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terça-feira, 17 de novembro de 2015

'Saúde indígena é marcada por iniquidade'

Diversos estudos de caso em comunidades específicas têm apontado para a ocorrência de elevadas prevalências de excesso de peso e obesidade em adultos indígenas. Um estudo dos pesquisadores da ENSP Thatiana Regina Fávaro, Ricardo Ventura Santos, Geraldo Marcelo da Cunha, Iuri da Costa Leite e Carlos Coimbra Jr aponta resultados similares sobre povos indígenas no Brasil e no mundo, que mostram a emergência de excesso de peso associado a contextos de acelerados processos de transição nutricional. "Independentemente do local onde habitam no mundo, os indígenas tendem a apresentar os piores indicadores de saúde, incluindo menor esperança de vida ao nascer e níveis mais elevados de mortalidade infantil, materna e geral." No Brasil, acrescentam eles, diversas pesquisas que compararam os perfis de saúde de indígenas e não indígenas indicaram a ocorrência de marcadas iniquidades, como déficit de crescimento e anemia em menores de cinco anos, quatro e duas vezes maiores quando comparadas àquelas de crianças não indígenas.
 
"Transformações socioeconômicas, em geral vinculadas a modificações nas atividades de subsistência e novas formas de trabalho, são consideradas importantes fatores relacionados a esse quadro, uma vez que se vinculam diretamente a padrões de alimentação e atividade física", esclarece o estudo.
 
O objetivo da pesquisa da ENSP, realizada no primeiro trimestre de 2010, foi estimar as prevalências de excesso de peso e obesidade em 794 adultos Xukuru do Ororubá, povo indígena cujas terras estão localizadas no município de Pesqueira, agreste de Pernambuco, Brasil, uma das maiores etnias indígenas do Nordeste, assim como, avaliar os fatores socioeconômicos e demográficos associados a estes agravos. Foram investigados 361 homens (45,8%) e 433 mulheres (54,2%). No conjunto das regiões brasileiras, a situação nutricional dos povos indígenas do Nordeste é a que tem sido menos investigada, de acordo com os pesquisadores, apesar de seu contingente totalizar 25,5% do país.
 
Os dados apontam que entre as mulheres, 52,2% estavam com excesso de peso e 21% obesas. Para os homens, as prevalências foram de 44,1% e 7,5%, respectivamente. As variáveis sexo feminino e idade (> 30 anos) estiveram associadas à ocorrência de ambos os agravos.
 
Para os pesquisadores, os resultados deste estudo, assim como diversos outros realizados no país nos últimos anos que evidenciam o excesso de peso e a obesidade de muitos povos indígenas, devem ser levados em consideração nas políticas e ações de saúde pública. “Ressalte-se que, até o momento, não existem no Brasil ações específicas no campo da saúde dos povos indígenas voltadas para o controle das doenças crônicas não transmissíveis, quer seja no nível local ou em um plano nacional mais amplo”, concluem.
 
A revista Cadernos de Saúde Pública vol.31 nº 8 edição de agosto 2015 publicou um artigo sobre essa pesquisa.