A escrita surgiu, aproximadamente, em 4000 a.C. Já as origens do alfabeto são bem mais recentes: vestígios encontrados em 1990 indicam que as primeiras letras foram criadas em 2000 a.C.
Ideogramas e hieróglifos
Vestígios antigos
A evolução não pára
Escrita silábica
Esse mesmo princípio passou a ser usado para escrever partes de palavras. Em português, por exemplo, usaríamos o desenho de um boi para escrever uma palavra que começasse com a sílaba "bo". Isso não apenas sofisticou o sistema de escrita como criou um gigantesco leque de símbolos que deviam ser aprendidos. E, para minimizar as possíveis ambigüidades, ainda foram criados símbolos determinativos, que especificavam o conceito de cada palavra – para diferenciar, por exemplo, vela, do verbo velar, e vela de parafina
Como era difícil escrever
Em meados do terceiro milênio a.C., um outro povo passou a utilizar o sistema de escrita dos sumérios: os acádios. Com isso, o significado da maioria dos sinais da língua suméria passou a ser lido como acádio. Para utilizar essa escrita era necessário aprender os dois idiomas. Veja como o historiador John Man descreve esse processo de aprendizado: "Com a idade de cinco anos, tem de praticar utilizando seu estilete para imprimir sinais cuneiformes horizontais, verticais e inclinados, de dois comprimentos diferentes. Depois, começa a aprender sua lista de 900 sinais, em que alguns deles representam mais de uma sílaba, e cada um apresentando um som diferente em sumério e acádio. Depois passa a treinar a junção de sílabas para formar palavras, milhares delas, todas listadas em diversas categorias. É como aprender um dicionário".
A revolução das letras
Apesar de utilizadas durante séculos, as escritas ideográfica e silábica, além de difíceis de aprender, deixavam margem a muitas dúvidas. Mas isso tudo foi resolvido com a criação do alfabeto.
O que isso quer dizer?
Imagine só a dificuldade de escrever uma carta na época das escritas ideográficas. Milhares de símbolos, todos desenhados um a um. Pois além de complicada, essa escrita também era muito imprecisa. Afinal, os desenhos podiam ser lidos de maneiras diferentes por leitores distintos. A necessidade de precisão foi aperfeiçoando o método. Os egípcios, por exemplo, chegaram a utilizar 26 sinais – representando os sons das consoantes – para facilitar a compreensão dos hieróglifos. Só não perceberam que esses símbolos poderiam ser usados independentemente, tornando obsoletas todas as centenas de pictogramas até então utilizadas.
A escrita proto-sinaítica
A sistematização do alfabeto é geralmente atribuída aos fenícios. Apesar disso, no final da década de 1990, pesquisadores encontraram na península do Sinai vestígios de um alfabeto anterior: o proto-sinaítico. São inscrições que datam de 1600 a.C., provavelmente influenciadas pelos hieróglifos egípcios. "Imagine um escriba asiático no Egito estudando a melhor forma de escrever a sua própria língua semítica", especula o historiador John Man. "Muitos dos símbolos, aqueles que representam sílabas que hoje escrevemos com duas ou três letras, não têm utilidade, porque a escrita semítica não possui o mesmo conjunto de sílabas. Ele também deixa de lado os determinativos, porque eles servem às ambigüidades somente em egípcio. Resta-lhe apenas um núcleo de símbolos egípcios com os quais poderá trabalhar. Cerca de 26 sons isolados têm os seus próprios sinais, facilmente memorizáveis por simbolizarem o seu som inicial, de acordo com o princípio da acrofonia: net (água) passa a ser n, mu (coruja) vira m."
Nada de vogais
Esses "alfabetos pré-históricos" ainda não tinham vogais. Apenas as consoantes eram representadas. Hoje, os arqueólogos identificam 31 inscrições proto-sinaíticas, nas quais algumas letras são inequívocas: B, H, L, M, N, Q, T e dois sons hebraicos, aleph e ayin. Mas o mais importante dessa escrita é que ela foi a responsável pela difusão da " idéia de alfabeto". Em algum momento, entre 1650-1550 a.C., várias comunidades que viviam na área que compreende atualmente Líbano, Síria e Israel já tinham assimilado o conceito de que era possível representar a linguagem humana com alguns poucos símbolos. É aí que os fenícios entram na nossa história.
Da Fenícia para o mundo
Os comerciantes fenícios precisavam de um sistema de escrita prático, que lhes permitisse manter os registros de suas transações. Nascia o alfabeto.
A cor púrpura
Os fenícios viviam em um conglomerado de cidades-Estado e jamais se viram como uma nação ou uma unidade política. Eram chamados fenícios pelos gregos, por causa da tinta cor de púrpura (phoinix, em grego) que comerciavam. Graças à tinta púrpura, os fenícios tinham enriquecido e, para manter seus registros econômicos sob controle, precisavam de um sistema de escrita prático e preciso. As escritas cuneiforme e hieroglífica tinham uma desvantagem óbvia: eram complexas demais para simples comerciantes. Quando o alfabeto proto-sinaítico, que já se disseminava pela região, chegou ao seu conhecimento, os fenícios perceberam que haviam encontrado o que tanto procuravam.
Expansão das letras
Os fenícios viajavam muito para comerciar. E levavam consigo sua mais nova invenção, o alfabeto: 22 sinais com os quais era possível escrever qualquer coisa. Logo, esse sistema de escrita se espalhou pelo mundo antigo e inspirou outros povos a criar seus próprios alfabetos. O mais famoso deles? O alfabeto grego. Adaptado do fenício, o alfabeto grego tem uma característica importante: a introdução de vogais. O sistema de escrita grego acabou se tornando a maior contribuição cultural para o mundo ocidental, pois originou a família dos alfabetos que até hoje dominam o mundo ocidental.
Etruscos e romanos
Mas o alfabeto ainda teria de sofrer a influência de outros povos, antes de se tornar o que conhecemos atualmente. Primeiro, dos etruscos – povos que ocupavam a costa ocidental da Itália e entraram em contato com os gregos no século VIII a.C. Os etruscos transmitiram esse sistema de escrita para os povos que habitavam a península Itálica, entre eles os romanos. O alfabeto romano – que utilizamos até hoje – surgiu por volta do século VII a.C. Os romanos usavam 21 dos 26 símbolos etruscos, e escreviam da direita para a esquerda. Algum tempo depois, inverteram o sentido da escrita, da esquerda para a direita. Com a expansão do Império Romano e a conquista da Grécia, foram criadas as letras Y e Z, para representar sons gregos.
O mundo latinizado
O alfabeto latino ganhou a Europa ocidental durante as conquistas romanas. Cristalizou-se com a expansão do cristianismo. Chegou à América juntamente com os navios espanhóis e portugueses. Depois, atingiu a África, pelas mãos dos missionários. Foi para a Índia, para as Filipinas, para a Indonésia, muitas vezes convivendo lado a lado com antigas escritas