Ações de prevenção podem diminuir a  incidência de gravidez na adolescência e o acompanhamento às  adolescentes permite melhores condições para que sustentem seus filhos.
Cerca de 20% das                     crianças que nascem a cada ano no Brasil são filhas de                     adolescentes. Comparado à década de 70, três vezes mais                     garotas com menos de 15 anos engravidam hoje em dia. A maioria                     não tem condições financeiras nem emocionais para assumir  a gravidez. Acontece em todas as classes sociais mas a                     incidência é maior e mais grave em populações mais carentes. O                     rigor religioso e os tabus morais internos à família, a                     ausência de alternativas de lazer e de orientação sexual                     específica contribuem para aumentar os casos de  gravidez na adolescência. Por causa da                    repressão  familiar, algumas adolescentes grávidas fogem de                     casa. Quase todas abandonam os estudos. Com isso, interrompem                     seu processo de socialização e abrem mão de sua cidadania.
Psicólogos,                     assistentes sociais, médicos e pedagogos concordam que a                     liberalização da sexualidade, a desinformação sobre o tema, a                     desagregação familiar, a urbanização acelerada, as                     precariedades das condições de vida e a influência dos meios                     de comunicação são os maiores responsáveis pelo  aumento do                    número de adolescentes grávidas. 
A solução não                    está  nas mãos da prefeitura, mas algumas ações podem ser                     feitas, diminuindo a incidência do problema e minimizando seus                     efeitos negativos na vida das adolescentes. 
Como prevenção,                     exige-se do poder público que ofereça programas efetivos de                     orientação sexual e planejamento familiar, em contrapartida ao                     estímulo à sexualidade apresentado pela mídia. Além  disso, as                    adolescentes grávidas, ou que já são mães,  precisam ter                    alternativas para que possam continuar  seus estudos e garantir                    o sustento do filho. 
A adolescência é                     uma espécie de preparação para assumir o papel de adulto, que                     é definido principalmente por ter um trabalho que garanta a                     sobrevivência de um lar. Ao mesmo tempo, a juventude é                     entendida como uma fase da vida que se caracteriza  pelo                    aumento de autonomia em relação à infância,  permitindo-se ao                    jovem que deixe o espaço doméstico e  penetre em espaços                    públicos como ruas e praças. Para  a jovem mulher esse processo                    é mais difícil por  causa de condicionamentos culturais, que                    limitam sua  autonomia na elaboração de projetos de vida, quase                     sempre exigindo que se mantenha nos limites do núcleo                     familiar. 
Se além da                     dificuldade de construir sua identidade, administrar emoções e                     entender as mudanças que acontecem com seu corpo, houver uma                     sobrecarga de necessidades fisiológicas e  psicológicas, a                    adolescência pode se caracterizar  como um processo de ruptura,                    inviabilizando a  formação de um adulto saudável, equilibrado,                     consciente de seus direitos. 
No caso das                     mulheres, vítimas do preconceito sexual, uma ruptura                     decorrente de uma gravidez na adolescência pode acarretar o que se                     chama de risco psicossocial. 
E a comunidade                     médica tem alertado que as conseqüências de uma gravidez na                     adolescência não se resumem apenas aos fatores psicológicos ou                     sociais. A gravidez precoce põe em risco de vida tanto a  mãe                    quanto o recém-nascido. Na faixa dos 14 anos a  mulher ainda                    não tem uma estrutura óssea e muscular  adequada para o parto e                    isso significa uma alta  probabilidade de risco para ela e para                    o feto. O  resultado mais comum em uma gestação precoce é o                     nascimento de um bebê com peso abaixo do normal o que exige                     cuidados médicos especiais de acompanhamento do recém-nascido.                    
Além disso, o                    medo  da gravidez leva muitas adolescentes à solução do aborto                     clandestino: segundo dados da Organização Mundial de Saúde,                     dos 4 milhões de abortos praticados por ano no Brasil, 1                     milhão ocorrem entre adolescentes; muitas delas ficam  estéreis                    e cerca de 20% morrem em decorrência do  aborto.
A gestão                    municipal  pode partir tanto de uma ação coletiva (inserida em                     uma                                      política municipal de  juventude) que propicie o                    intercâmbio de áreas como  saúde, educação, cultura e lazer,                    tentando inibir a  alta incidência de adolescentes grávidas,                    bem como em  situações específicas que permitam resgatar a                     auto-estima da adolescente e norteiem a prevenção epidêmica.
Na esfera que                     trata da prevenção da gravidez na adolescência, destacam-se                     alguns tópicos de possível atuação do poder municipal.
Investir em                     campanhas de alerta e esclarecimento, que ofereçam informação                     ao jovem e incentivem o uso de camisinha tem um papel                     importante na prevenção de Aids, doenças sexualmente                     transmissíveis e da gravidez precoce.
Outro ponto                     fundamental é a questão da distribuição gratuita de métodos                     contraceptivos em escolas e postos de saúde, bem como                     campanhas e orientação para que as pessoas percam a inibição                     de pegá-los. (O uso inadequado da pílula  anticoncepcional pode                    provocar anomalias sérias, que  vão desde a interrupção no                    crescimento físico da  mulher que estiver em fase de                    desenvolvimento da  estrutura óssea até a esterilização                    definitiva.)
