A relevância da produção de conhecimento em saúde em um contexto de perda de direitos esteve em destaque no lançamento da edição temática Saúde, Trabalho e Ambiente, da revista Saúde em Debate, editada pelo Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). A publicação, lançada em 24 de julho, na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), assim como o evento, resultou de parceria entre o Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da ENSP, o Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz) e o Cebes. "Existe relevância em produzir conhecimento nessa área de saúde, trabalho e meio ambiente, pois estamos vivendo uma conjuntura de desmonte de direitos sociais e direitos dos trabalhadores", observou Cristiani Vieira Machado, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da ENSP, apontando que a produção acadêmica não está dissociada da intervenção na realidade do sistema de saúde. "Essa reforma trabalhista com pouco debate está não só rompendo com a Constituição de 1988, como com direitos que vêm sendo conquistados há décadas. Estamos voltando aos tempos coloniais, retirando a proteção das pessoas contra o trabalho escravo. Um tipo de desmonte sem precedentes", considerou.
A diretora de Política Editorial do Cebes, Maria Lucia Frizon destacou que a revista Saúde em Debate, criada em 1976, foi um dos mais importantes veículos de divulgação da Reforma Sanitária no Brasil e de construção de um pensamento crítico na área da saúde pública brasileira e latino-americana. "A revista não é propriedade de uma pessoa ou grupo, mas um patrimônio do movimento da Reforma Sanitária que deve ser preservado, estimulado e sustentado".
A coordenadora Geral de Pós-Graduação da Fiocruz, Maria Cristina Guilam, fez um resgate do histórico da revista, apresentando algumas de suas primeiras capas e ressaltando a perenidade dos assuntos abordados, bem como o compromisso da revista com direito universal à saúde. A primeira capa, por exemplo, estava ilustrada com uma grande boca representando o antigo INPS, que engolia tudo a sua volta, principalmente a seguridade social. "A revista permanece atual, cumprindo assim, o que se propunha desde sua criação", destacou. "A missão da revista Saúde em Debate é escoar as nossas posições políticas, e ela vem galgando cada vez mais seu espaço", acrescentou Maria Cristina.
Abordando a relação entre saúde e capital, a coordenadora do Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural (Dihs/ENSP/Fiocruz), Maria Helena Barros, enfatizou "a tentativa de desmonte" do Sistema Único de Saúde. "A saúde vem sendo tratada como mercadoria, e tal entendimento relaciona-se com o atual investimento do governo nos planos de saúde privados, com pouca ou nenhuma garantia ao paciente, e que pretende provocar o esvaziamento do SUS", observou. "Discussão de temas como saneamento, por exemplo, não interessa, é feita às escondidas, de forma marginal por uma opção política dos gestores", acrescentou.
"Saneamento deveria ser uma área estratégica para os governos, federal, estaduais e municipais", apontou Simone Cynamom, do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da Ensp (DSSA/Ensp/Fiocruz). "Não temos cobertura suficiente de água e esgotamento, destinação adequada de resíduos sólidos e drenagem, que geram tantos problemas ambientais".