O impacto do surgimento de novos movimentos sociais, que levaram multidões às ruas em diversos países do mundo e a emergência de governantes avessos à democracia podem levar a uma crise da Democracia Representativa? Esse foi o mote da palestra “Democracia entre indignados: da emergência global à crise da representação”, ministrada por José Henrique Bortoluci, oferecido pelo MBA em Relações Internacionais do FGV Educação Executiva SP, na palestra de abertura da 6ª Semana de Educação Executiva, ocorrida em São Paulo entre os dias 23 e 27 de julho.
“Esses movimentos, atrelados à crise que sucessivamente vem atingindo países como EUA, Brasil, Egito e os países da Primavera Árabe, Grécia e México, entre outros, colocam em xeque o modelo bem sucedido que agregou instituições do mercado mais a democracia representativa, logo após o fim da Guerra Fria, o que levou a Francis Fukuyama decretar o fim da história”, explica Bortoluci.
Porém, essa conjunção durou pouco. “Se na transição dos anos 80 para 90, a esmagadora maioria dos pensadores se dedicava a refletir sobre modelos de transição de regimes autoritários para regimes democráticos, o que se vê atualmente são especialistas se debruçando sobre conceitos que então achava-se que estavam superados, como o Fascismo, por exemplo, a ponto de o grande lançamento representativo de 2018 se chama “How Democracies Die”, de Stephen Levitsky e Daniel Ziblatt”, explica o professor.
Para o professor, o grande fator de desestabilização deste modelo foi a paulatina e rápida desconfiança das instituições responsáveis pela mediação entre governantes e governados e sua substituição por uma espécie de liderança que alega fazer essa representação diretamente.
“Refiro-me a institutos como o Poder Judiciário, a imprensa escrita, como representantes da primeira espécie, e de governantes como Trump, que alega representar a vontade popular diretamente, sem nenhum tipo de intermediação”, explica.
Essa espécie renovada de populismo se difere do fascismo, segundo o professor, porque o autoritarismo não flerta com a linguagem da violência.
Outro fator que serve para minar o papel das instituições dentro da democracia são os chamados movimentos autonomistas que, segundo explicou Bortoluci, começam pequenos e com demandas específicas, mas que podem crescer e catalisam outras demandas sociais. “Um exemplo foi a atuação do movimento Passe Livre, em 2013, que trouxe à tona consigo outras demandas sociais reprimidas e que, em um primeiro momento, as autoridades não conseguiram dar uma resposta adequada”.
Os movimentos autonomistas trazem um novo processo de decisão, por meio de longas assembleis e longos processos, se aproximando de um modelo de democracia direta. “Apesar desse tipo de retórica também integrar o cenário da crise da Democracia, elas não são incompatíveis com o movimento democrático, que parte do pressuposto da existência de conflitos.
Diante desse cenário, Bortoluci questionou qual o futuro da democracia. Apesar de não ter uma resposta pronta, o professor arrisca afirmar que a democracia irá requerer no futuro a manutenção ou renegociação do pacto social, em um cenário de menor dinamismo econômico e de crescente concentração capitalista, aliada à urgente necessidade de se reinventar as bases institucionais de representação.
A Fundação Getulio Vargas realizada em São Paulo, de 23 a 27 de julho, contou com palestras gratuitas de grandes nomes do mercado sobre os seguintes temas: Gestão da Mudança – Aspectos Comportamentais e Emocionais; Como Traduzir uma Estratégia Global na Realidade Local e Nacional; A Importância da Medicina Baseada em Evidência para Gestão de Clínicas e Hospitais; Inteligência Emocional: como liderar você mesmo e a equipe; A exclusão dos benefícios fiscais do ICMS das bases de cálculo do Imposto de Renda; Fake News; Como alavancar sua carreira, criando mais valor para sua empresa; Democracia Internacional e Planejamento Tributário como Ferramenta de Gestão de Valor para Profissionais de Finanças.
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