É um tipo de catolicismo, trazido por portugueses pobres e começou a penetrar no Brasil a partir da colonização. É comumente chamado de catolicismo tradicional popular.
Teve presença significativa na zona rural, em terras camponesas. Naquela época, havia poucas cidades e com pequena população.
Não tinha ligações com o poder político, nem se beneficiava de auxílios econômicos.
Além de portugueses pobres, alguns pequenos proprietários, índios destribalizados, ex-escravos e, sobretudo, mestiços praticaram esse catolicismo.
Analisando o modelo da colonização do Brasil, percebemos que, o catolicismo popular, pode ter tido grande influência de religiosos europeus mal formados que eram mandados para cá e para catequizarem criavam meios um tanto diferentes do catolicismo europeu da época.
Características do Capitalismo Popular:
- O leigo ocupa papel central; o especialista, papel secundário.
- Há uma perda relativa da importância do sacramental frente ao devocional.
- Verifica-se uma manipulação do sagrado com finalidades pragmáticas; por conseqüência, é sensível uma diferença entre religião e magia. A religião importa uma transcendência; a magia conota imanência.
- Enfim, releva notar o caráter protetor da religiosidade popular. Ela visa a solução prática dos problemas do cotidiano. Oferece uma segurança adicional frente ao esforço material.
Alguns elementos do Catolicismo Popular
O santo
O santo é um dos elementos fundamentais desse catolicismo. Tudo parece girar ao redor dele. É objeto de devoção pessoal do pequeno núcleo familiar (oratório), dos pequenos povoados (capela) ou das grandes massas (santuário).
A vida de cada pessoa tem seu centro e seu referencial nessa devoção.
O fiel relaciona-se o tempo todo e a vida toda com o santo. Conversa com ele, pede-lhe proteção, agradece pelo bem recebido. Pode, até, ficar zangado e virar a imagem de costas quando não for atendido.
O santo está na imagem, mas não se confunde com ela, nem se identifica. Mesmo assim, a imagem está carregada de poder sagrado.
A imagem não pode ser comprada, nem vendida, mas somente trocada. É um sinal de grande respeito.
Se, efetivamente, o santo está presente na vida diária do fiel, ele inspira, também, os acontecimentos grupais das pessoas.
O oratório familiar
A casa, lugar de tranqüilidade e de paz, é protegida pelo santo.
O oratório é um pequeno altar, que ocupa lugar de destaque e anima a devoção dos membros da família. É nesse altar que a família se reúne para rezar. O pai e a mãe organizam as rezas, mas cabe ao filho “puxar o terço” ou as devoções.
O oratório na rua
A rua, mesmo com seu caráter profano e perigoso, tam a proteção do santo de devoção. É o oratório da rua que se torna referência para os vizinhos. O pessoal levanta o olhar antes de ir para a roça, se benze e há alguém que sempre oferece flores.
Esse cotidiano público é permeado pela figura do santo e acompanha os fiéis nas suas relações.
Há, também, oratórios públicos, de almas penadas e de mortos sofredores. As almas são neutralizadas pela presença de pequenas imagens de santos de devoção no local, que podem reagir quando são admoestadas e não são lembradas. Há quem diga: “O seu Sebastião (por exemplo) foi morto pelas almas penadas, porque foram desafiadas por ele”.
O oratório ambulante
Muitos eremitas e beatos levam consigo um oratório (oratório ambulante), pedindo esmolas e ajudas para erigir alguma ermida.
A capela
Num povoado maior, a comunidade local tem seu espaço sagrado. É a capela. Construída, quase sempre, em mutirão, é propriedade e objeto de devoção comum. É ali que o povo faz suas rezas, organiza novenas, decora orações e espera o padre, quando ele vem celebrar a missa e dar os sacramentos. Nessa capela, existe a imagem do padroeiro, o santo de maior devoção.