É importante                    notar  também que as adolescentes, mesmo conhecendo métodos                     como a pílula, não os usam. Além da dificuldade de acesso, têm                     receio dos efeitos colaterais, acreditam que são imunes à                     gravidez, não conhecem o próprio corpo, não conseguem  colocar                    o assunto em discussão na família e tampouco  recebem qualquer                    orientação na escola, pois persiste o  mito de que falar de                    sexo estimula a prática. 
A educação                    sexual  nas escolas, portanto, é fundamental para que os jovens                     possam falar sobre a sua sexualidade, sem preconceitos,                     superando os tabus. Além disso, a escola é um espaço propício                     para o auto-conhecimento e a descoberta de outras formas  de                    relacionamento afetivo que não as relações  sexuais.
A gravidez na adolescência é um  problema que também envolve os homens. Deve,                     portanto, ser tratado também com os meninos, em todos os seus                     aspectos, do moral ao social.
Os programas                    devem  ser estendidos aos pais, que, em sua maioria, estão                     despreparados para tratar desta questão com os filhos. Às                     vezes, a adolescente até quer contar a eles suas experiências,                     mas muitos não querem ouvir ou fantasiam ter uma eterna                     criança dentro de casa.
Em muitas                    cidades,  a única opção de lazer para os jovens é beber nos                     botecos e namorar. Oferecer alternativas de lazer e                     possibilidades de esporte, que resgatem o lado lúdico e                     recreativo, é também uma forma de prevenção. 
É fundamental                     priorizar a assistência médica à gestante adolescente no que                     se refere à saúde básica, mas também deve ser enfatizado o                     acompanhamento particular em quatro áreas essenciais:                     assistência ginecológica, exames pré-natais, assistência                     obstetrícia e exames pós-parto.
O pagamento de                    uma  bolsa-auxílio pela prefeitura à gestante adolescente                     possibilita a não interrupção de suas atividades normais,                     incentivando, por exemplo, a continuidade dos estudos,                     garantindo uma gravidez saudável, e, em alguns casos, pode                     amenizar a reação adversa da família diante da situação.
Tanto a gravidez                     em período avançado quanto a recém-maternidade impossibilitam                     acompanhar os horários escolares normais. A adequação dos                     horários às exigências da gravidez e da recém-maternidade,  bem                    como a constituição de grupos de adolescentes  nesta situação                    nas escola, auxilia para a  continuidade dos estudos.                    
A existência de                     creches municipais facilita muito a recém-materna,                     principalmente quando se trata de uma adolescente. A ação da                     prefeitura neste sentido pode se dar através do favorecimento                     de vagas a mães adolescentes em creches municipais ou  de                    subsídio municipal para a locação de vagas em  creches                    particulares (caso o município não possua  creches ou vagas                    suficientes).
A prefeitura                    deve  programar também projetos que incentivem a                     profissionalização da adolescente para que ela possa se manter                     e sustentar também o filho. 
Não se pode                     desprezar o atendimento psicológico para que a jovem mãe                     reconstrua sua auto-estima, sua rede de relações, sua                     identidade e resgate sua cidadania. 
O reconhecimento                     do problema e a incorporação na agenda social do governo                     municipal dos problemas relacionados à gravidez na                     adolescência pode trazer resultados com relação à promoção da                     cidadania das adolescentes e de seus filhos.
Um primeiro                     resultado é a afirmação do direito das adolescentes serem                     consideradas cidadãs que não podem ser alvo de discriminação                     por conta de sua condição e que têm direito a receber  atenção                    do Estado. Isto significa, também, um ponto  de partida para                    uma mudança cultural que enfraqueça o  preconceito e a                    discriminação.
Ações de                    prevenção  à gravidez na adolescência podem significar a                     redução da incidência e, conseqüentemente, dos problemas e                     mortes relacionados. 
As ações de                    apoio e  assistência trazem resultados diretos para as                     adolescentes e seus filhos. O oferecimento de apoio                     psicológico às jovens e aos jovens pais e às suas famílias                     pode minimizar problemas de relacionamento, evitando a                     desintegração social e familiar.
A atenção                     apropriada à saúde ajuda a evitar problemas associados à                     gravidez e parto para as adolescentes e melhora as condições                     de saúde de seus filhos. 
As ações sociais                     de uma política municipal de atenção às adolescentes grávidas podem                     trazer resultados positivos para as condições de  subsistência                    das famílias. Pode-se oferecer a                                       garantia de uma renda mínima, ou permitir  que elas                    continuem estudando, facilitando-lhes o  acesso ao mercado de                    trabalho e, portanto,  possibilitando que tenham melhores                    condições de  sustentar as crianças, como no caso do programa                    Parents Too Soon, de Illinois, nos Estados Unidos, que                     oferece várias ações de apoio às adolescentes, orientadas para                     a garantia de sua continuidade nos estudos e seu acesso ao                     mercado de trabalho. Com isso, pode-se evitar diversos                     problemas sociais e familiares da gravidez na  adolescência, ligados ao agravamento das                    condições da  família ou à sua desestruturação.