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terça-feira, 29 de março de 2016

IBRE debate cenário macroeconômico brasileiro em seminário

Na última segunda-feira, dia 21 de março, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IBRE) promoveu seu primeiro seminário de Análise Conjuntural do ano. O evento teve como objetivo apresentar as projeções de crescimento do PIB e mostrar análises sobre o comportamento da inflação, da política fiscal, do mercado de trabalho, da política monetária, da economia internacional e da indústria, entre outros temas.
A abertura do encontro foi realizada pelo coordenador do Boletim Macro do IBRE e um dos organizadores do evento, Regis Bonelli. O pesquisador falou sobre a situação econômica brasileira para 2016, considerando que a atual gestão executiva continue em vigor no país.  “O que a gente nota nesse começo de ano é que a recessão econômica brasileira se aprofunda e, pelas nossas projeções, possivelmente devem chegar até o primeiro trimestre do ano que vem”, afirmou.
Bonelli também apresentou uma visão geral do momento, mostrando que há um domínio do cenário político sobre o econômico, com a grande variação em curto espaço de tempo no noticiário político atual. “‘Até quando?’ É a pergunta de um trilhão de dólares que gostaríamos de ver respondida”, disse. Ele também ressaltou que a mudança do quadro ministerial tem acentuado a incerteza do cenário pelas propostas dos novos líderes serem bem divergentes das do atual governo. 
O economista também destacou um gráfico mostrando pela primeira vez o novo indicador do IBRE, o “Monitor do PIB”, que é um monitor em bases mensais, ancorado nos dados do IBGE, que indica o comportamento do PIB nos últimos anos. “Mesmo que o PIB fique estacionado ao longo desse ano, o efeito de carregamento estatístico devido à grande queda de 3,8% que tivemos no ano passado implica uma queda de 2,6% nesse ano”, completou.
Em seguida, o pesquisador José Júlio Senna apresentou um panorama internacional e falou sobre a política monetária no Brasil. Em um gráfico comparativo entre as economias avançadas e as emergentes, o economista mostrou que há 6 anos os países avançados crescem abaixo de sua média histórica e os emergentes perdem o gás ano após ano. Ele cita que vários fatores podem ter contribuído para esse quadro. Entre eles, o da estagnação secular. “Essa hipótese explicaria que estamos passando por uma espécie de deficiência crônica de demanda, algo inimaginável há alguns anos atrás”, explicou.
Em relação à política monetária brasileira, Senna destacou que o governo está sem condições de agir. Consequentemente, não há como esperar nenhum avanço previsto na área fiscal que dependa do comércio, o que explica o surgimento de ideais de medidas no âmbito do Banco Central para reanimar a economia brasileira. “A lista é bastante vasta, têm vários itens, como compulsório bancário, reservas internacionais e operações compromissadas”, afirmou.
Na sequência, Aloísio Campelo, superintendente adjunto de ciclos econômicos do IBRE e responsável pelas sondagens empresariais, falou sobre os indicadores de confiança e estatísticas. “Nos últimos meses, a confiança empresarial – indústria, comércio, serviços e construção civil – chegou ao fundo no poço, alcançando o mínimo histórico”. Em relação aos empregadores, ele explicou que os indicadores continuam prevendo demissões, confirmando as projeções.
Quanto à confiança do consumidor, Aloísio afirmou que o consumidor nos dois primeiros meses do ano está menos pessimista com a evolução de suas finanças, porém o resultado não está muito consistente por não ser compatível com a confiança em outros setores.
O economista explicou que mudanças abruptas no cenário podem gerar choques adicionais nos próximos meses na confiança, tanto de maneira positiva quanto negativa. “Quando você tem um período de muita instabilidade e acontece alguma coisa no ambiente político, como ocorreu em 92 no impeachment do Collor, a confiança tende a reagir às ações. Nesse período, por exemplo, ela avançou e só voltou a cair em 1994, com a implantação do real”, finalizou.
Já o pesquisador e economista André Braz falou sobre inflação, apontando uma expectativa de 7,2% para este ano, 0,2 ponto percentual a menos do que a última previsão que era de 7,4%.
De acordo com a economista Silvia Matos, dificilmente haverá recuperação da atividade econômica em 2016 e a previsão é de que esta acumulará queda de 9% no período entre o segundo trimestre de 2014 e o último de 2016, completando 11 trimestres seguidos de queda. Ela afirmou que a deterioração do cenário indica uma contração de 3,4% em 2016 e de -0,4% em 2017.
Quanto ao cenário fiscal, ela explicou que os gastos do governo apresentam crescimento crescente desde a constituição de 88, em torno de 0,4% do PIB ao ano. “Em um primeiro momento, este aumento contínuo foi financiado pelo Imposto Inflacionário. Com o Plano Real, os gastos têm sido financiados pelo aumento da Carga Tributária”. Ela afirmou que, se não for resolvida essa questão, a inflação volta e, por isso, precisa ser vista imediatamente.
Por fim, os economistas Armando Castelar, Samuel Pessôa e Bráulio Borges teceram comentários. Samuel ressaltou que, se as expectativas se confirmarem, será a pior queda de renda per capita dos últimos 120 anos, já que, segundo as projeções, será de 10% no quadriênio entre 2014 e 2017, mais do que os 9,6% do quadriênio 1981-1984. 
Já Bráulio acredita que haja mais de 90% de chance de impeachment da presidente Dilma. Diante desse cenário, ele explicou que o impacto de uma mudança de governo na economia acarreta a reação positiva do mercado financeiro em contraponto às notícias desfavoráveis ao Planalto das últimas semanas.
Armando Castelar proferiu algumas considerações quanto às soluções das questões emergenciais para os próximos anos: “não existe a sensibilidade social de que há um problema. O pessoal não foi para a rua pedir reforma da Previdência”, destacou.