Os santuários
Num âmbito mais amplo, existem centros de grandes devoções: são os santuários. Ali é guardada a imagem do santo mais forte que exige a peregrinação anual de multidões. É uma experiência inesquecível. É o encontro com o santo, com muita gente desconhecida, mas companheira de caminhada.
Visão de Ser Humano
Deus, infinitamente perfeito e bem-amado em si mesmo, em um desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para faze-lo participar da sua vida bem aventurada. Eis por que, desde sempre e em todo lugar, está perto do homem. Chama-o e ajuda a procura-lo, a conhece-lo e a amá-lo com todas as suas forças. Convoca todos os homens, dispersos pelo pecado, para a unidade da sua família, a Igreja. Faz isso através do Filho, que enviou como redentor e salvador quando os tempos se cumprirem. Nele e por ele, chama os homens a se tornarem, no Espírito Santo, seus filhos adotivos, e portanto os herdeiros da sua vida bem aventurada.
Visão de Deus
No catolicismo popular não encontramos um culto especial para Deus, a não ser quando ele é representado como o Divino Pai Eterno, o Divino espírito Santo, o Senhor Bom Jesus etc. Deus é todo poderoso e tudo o que existe é obra sua. Os santos, cuja presença é tão freqüente no catolicismo popular, têm poder porque estão juntos de Deus. Deus paira soberano, e o seu desígnio é inalcançável para os homens. Somente os santos têm acesso a ele porque se encontram perto de Deus e podem influenciá-lo. Por isso, são os aliados celestes do homem.
Para o catolicismo popular, “Jesus é o protótipo dos santos: bom e justo, ele sofre sem ter pecado, e por esse sofrimento ele ganha a misericórdia divina para com os homens. Sua representação popular é, pois, a representação do sofredor: o Crucificado, o Senhor morto, o Jesus da Paixão. Só a partir da ‘romanização’ se introduz a representação de Jesus glorioso, Cristo-Rei, do Jesus suave e manso, como o Menino Jesus e Sagrado Coração de Jesus. Basta lembrar que a grande festa do catolicismo popular não é a Páscoa e nem mesmo o Natal, mas a Sexta-Feira Santa, a Sexta-feira da Paixão. Assim como Jesus sofreu, aceitando como resignação as provações que Deus lhe mandou, também os santos sofreram cada qual as suas provações, tendo assim provado diante de Deus sua conformidade com o que lhes mandava. Também os homens têm que se conformar com a sorte que Deus lhe deu, vivendo em fidelidade aos mandamentos de Deus sem jamais amaldiçoar sua vida” [1]
O relacionamento com o Diferente
No catolicismo Popular
Nem sempre no catolicismo popular se respeita a diversidade, principalmente no que se refere à religiosidade. Embora, aqui no Brasil, as devoções populares tenham forte influência de religiões africanas, ainda há muito preconceito com relação a práticas. No entanto, é muito comum católicos tradicionais freqüentarem, embora que às escondidas, centros espíritas, e rituais de umbanda e candomblé.
Justiça Social
Conforme já foi mencionado, o catolicismo popular chegou ao Brasil através dos portugueses. Na época, devido ao padroado régio, a Igreja estava submissa ao Estado na pessoa do rei, ou seja, era o estado o responsável por catequizar os brasileiros. Logicamente, o rei de maneira alguma permitiria que seus religiosos catequizadores ensinassem algo referente a justiça social, pois assim poderia estar “criando cobras, para depois ser mordido”. Os missionários jesuítas até que tentaram, mas essa tentativa resultou em sua expulsão da Colônia.
Do tempo da colonização para cá, não mudou muita coisa. O movimento Teologia da Libertação estava, aos poucos, despertando a consciência política e religiosa do povo; mas, quando isso começou a incomodar o Estado e a Igreja, logo trataram de suprimi-la.
Futuro da Humanidade
Devido a catequese, ainda da colonização, foram criadas várias fábulas, principalmente no que se refere ao futuro da humanidade. Para o povo seguidor do catolicismo popular, a humanidade terá um fim. Pois, como dizem os mais velhos, “o mundo já se acabou uma vez com água e agora vai se acabar com fogo”.
