no mundo contemporâneo: Direitos Humanos e Saúde; Conhecimento e Justiça Cognitiva; Globalização e Políticas da Vida. 
 
Maria Helena Barros, coordenadora do Dihs/ENSP, revelou, durante o lançamento do curso, em 2013, que a possibilidade de formar pessoas que venham trabalhar com a questão do conhecimento e dos direitos humanos, aliando seus saberes às questões sociais, aos determinantes sociais da saúde e ao direito à vida é uma dos maiores ganhos do projeto.