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domingo, 15 de outubro de 2017

DUAS REVOLUÇÕES NA ARTE OCIDENTAL

DUAS REVOLUÇÕES NA ARTE OCIDENTAL

por Almandrade




1 - LES DEMOISELLES D’AVIGNON DE PICASSO (1907) – 110 ANOS


Uma das transformações mais radicais na arte ocidental do século XX, tem como paradigma o quadro de Pablo Picasso LES DEMOISELLES D’AVIGNON, concluído em 1907. Era uma espécie de manifesto ou plano piloto do espaço multifacetado cubista. Braque se assustou quando viu o quadro, mas logo em seguida foi influenciado por essa pintura que havia lhe causado indignação. Juntos, Braque e Picasso realizaram obras relevantes e decisivas para deslanchar o mais importante movimento da história da Arte Moderna: o Cubismo. Com uma diferença, Braque se manteve à parte do que veio depois, encerra sua notável contribuição com o Cubismo. Picasso se manteve atento às turbulências, à instabilidade e à velocidade do século da máquina e se fez um símbolo da modernidade.

Os principais gestos renovadores da arte moderna saíram do cubismo, como as geografias construtivas de Mondrian e Malevith, o Futurismo, o Dadá e o Surrealismo. A partir da lição de Cézanne, interpretar a natureza segundo o cilindro, o cone e a esfera, um novo problema foi formulado pelos cubistas. Rejeitar a representação do mundo (a mímêsis), decompor analiticamente o espaço renascentista, descentrar a percepção, demolir o claro/escuro, encerrar a ilusão de profundidade e afirmar o plano como verdade do espaço moderno. Era o fim de uma tradição da pintura ocidental que desde Giotto até Coubert, determinava como tarefa primeira do pintor, criar uma ilusão de espaço na superfície do plano.

LES DEMOISELLES D’AVIGNON foi a primeira invenção moderna que abriu caminho para transgredir convenções e tradições visuais naturalistas do ocidente. Picasso subverteu por completo as regras de representar a figura humana e os objetos, desconstruiu o corpo e a separação entre figura e fundo, a anatomia foi subordinada à geometria e a luminosidade sem compromissos com a natureza, totalmente livre. A figura humana, que era para Rafael, principal elemento da representação, passou a ser um objeto a mais na paisagem, sem expressividade. A arte deixou de ser cópia ou ilustração do que é entendido como real. O que importava era o espaço construído com um olhar inquieto que pretendia desnudar as aparências para expor suas estruturas internas.

Picasso se inspirou nas Banhistas de Cézanne. A pintura apresenta cinco figuras femininas submetidas a estilizações geométricas, corpos angulosos e desproporcionais, fragmentados, com mascaras africanas nos rostos para abolir de vez os últimos resíduos da representação renascentista. Uma pintura simultânea, com justaposição de perspectivas, uma solução encontrada por Picasso para mostrar os múltiplos pontos de vistas sobre uma mesma coisa, de frente e de costas ao mesmo tempo, que remete a certas preocupações científicas da época, o problema da representação quadridimensional, objeto de estudo do matemático francês Henri Poincaré, considerado um dos precursores da Relatividade.



Mudou a posição do espectador frente à tela, esta deixou de ser uma janela para o mundo e assumiu sua condição de superfície bidimensional, passou a ser uma realidade em si. Um investimento contra a perspectiva linear para devolver ao artista seu lugar no mundo, como desejava Cézanne, e não mais o espectador à distância da paisagem e das coisas. LES DEMOISELLES D’AVIGNON foi uma revolução na história do olhar do século XX, um dos marcos iniciadores da nova verdade da arte moderna, apreendida na ordenação geométrica e não mais na anatomia.