Vida após a morte
- Todos os que morrem devem, antes de entrar para sempre no paraíso purificar-se de qualquer mancha de pecado no purgatório;
- As almas nada podem fazer por si mesmas, mas apenas nós, os vivos, é que podemos socorre-las com nossas preces e sacrifícios;
- Já no purgatório, podem as almas interceder a Deus por nós; e, com muito mais razão, após sua entrada no paraíso, por intercessão de nossas preces e sacrifícios.
Formas de Manifestação
Santuários
Deste o inicio da colonização até a metade do século XVII o culto religioso no Brasil foi celebrado principalmente em oratórios. Era nesses pequenos templos, construídos pela devoção particular, que o povo expressava a sua fé. Mas o período áureo dos santuários que se tornaram grandes centros de devoção e romarias, vai da metade do século XVIII.
Bem cedo surgiram no Brasil santuários que sempre atraíram grande número de peregrinos. Cada um a seu modo teve grande papel na conservação da fé e da religiosidade de nosso povo, jamais devidamente assistido pela pastoral ordinária das paróquias, quando mais não fosse pelo número reduzido de padres e pelas distâncias.
Brasil e em outras partes da América, as mais variadas manifestações e expressões da devoção popular se preservam e crescem: romarias, promessas, festas, missas, altares, santinhos, consagrações nacionais e regionais.
Estas devoções recorrem a novas formas de expressão e atraem a seus santuários ou lugares de veneração pessoas de todo o país ou das mais diferentes condições sociais.
O milagre é a principal peça do chamado catolicismo popular brasileiro, que se traduz tanto no culto a religiosos, mortos ou não, e imagens com fama de realizar prodígios, quanto na peregrinação a santuários e locais considerados sagrados. Alguns desses religiosos e espaços são ignorados pelo Vaticano e subestimado pelas dioceses, embora reúnam milhares de fiéis católicos.
Os principais Santuários no Brasil
Santuário de Nossa Senhora de Aparecida
Uma imagem foi encontrada da Virgem da Conceição nas águas do rio Paraíba em 1717, e pouco a pouco foi crescendo ao redor dela a devoção popular. Com o auxilio do povo, construiu-se uma Capelinha e posteriormente a velha igreja ainda existe em Aparecida. Quando N. Sr. foi proclamada padroeira do Brasil, em Aparecida do Norte construído um novo e amplo Santuário.
Santuário de Nossa Senhora da Penha
Localizado no Espírito Santo este santuário foi um dos mais importante centro de romarias no Brasil colonial.
Santuário de Nossa Senhora de Nazaré
A devoção a N. Sr. de Nazaré deu inicio na metade do século XVIII no Pará. O culto se celebrava numa pequena Capela que pouco a pouco se torneou se tornou centro de devoção e romarias dos fiéis. Em 1793, o governado do Pará decidiu dar um caráter oficial ao culto, através de uma solene procissão que passou a ser conhecida com o nome de Círio
Santuário do Divino Pai Eterno
Em Goiás na cidade de Trindade está localizado este Santuário, a fama do deste santuário ultrapassa os limites do Estado do Goiás. Para festa que se celebra no primeiro de Julho acolhem romeiros de 80 e mais léguas de distância mais ou menos dez a vinte mil pessoas. E a maior parte dos romeiros vai a cavalo ou carros de boi a alguns a pé. Depois vendo a necessidade do povo construíram outro santuário.
Santuário Bom Jesus da Lapa
O culto do Bom Jesus da Lapa, na Bahia, foi iniciado em fins do século XVII. Bom Jesus da Lapa é um dos mais importante centros de romarias do interior da Bahia.
Santuário de São Francisco das Chagas do Canindé
Localizado no interior do Ceará, segundo maior santuário franciscano do mundo, a princípio foi administrado pelos capuchinhos. Atualmente é dirigido pelos franciscanos conventuais.
