O Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) deu prosseguimento as atividades comemorativas em alusão aos seus 20 anos de atuação com uma discussão sobre vulnerabilidade e sua interface nas pesquisas com seres humanos. Para fomentar o debate estiveram presentes o pesquisador do Departamento de Ciências Sociais (DCS/ENSP) Fermin Roland Schramm, a pesquisadora do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP) Ângela Maria Coimbra, e a pesquisadora do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) Maria Elisabeth Lopes Moreira. Realizado em 12 de junho, no salão internacional da Escola, o evento foi o terceiro, de uma série de encontros comemorativos promovidos pelo Cep/ENSP. Assista no Canal da ENSP no Youtube as apresentações da palestra Vulnerabilidade: interface nas pesquisas com seres humanos.
O professor e pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da ENSP, Fermin Roland Schramm, fez uma análise crítica do conjunto representado pelo conceito de vulnerabilidade e pelos conceitos associados de suscetibilidade e vulneração, que, segundo ele, deverão ser distintos, embora muitas vezes apareçam como confundidos entre si. “Isso pode ter consequências indesejadas, pois a indistinção pode implicar práticas com implicações morais questionáveis, como nas práticas sanitárias que têm pessoas e populações como objetos (ou destinatários) das biopolíticas sanitárias ou nas práticas de pesquisa que utilizam seres humanos como objetos de pesquisa e que, em princípio, deveriam ser também sujeitos, como bem indica a expressão sujeitos, objetos de pesquisa associada aos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido, utilizado também no Brasil”, explicou ele.
A pesquisadora do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP) Ângela Maria Coimbra trouxe para a discussão a questão do envelhecimento e suas multidisciplinaridades e interdisciplinaridades. De acordo com ela, o prolongamento da vida humana é uma conquista que gerou novos desafios e sua discussão impõe uma visão que responda as múltiplas demandas que esse fenômeno gera. O entendimento acerca do envelhecimento humano, envolve um conjunto de conhecimentos de natureza multidimensional. “O envelhecimento é considerado um processo contínuo em que os sujeitos constroem suas experiências e estabelecem seus vínculos com o mundo, utilizando seus recursos biológicos, culturais, sociais, econômicos e políticos. Os indivíduos não envelhecem no mesmo ritmo, o que implica a formação de grupos heterogêneos de idosos no conjunto da população”, analisou a pesquisadora.
Representando o Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Maria Elisabeth Lopes Moreira, falou sobre a transmissão vertical do vírus zika. Citou, por exemplo, a questão de apenas um mosquito ser responsável por transmitir três diferentes vírus: dengue, zika e chikungunya. Em seguida falou sobre a relação entre a gravidez e o vírus zika e os estudos em andamento no IFF em relação ao vírus, sendo eles: Exposição Vertical ao Zika Vírus e suas consequências no neurodesenvolvimento: estudo de coorte; ZIP study: estudo prospectivo internacional sobre Zika Vírus - parceria com o NIH; Impactos sociais e econômicos da infecção pelo Zika Vírus - parceria com a London School; e Estimulação precoce para o neurodesenvolvimento: intervenção baseada na comunidade e famílias.
Por fim, Elisabeth falou brevemente sobre o estudo Estimulação precoce para o neurodesenvolvimento: intervenção baseada na comunidade e famílias, que conta com a parceira do Movimento Down e da Secretária Municipal de Saúde, através das Clínicas da Família. “Os resultados do estudo apontam que 17% dos bebês expostos apresentaram disfagia, independentemente da alimentação mamária ou mamadeira e da espessura do leite necessário. 12% das crianças expostas apresentaram anormalidades neurológicas durante a avaliação clínica e 5% tiveram infecção do trato urinário”, descreveu ela.