A seca é mais intensa nos municípios de Candeal, Riachão do Jacuípe, Queimadas, Itiúba, Filadélfia, Senhor do Bonfim, Andorinhas, Uauá, Curaçá, Abaré, Macururé, Chorrochó, Canudos e Euclides da Cunha. Em todos eles o drama é antigo, assim como antigas são as promessas dos políticos no combate à seca. Em muitos locais não há mais plantio e o gado está morrendo. Em outros, os poços artesianos têm água salgada e não há dessalinizadores. A esperança é o que move o homem e o faz descobrir alternativas para sobreviver, enquanto aguarda o cumprimento daquilo que lhe prometeram, mas se não a cumprem como sempre eles viram os retirantes.
Mais um episódio real do Brasil de tantas histórias chega aos cinemas no próximo dia 12, com o filme "O Caminho das Nuvens", dirigido pelo estreante Vicente Amorim. É a saga de um retirante nordestino que andou 3.200 quilômetros de bicicleta e obrigou mulher e filhos a seguirem-no em busca de um salário digno.
A realidade que agora virou ficção aconteceu há cinco anos, e remete à vida do motorista Cícero Ferreira dos Santos, de 35 anos, natural de Serraria, um distrito de Campina Grande, na Paraíba. Cícero, que inspirou o personagem no cinema vivido por Wagner Moura, é casado com Rosanele Borges de Moraes, de 35 anos, e pai de sete filhos: Francisco, de 19; Creiton, de 13; Robson, de 12; Uena, de 10; Romenildo, de 8; Onildon, de 6; e Cícero Júnior, de 4.
Depois da aventura pelas estradas e da decepção de chegar ao Rio e não encontrar o sonhado salário, ele morou numa favela carioca e, atualmente, está de volta ao Nordeste, onde sobrevive com R$ 500 mensais, metade do que queria na época.
Ele respondeu a um questionário da reportagem na pré-estréia do filme em Fortaleza (CE), na semana passada, sobre sua atitude de ir da Paraíba ao Rio de Janeiro de bicicleta com toda a família atrás de um emprego melhor. Leia trechos da entrevista:
Pergunta - O que fez o senhor sair de bicicleta com sua família para ir ao Rio de Janeiro? Por que o senhor insistia em ganhar um salário fixo?
Cícero Ferreira dos Santos - Era o motivo de arrumar um emprego de mil real (sic) [o termo foi mantido no filme]. O pessoal naquele tempo achava que era muito, "mil real" (sic), mas era o que eu precisava para sustentar a família.
Pergunta - Quais os riscos que sua família enfrentou no meio do caminho?
Santos - O maior perigo eram os carros e caminhões, com o risco de serem atropelados.
Santos - O maior perigo eram os carros e caminhões, com o risco de serem atropelados.
Pergunta - Atualmente, como é sua vida?
Santos - Agora mesmo lido com sucata, compro, vendo, cato... Faço todo tipo de negócio. Moro em Pena Forte, uma cidadezinha a 40 quilômetros de Brejo Santo, cerca de 500 quilômetros de Fortaleza, no Ceará. Temos sete filhos.
Santos - Agora mesmo lido com sucata, compro, vendo, cato... Faço todo tipo de negócio. Moro em Pena Forte, uma cidadezinha a 40 quilômetros de Brejo Santo, cerca de 500 quilômetros de Fortaleza, no Ceará. Temos sete filhos.
Pergunta - Onde estão seus filhos? Um deles teria abandonado vocês na viagem.
Santos - Moram todos comigo e com a Rosanele e estão estudando. Menos o Francisco, que trabalha lavando carro num posto de gasolina. Ele é doido pra tirar a carteira de motorista.
Santos - Moram todos comigo e com a Rosanele e estão estudando. Menos o Francisco, que trabalha lavando carro num posto de gasolina. Ele é doido pra tirar a carteira de motorista.
Pergunta - Como o senhor sobrevive hoje? Conseguiu atingir o sonho de ganhar seus mil reais?
Santos - A minha renda por mês hoje é de R$ 500. Esse dinheiro tem dado para viver, pois a gente não paga aluguel. Temos nossa casa, que falta terminar.
Santos - A minha renda por mês hoje é de R$ 500. Esse dinheiro tem dado para viver, pois a gente não paga aluguel. Temos nossa casa, que falta terminar.