Festas e Devoções
As principais festas
- Santos Reis
- São Sebastião
- São José
- Semana Santa
- Divino Espírito Santo
- Natal
- Nossa Senhora do Carmo
- Nossa Senhora da Conceição
- Nossa Senhora do Rosário
- São Francisco de Assis
- São Benedito
- Os Santos Juninos: Santo Antonio, São João e São Pedro.
Ex-votos
O termo "ex-voto" que quer dizer "por um voto alcançado". A prática de depositar ex-votos em santuários é tão antiga quanto a história da humanidade e é observada em diferentes culturas. Os ex-votos mais comuns são as esculturas de parafina e madeira da parte do corpo curada. No Brasil, foram os portugueses que introduziram a prática de depositar ex-votos nas igrejas.
As promessas ligadas à saúde do corpo são as mais freqüentes. Elas geralmente não envolvem apenas o indivíduo e o santo, mas também os familiares, que funcionam como ajudantes ou acompanhantes no pagamento das promessas.
Romaria
É uma atividade religiosa de peregrinação. Para que possamos entender com mais facilidade o estado emocional das romarias, temos que observar o fato de que essa manifestação popular independe de classe social. Ela está ligada ao grau e relação entre os devotos e o santo de devoção.
Os romeiros em sua maioria são pessoas pobres, humildes, doentes e desempregadas. Está bem claro nas romarias que existe uma diferença sócio-econômica e cultural entre os peregrinos.
As primeiras citações de romeiros no Brasil estão datadas de 1743 a 1750. Só a partir de 1900 começaram as grandes romarias programadas. Desde o início do século XX as romarias tornaram-se habituais, tendo assim, as peregrinações pelos principais santuários do país, valorização e estímulos dos bispos.
Há profundas mudanças e tipos de peregrinações desde o século XIX aos dias de hoje. Entre os diversos fatores dessa transformação destacam-se a pastoral dos missionários redentoristas em Aparecida do Norte, Goiás, e Bom Jesus da Lapa; padres salesianos em Juazeiro do Norte; franciscanos conventuais em Canindé. Fez-se, assim, a passagem ao ciclo e mudanças de alguns modelos da Igreja, a modernização das vias de transportes e meios de comunicação de massa.
Concluímos que o catolicismo popular independe de Igreja Católica Apostólica Romana. A Santa Sé Apostólica, para não perder, ainda mais, o controle sobre esta manifestação, apoiou a presença de congregações religiosas européias para atuarem nos grandes santuários do Brasil.
A religião popular, em certo sentido, pode ser considerada como aquela que não atingiu um nível de atualização na sua expressão, ou que não é erudita no sentido etimológico da palavra. É preciso notar, porém, que isso não é absoluto. Existem práticas religiosas populares que são seguidas mesmo por intelectuais.
Por fim, ressaltamos que o catolicismo popular é uma realidade bastante rica e que este trabalho não esgotou o tema. Esperamos que este trabalho possa ter motivado os colegas a realizarem novas pesquisas em torno do assunto que é, ao nosso ver, inesgotável.
Referências Bibliográficas
QUEIROZ, José J. (org). A religiosidade do Povo. Edições Paulinas. São Paulo, 1984.
WILGES, Irineu. Cultura Religiosa: as religiões no mundo, 9a. edição. Ed. Vozes. Petrópolis, 1989.
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OLIVEIRA, Pedro A. Ribeiro de; VALLE, J. Edênio; ANTONIAZZI, Alberto. Evangelização e Comportamento Religioso Popular. Ed. Vozes. Petrópolis, 1978.
JORGE, pe. J. Simões. Cultura Religiosa: o homem e o fenômeno religioso, 2a. Edição. Edições Loyola. São Paulo, 1994.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, Vozes. Petrópolis, 1993.
OLIVEIRA, Pedro A. Ribeiro de, Religião e dominação de classes, Petrópolis, Vozes, 1985, p. 112.