Um levantamento inédito da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (FGV DAPP) e do Observatório de Migrações Internacionais (OBMigra/UnB) a partir de dados do Ministério do Trabalho (MTE) aponta que os estrangeiros com maior qualificação (ensino superior ou mais) foram, proporcionalmente, os mais afetados pelos efeitos da crise recente no mercado de trabalho brasileiro, ainda registrando saldo negativo entre admissões e desligamentos (menos 1.832 postos de trabalho em 2017, o que representa 21% do volume de admissões). Segundo o levantamento, engenheiros, por exemplo, vêm perdendo espaço para outras profissões administrativas desde 2013 (queda de 13,4% no número de vínculos entre 2013 e 2016), o que pode impactar na produção de novas tecnologias, cruciais para o desenvolvimento do país.
A partir da análise dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) de janeiro de 2011 a setembro de 2017, observa-se claramente o efeito da recessão no mercado de trabalho a partir de 2015, quando o número de desligamentos superou o de admissões e assim praticamente se manteve até março de 2017. A crise afetou inicialmente os trabalhadores nacionais e, somente em um segundo momento, aumentou o desemprego dos trabalhadores estrangeiros, especificamente a partir de novembro de 2015.
Tal comportamento é fortemente associado ao principal coletivo de imigrantes brasileiros nesta década: os haitianos, que, por terem se integrado em ocupações de baixa qualificação e alta rotatividade, apresentam, em série histórica, um comportamento mais explosivo de rápido crescimento dos desligamentos, que se inverte para uma recuperação mais pronunciada do que os outros grupos, em termos relativos. O saldo em 2015 para este grupo foi positivo de 9.364 postos de trabalho, mas negativo em 2016 em menos 9.288 postos. Em 2017, a criação líquida de postos para este grupo já chega a 6.731 postos considerando os dados até setembro.
Os dados trabalhados nessa pesquisa são provenientes das bases de dados da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e do CAGED. O emprego do CPF (Cadastro de Pessoa Física) e do PIS (Programa de Integração Social) foi necessário para a conexão entre as bases por meio de uma chave comum. O processo de junção dessas bases tem como principal objetivo melhorar a identificação dos estrangeiros no CAGED e estudar sua movimentação no mercado de trabalho.
Com isso, pode-se obter uma série histórica de movimentações no mercado de trabalho de estrangeiros com detalhamento para uma série de variáveis, como gênero, idade, grau de instrução, nacionalidade, entre outras.
Desde outubro de 2017 a FGV DAPP e a OBmigra/UnB aliam esforços na produção de conteúdo para qualificar o debate sobre migrações no Brasil, visando a análise conjunta e a disseminação de dados quantitativos e qualitativos. O trabalho conjunto prevê a elaboração de publicações sobre a inserção laboral dos migrantes de acordo com os diferentes perfis (refugiados, visto humanitário, entre outros), com foco na análise das suas ocupações e níveis de qualificação, bem como produções acadêmicas sobre a integração laboral dos migrantes no mercado de trabalho brasileiro e dos perfis migratórios.
O estudo completo está disponível no site.