Pergunta - Se fosse hoje, o senhor faria tudo de novo?
Santos - Hoje não. A viagem é difícil. É ruim demais andar pelo mundo.
Santos - Hoje não. A viagem é difícil. É ruim demais andar pelo mundo.
Pergunta - O presidente Lula também foi retirante nordestino. O que o senhor acha do governo dele?
Santos - O Lula foi ótimo. Não votei esse ano porque meu título é da Paraíba e só fiz justificar o voto. Acho que o Lula vai garantir emprego e comida pro povo do Nordeste, sim.
Santos - O Lula foi ótimo. Não votei esse ano porque meu título é da Paraíba e só fiz justificar o voto. Acho que o Lula vai garantir emprego e comida pro povo do Nordeste, sim.
Pergunta - Na sua opinião, qual o principal problema do Brasil?
Santos - O principal problema do Brasil é a dificuldade que o povo de classe baixa passa. (AF) Sidney Magal e músicas do Rei puxam filme Um filme feito dentro do Nordeste, não sobre o Nordeste, sem paternalismo nem piedade. É assim que o cineasta Vicente Amorim quer mostrar "O Caminho das Nuvens", seu primeiro longa-metragem, estrelado por Wagner Moura e Claudia Abreu, cujos principais destaques são a volta de Sidney Magal e as canções de Roberto Carlos, interpretadas pela família de retirantes nordestinos do filme.
A divulgação do filme começou com a volta de Magal à mídia. O cantor, ídolo da música pop-brega dos anos 70 e 80, aparece no filme de Vicente Amorim como Panamá, o dono de um resort que explora famílias pobres do Nordeste. Na esteira dos sucessos de Roberto Carlos, o filme também traz Claudia Abreu e algumas das crianças cantando as canções imortalizadas de Roberto, como "Detalhes", "As Curvas da Estrada de Santos" e "Como é Grande o Meu Amor", entre outras. O cantor cedeu os direitos de suas músicas após ler o roteiro do filme, que é dedicado a ele.
Santos - O principal problema do Brasil é a dificuldade que o povo de classe baixa passa. (AF) Sidney Magal e músicas do Rei puxam filme Um filme feito dentro do Nordeste, não sobre o Nordeste, sem paternalismo nem piedade. É assim que o cineasta Vicente Amorim quer mostrar "O Caminho das Nuvens", seu primeiro longa-metragem, estrelado por Wagner Moura e Claudia Abreu, cujos principais destaques são a volta de Sidney Magal e as canções de Roberto Carlos, interpretadas pela família de retirantes nordestinos do filme.
A divulgação do filme começou com a volta de Magal à mídia. O cantor, ídolo da música pop-brega dos anos 70 e 80, aparece no filme de Vicente Amorim como Panamá, o dono de um resort que explora famílias pobres do Nordeste. Na esteira dos sucessos de Roberto Carlos, o filme também traz Claudia Abreu e algumas das crianças cantando as canções imortalizadas de Roberto, como "Detalhes", "As Curvas da Estrada de Santos" e "Como é Grande o Meu Amor", entre outras. O cantor cedeu os direitos de suas músicas após ler o roteiro do filme, que é dedicado a ele.
Poema
Qual peregrinos, vindos do sertão,
Almas ansiosas tais às de criança,
Trazem no peito toda uma ilusão
E em suas mentes só há esperança.
Em caminhões quebrados, malcheirosos,
Cortam caminhos, vencem as estradas
Apagando momentos dolorosos
Das terras quentes, secas e crestadas.
Eis que chegam por fim, amedrontados,
Pobres crianças, velhos e amantes...
Destinos ... quase sempre ignorados...
No Eldorado os chamam retirantes.
Desesperados lutam pela vida,
Massacrados, sentindo a nostalgia,
Dor profunda, chorosa e bem sofrida
Da terra seca que os guardou um dia.
Suas vidas são apenas arremedo...
E agora, o sertanejo, um dia forte,
Com a alma tomada pelo medo,
Já duvida e não crê na própria sorte.
Homens de elite e de linha de frente,
Da terra fria e sem coração,
Olhem um pouco pra essa pobre gente
Que vem em caminhões lá do sertão!