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terça-feira, 16 de maio de 2017

DAPP analisa o comportamento dos usuários das redes sociais em torno do depoimento de Lula a Moro

A Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV mapeou o debate político no Twitter e Facebook em torno do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro. Apresentado nas redes sociais como a luta do século, o embate entre os admiradores e detratores de Lula e Moro fez surgir a maior novidade da internet brasileira dos últimos tempos, a terceira força.
Levantamento feito pela DAPP ao longo de 24 horas antes e depois do interrogatório mostra que a polarização segue dominando as redes sociais, mas não é mais a única expressão relevante no Twitter e no Facebook. Embora menos organizada do que os grupos contra e a favor do ex-presidente Lula, este terceiro campo político revela uma tentativa de avaliação equidistante do depoimento do ex-presidente, muitas vezes criticando os dois protagonistas e o tom de guerra dos militantes partidários — e por vezes em tom satírico.
O estudo mostrou que o interrogatório recebeu 650 mil menções no Twitter, volume expressivo, mas inferior ao 1,5 milhão mobilizados em torno da greve geral contra as reformas na Previdência e nas leis trabalhistas. O grupo formado pelos não alinhados — perfis não necessariamente de um mesmo campo político, mas que têm em comum o fato de não se aliarem aos discursos pró e contra Lula nas redes — respondeu, no período analisado, por cerca de um terço das menções (32,3%). Os perfis de oposição a Lula responderam por 20,7% das interações; enquanto os de apoio, por cerca de 19,2%. Os demais 28% são formados por grupos menores e fragmentados da rede.
análise geográfica do debate no Twitter sobre o depoimento — a partir do volume de menções ponderado pela população de cada Estado — mostra um debate distribuído pelo país, mas com algumas diferenças entre cada cluster. O Distrito Federal e Rio de Janeiro se destacaram no grupo favorável ao juiz Sérgio Moro; enquanto Sergipe, Minas Gerais e São Paulo, no grupo pró-Lula.
Já no plano da distribuição por faixa etária, em relação às referências a Lula, constata-se amplo predomínio no debate de perfis acima dos 34 anos, em contraste com a distribuição etária dos usuários de Facebook no Brasil, em que jovens até essa idade são maioria. Tal tendência é vista, inclusive, em outras discussões sobre temas de política e economia, por exemplo, com os mais jovens em menor engajamento e participação. E, tanto em apoio a Lula quanto em apoio à Lava Jato, há predomínio de perfis acima dos 34 anos.
A análise sugere que, no debate visando o cenário de 2018, há um importante — e talvez crescente — campo político (ainda que não organizado) que se mostra cansado da polarização tradicional. Em termos de agenda pública, esse grupo tende a abrir espaço para uma agenda que concilie pautas dos campos tradicionais, mas vá além.
O fator etário deve ser, nesse sentido, importante, com a juventude adquirindo protagonismo na eventual viabilização de uma alternativa política. É, portanto, um movimento que tende a buscar a superação da dicotomia cristalizada nos últimos anos, mobilizando uma pauta de melhoria do sistema política como um todo e de geração de novas oportunidades.
O estudo completo está disponível no site.