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quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Assédio moral: quando o trabalho mata e adoece


O Curso de Especialização em Saúde do Trabalhador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP) recebeu, na terça-feira, 25 de julho, a professora Terezinha Martins para uma aula aberta sobre "Os ataques à saúde mental de quem trabalha: o assédio moral". Doutora em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Terezinha é integrante do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Ao inciar a aula, a professora lembrou que são constantes os convites para que fale sobre assédio moral.

- São dois sentimentos que me tomam nesse momento. O primeiro é a alegria de se produzir conhecimento junto com os parceiros que me convidam para falar; mas o outro é de tristeza, porque esse tema que eu pesquiso é horrendo, é triste. Se recebo muitos convites, isso significa que aumentou a necessidade de discussão a respeito desse tema, pois, na realidade, aumentou sua ocorrência. Se a gente pensar nas reformas trabalhistas, nos governos e seus substitutos, é horrível imaginar que estamos produzindo teorias sobre uma realidade que está, obviamente, piorando.

Em seguida, a professora fez uma breve explanação acerca da história das relações de trabalho e seu papel no desenvolvimento das sociedades humanas.

- O trabalho, historicamente, é esse lugar de transformação do animal nesse ser social, humano. A pergunta que se faz é como chegamos nesse ponto em que o trabalho mata, adoece, em que se tornou um grande sofrimento, para os que têm e para os que não têm.

Segundo Terezinha Martins, o aumento dos casos de assédio e outras doenças relativas ao trabalho têm na chamada reestruturação produtiva do capitalismo sua causa,  uma vez que, ao longo das últimas décadas, vem se intensificando a exploração dos trabalhadores.

- Os trabalhadores, principalmente aqueles mais vulneráveis, as mulheres, os negros, mas também um homem louro de olhos azuis que acabou de ter um filho, acabam se submetendo a situações em que têm que “dar o couro” para não perder o emprego. O adoecimento chega aos que acabam fazendo um esforço acima de suas capacidades, compreendidas num amplo espectro, do ponto de vista mental, físico etc. Esse trabalhador que adoece vira um estorvo para os patrões, porque diminui o ritmo da produção e acaba servindo de exemplo para os outros, que ficam com medo.  

União e história para cavar a saída

Falando sempre, como lembrou ao longo de sua aula, tendo o Materialismo Dialético como base teórica, Terezinha terminou sua palestra com otimismo ao abordar a busca de saídas para a situação crítica em que se encontra a classe trabalhadora.

- Nós precisamos olhar para a história: meus avós estavam amarrados ao pé de uma mesa. Muitos dos companheiros que estiveram ao meu lado, lutando contra a ditadura, foram mortos; mas não se escapa à história. Marx usa uma imagem maravilhosa: a topeira da história. Está ali o chão liso, o asfalto e, de repente, ela aparece. É cavando nos lugares subterrâneos, nos morros, com os pretos etc; é nos juntando e pensando coletivamente que poderemos achar saídas.