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sábado, 14 de novembro de 2015

Sobre a exposição TEMPO E LINGUAGENS


​ALMANDRADE   -  pintura

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Durante algum tempo, por obrigação profissional, me dediquei a estudar a filosofia da arte. Já a crítica de arte, só tive relação com ela enquanto um consumidor de arte. Nunca me preparei para escrever sobre nenhum tipo de atividade artística. Digo isso, porque hoje me arrastei até a Paulo Darzé Galeria. Na entrada, reencontrei uma velha conhecida, uma obra de Amilcar de Castro. Gastei algum tempo observando-a e tomando coragem para tocar o interfone. O que diria à pessoa que atendesse? Não tenho grana para comprar uma obra. Por isso me arrependi de não ter ido à vernissage. Mas, já que estava ali, me apresentei. A moça foi bastante gentil, abriu a porta imensa e eu adentrei ao espaço da exposição.
Fóbico, tentei praticar o meu safári da maneira mais veloz possível. Para tanto, me concentrei nas obras de Almandrade, Zivé Giudice e Vauluizo Bezerra. A escolha nessa ordem tem uma razão de ser. Vou iniciar o meu comentário com as pinturas de Almandrade. Esse artista vem seguindo uma vertente da arte moderna que tem como meta eliminar da superfície da tela toda sobredade. Explico, um quadro normalmente é sobre alguma coisa. Uma cadeira, por exemplo, está na sala, mas um quadro, além de estar na parede de uma sala, encerra no seu "interior" um não lugar. Ao olhar para um quadro, eu me desloco para um outro lugar, lugar virtual, obviamente. Talvez um desejo presente na pintura abstrata é o de evitar qualquer forma de transcendência, deveríamos ver na tela somente cores, formas...É claro que, se tal procedimento fosse possível, o quadro iria desaparecer. É por isso que, só tendo como background a perspectiva renascentista, e sua gramática de representação, por exemplo, que um Mondrian não se reduz ao mero decorativo.
Da dieta praticada por Almandrade, saltei para o mundo dramático e enigmático de Zivé. A imagem da fera e do mascarado é inquietante. Se Almandrade está interessado em sintaxe, Zivé investe fundo na semântica. Temos, pelo menos eu tive, dificuldade de ver o meio, pois a mensagem nessa pintura de Zivé nos mobiliza imediatamente. Ou talvez o meio e a mensagem, o que se "diz' e como se "diz", em sua pintura, estejam soldados.
Então, já agoniado em ver aquela moça esperando que eu acabasse a minha visita, passei, quase que como um demente, para os trabalhos de Vauluizo Bezerra. Como a pintura de Almandrade, a de Vauluizo é bastante cerebral, é uma arte meio conceitual, mas construida para o olho. Vejo o quadro, mas o ver não é bastante para dar conta da representação. Há como que um jogo sutil entre o perceber e o conceber, entre imagem e conceito nesses trabalhos de Vauluizo. Como disse no início, não sou crítico de arte, esse textinho é somente uma homenagem a esses três grandes artistas que, ao longo do tempo, vêm criando suas poéticas.