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quinta-feira, 3 de maio de 2012

Artigos: A Difícil Vida dos Retirantes


Sob a sombra do pé de Quixabeira, árvore natural da caatinga, há dois anos, políticos da região de Curaçá (a 592 km de Salvador) prometeram aos moradores do povoado de Poxim energia, poços artesianos e, principalmente, combate à fome e à seca. O agricultor José Pereira dos Santos, 74 anos, era o dono da fazenda onde houve a reunião. Vive de esperança e espera até hoje o cumprimento das promessas.
Sem água, plantações e perspectivas de uma vida melhor, ele encarna a figura do sertanejo forte, iludido por promessas dos políticos, mas que permanece na região à espera de dias melhores.

Durante uma semana, A TARDE visitou 14 municípios do semi-árido baiano, nas regiões do Sisal, Juazeiro e Sertão de Canudos, onde o sertanejo sobrevive pela resistência à inclemência do clima, mas também pela esperança e esforço para melhorar de vida, sofrendo o drama da seca e da falta de alimento, mas encontrando alternativas para continuar acreditando no futuro.

A seca é mais intensa nos municípios de Candeal, Riachão do Jacuípe, Queimadas, Itiúba, Filadélfia, Senhor do Bonfim, Andorinhas, Uauá, Curaçá, Abaré, Macururé, Chorrochó, Canudos e Euclides da Cunha. Em todos eles o drama é antigo, assim como antigas são as promessas dos políticos no combate à seca. Em muitos locais não há mais plantio e o gado está morrendo. Em outros, os poços artesianos têm água salgada e não há dessalinizadores. A esperança é o que move o homem e o faz descobrir alternativas para sobreviver, enquanto aguarda o cumprimento daquilo que lhe prometeram, mas se não a cumprem como sempre eles viram os retirantes.

Mais um episódio real do Brasil de tantas histórias chega aos cinemas no próximo dia 12, com o filme "O Caminho das Nuvens", dirigido pelo estreante Vicente Amorim. É a saga de um retirante nordestino que andou 3.200 quilômetros de bicicleta e obrigou mulher e filhos a seguirem-no em busca de um salário digno.

A realidade que agora virou ficção aconteceu há cinco anos, e remete à vida do motorista Cícero Ferreira dos Santos, de 35 anos, natural de Serraria, um distrito de Campina Grande, na Paraíba. Cícero, que inspirou o personagem no cinema vivido por Wagner Moura, é casado com Rosanele Borges de Moraes, de 35 anos, e pai de sete filhos: Francisco, de 19; Creiton, de 13; Robson, de 12; Uena, de 10; Romenildo, de 8; Onildon, de 6; e Cícero Júnior, de 4.
Ele queria ganhar um salário de mil reais e, por isso, decidiu ir para o Rio de Janeiro levando junto a família, todos em bicicletas. O filho ainda bebê foi na garupa da mãe e a menina, na garupa do pai.

Depois da aventura pelas estradas e da decepção de chegar ao Rio e não encontrar o sonhado salário, ele morou numa favela carioca e, atualmente, está de volta ao Nordeste, onde sobrevive com R$ 500 mensais, metade do que queria na época.

Ele respondeu a um questionário da reportagem na pré-estréia do filme em Fortaleza (CE), na semana passada, sobre sua atitude de ir da Paraíba ao Rio de Janeiro de bicicleta com toda a família atrás de um emprego melhor. Leia trechos da entrevista:

Pergunta - O que fez o senhor sair de bicicleta com sua família para ir ao Rio de Janeiro? Por que o senhor insistia em ganhar um salário fixo?
Cícero Ferreira dos Santos - Era o motivo de arrumar um emprego de mil real (sic) [o termo foi mantido no filme]. O pessoal naquele tempo achava que era muito, "mil real" (sic), mas era o que eu precisava para sustentar a família.
Pergunta - Quais os riscos que sua família enfrentou no meio do caminho?
Santos - O maior perigo eram os carros e caminhões, com o risco de serem atropelados.
Pergunta - Atualmente, como é sua vida?
Santos - Agora mesmo lido com sucata, compro, vendo, cato... Faço todo tipo de negócio. Moro em Pena Forte, uma cidadezinha a 40 quilômetros de Brejo Santo, cerca de 500 quilômetros de Fortaleza, no Ceará. Temos sete filhos.
Pergunta - Onde estão seus filhos? Um deles teria abandonado vocês na viagem.
Santos - Moram todos comigo e com a Rosanele e estão estudando. Menos o Francisco, que trabalha lavando carro num posto de gasolina. Ele é doido pra tirar a carteira de motorista.
Pergunta - Como o senhor sobrevive hoje? Conseguiu atingir o sonho de ganhar seus mil reais?
Santos - A minha renda por mês hoje é de R$ 500. Esse dinheiro tem dado para viver, pois a gente não paga aluguel. Temos nossa casa, que falta terminar.
Pergunta - Se fosse hoje, o senhor faria tudo de novo?
Santos - Hoje não. A viagem é difícil. É ruim demais andar pelo mundo.
Pergunta - O presidente Lula também foi retirante nordestino. O que o senhor acha do governo dele?
Santos - O Lula foi ótimo. Não votei esse ano porque meu título é da Paraíba e só fiz justificar o voto. Acho que o Lula vai garantir emprego e comida pro povo do Nordeste, sim.
Pergunta - Na sua opinião, qual o principal problema do Brasil?
Santos - O principal problema do Brasil é a dificuldade que o povo de classe baixa passa. (AF) Sidney Magal e músicas do Rei puxam filme Um filme feito dentro do Nordeste, não sobre o Nordeste, sem paternalismo nem piedade. É assim que o cineasta Vicente Amorim quer mostrar "O Caminho das Nuvens", seu primeiro longa-metragem, estrelado por Wagner Moura e Claudia Abreu, cujos principais destaques são a volta de Sidney Magal e as canções de Roberto Carlos, interpretadas pela família de retirantes nordestinos do filme.

A divulgação do filme começou com a volta de Magal à mídia. O cantor, ídolo da música pop-brega dos anos 70 e 80, aparece no filme de Vicente Amorim como Panamá, o dono de um resort que explora famílias pobres do Nordeste. Na esteira dos sucessos de Roberto Carlos, o filme também traz Claudia Abreu e algumas das crianças cantando as canções imortalizadas de Roberto, como "Detalhes", "As Curvas da Estrada de Santos" e "Como é Grande o Meu Amor", entre outras. O cantor cedeu os direitos de suas músicas após ler o roteiro do filme, que é dedicado a ele.



Poema

Qual peregrinos, vindos do sertão,
Almas ansiosas tais às de criança,
Trazem no peito toda uma ilusão
E em suas mentes só há esperança.

Em caminhões quebrados, malcheirosos,
Cortam caminhos, vencem as estradas
Apagando momentos dolorosos
Das terras quentes, secas e crestadas.

Eis que chegam por fim, amedrontados,
Pobres crianças, velhos e amantes...
Destinos ... quase sempre ignorados...
No Eldorado os chamam retirantes.

Desesperados lutam pela vida,
Massacrados, sentindo a nostalgia,
Dor profunda, chorosa e bem sofrida
Da terra seca que os guardou um dia.

Suas vidas são apenas arremedo...
E agora, o sertanejo, um dia forte,
Com a alma tomada pelo medo,
Já duvida e não crê na própria sorte.

Homens de elite e de linha de frente,
Da terra fria e sem coração,
Olhem um pouco pra essa pobre gente
Que vem em caminhões lá do sertão!