Projeto ATTO, Brasil-Alemanha, já tem resultados expressivos
Alemanha já aprovou a destinação de 6 milhões de euros para a segunda etapa do projeto, de 2017 a 2019.
Num dos locais mais cobiçados por pesquisadores do mundo todo, o Observatório de Torre Alta da Amazônia (ATTO, na sigla em inglês) já mostra resultados. Desde que entrou em operação, em 2015, a maior torre de estudos climáticos já construída rendeu mais de 50 artigos científicos relacionados ao clima da Amazônia.
Algumas dessas novas descobertas foram apresentadas durante a 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) nesta terça-feira (18/7), na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte (MG). Com 325 metros de altura, a torre instalada em área de floresta densa, a 150 km de Manaus, é um projeto do Brasil e Alemanha para monitorar o clima na região e sua influência global.
Para Adalberto Luis Val, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a ATTO permitiu o avanço do conhecimento da interação entre floresta, atmosfera e clima. Mas é preciso assegurar sua continuidade. “Para esta nova fase, ainda não há previsão de contrapartida nacional. O Brasil precisa viabilizar apoio para 2018, e a comunidade científica envolvida tem que ser ouvida, a fim de verificar as atuais necessidades”, disse durante o debate. Segundo Val, o parceiro alemão já aprovou a destinação de 6 milhões de euros para a segunda etapa do projeto, de 2017 a 2019.
A ciência brasileira atravessa um momento de severos cortes. Em março, o governo federal anunciou uma redução de 44% para o orçamento de 2017 do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) – menor valor que a área recebe nos últimos 12 anos.
Pesquisa na floresta – Nesta próxima fase, os estudos devem se concentrar nas medidas de fluxo de carbono, de aerossóis, de propriedades da vegetação. A torre tem capacidade para cobrir uma área de influência de mil quilômetros quadrados. “A Amazônia tem uma atmosfera bastante peculiar. Isso porque ela ainda tem características da era pré-industrial em plena zona continental”, disse Luciana Rizzo, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), justificando o interesse na região.
Segundo Rizzo, a atmosfera local ainda é bastante limpa por estar cercada pela floresta e receber quase nenhuma influência de poluentes emitidos pela atividade humana. “Precisamos conhecer essa região, com pouca interferência, para ter base da magnitude dessa interferência ao longo do tempo”, completou.
Stefan Wolff, pesquisador alemão do Instituto de Química Max Planck, relembrou a dificuldade dos primeiros dias de operação da torre, quando a comunicação e transmissão dos dados dependiam do transporte físico. “Agora, todos os dias, a torre transmite automaticamente os dados para os escritórios na Alemanha e Manaus, diariamente, sempre às 4 horas da manhã”, explicou. Aprovada em 2009, a parceria envolve 99 pesquisadores brasileiros e 88 estrangeiros.
Legado da parceria – Na visão do climatologista Carlos Nobre, as parcerias internacionais são importantes para a construção de um legado nas regiões onde as pesquisas são realizadas. “Se tivermos um projeto como o ATTO daqui a 20 anos, ele terá que ser liderado por pesquisadores da Amazônia. Esse é um legado que os experimentos internacionais poderiam deixar na Amazônia”, comentou.
O pesquisador, que já atuou como secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), diz que o próprio desenvolvimento das políticas científicas na Alemanha é uma inspiração.
“A criação de institutos de pesquisa na antiga Alemanha Oriental após a reunificação foi de alto impacto para o país”, disse. Ele citou o exemplo do Instituto Max Planck de Bioquímica, em Jena, que fica no antigo território oriental alemão. “Foram criados depois da reunificação e hoje fazem pesquisa de ponta e são parceiros importantes do Brasil”, complementou.