A dissertação "Desigualdade e dupla porta de entrada no território: desafios para organização da atenção às urgências de baixo risco no município do Rio de Janeiro", defendida por Stefânia Santos Soares, no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da ENSP/Fiocruz (mestrado - turma 2015), venceu, na categoria mestrado, o Prêmio de Incentivo em Ciência, Tecnologia e Inovação para o SUS 2017. O trabalho, orientado pela pesquisadora Luciana Dias Lima, teve como objetivo geral analisar as implicações da coexistência de UPA e UBS para a atenção às urgências de baixo risco nos bairros da Rocinha e do Complexo do Alemão, no município do Rio de Janeiro. A premiação foi realizada durante o evento Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde: conectando pesquisas e soluções, em São Paulo, nos dias 29 e 30 de novembro de 2017.
A pesquisa explorou a recente articulação entre dois tipos de serviço que são caracterizados como porta de entrada para o sistema de saúde: as UPA e as UBS. A autora identificou que caberia redimensionar o escopo de ações da UPA considerando o volume de atendimentos voltados para baixo risco, o que levanta a necessidade de investir nas equipes de saúde da família, criando estratégias para fixação de profissionais e qualificação em atenção básica. Segundo os resultados, a coexistência entre UPA e UBS pode ser favorável, pois estas precisam de retaguarda no horário que não estão funcionando, para serviços de apoio diagnóstico, transporte e manejo de urgências graves.
“No SUS não há lugar exclusivo para atendimento às situações de urgência. São diferentes os serviços que podem se configurar como porta de entrada para esse tipo de demanda, tendo em vista uma mesma população/território de referência. Se, por um lado, tal aspecto sugere preocupações em ampliar o acesso, por outro, indica a necessidade de definir o papel e perfil de cada serviço e promover a articulação adequada entre eles no cuidado às urgências médicas, considerando diferentes contextos regionais”, afirmou a aluna.
Uma trajetória na ENSP
Mesmo tendo partido de um estudo de caso, o trabalho premiado permite ampliar a reflexão sobre a necessária integração de ações, otimização de recursos e estratégias para consolidar a atenção às urgências de baixo risco. “Considerando a implantação do SUS, a formulação de políticas para a AB e para área da Urgência e Emergência podem ser consideradas recentes. Logo, discutir a interseção entre essas políticas é necessário para fortalecer o sistema público”, admitiu.
Luciana Dias Lima, pesquisadora do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde (Daps) e orientadora, destaca o comprometimento do trabalho com o Sistema Único de Saúde e a trajetória de Stefânia na Escola Nacional de Saúde Pública. "A trajetória da Stefânia a caracteriza como uma aluna ENSP. Ainda que a premiação esteja relacionada à dissertação no stricto sensu, ela cursou a Residência em Saúde da Família e a especialização em Gestão da Atenção Básica da Escola, quando também foi premiada. Fico feliz porque é o reconhecimento de um trabalho institucional de ensino, que demonstra uma trajetória de aprendizagem”, ressaltou a orientadora.
Em 2013, Stefânia foi premiada com o trabalho “O papel da AB no atendimento às urgências: um olhar sobre as políticas”, na categoria monografia. Ao receber a premiação, ela reconheceu a importância do ensino público e do retorno que o trabalho pode dar ao Sistema Único de Saúde. "Ser contemplada pela segunda vez me incentiva a continuar no campo da pesquisa sobre o SUS, tema que me encanta. Além disso, valoriza um percurso que escolhi e vejo como uma forma de retribuir, fazer valer o investimento de recursos públicos fundamentais para minha formação ao longo desses últimos anos. Acredito que tive excelentes oportunidades de formação profissional para atuar no SUS, tudo isso graças a investimentos públicos. Os dois trabalhos tiveram orientação da pesquisadora Luciana Dias de Lima, incansável na luta pela saúde como um direito, assim como, habilidosa pesquisadora que contribuiu muito para despertar meu interesse pelo ‘olhar de pesquisadora’", reconheceu.