A Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e o Instituto Moreira Salles apresentam, a partir do dia 1º de abril, a exposição Panoramas: a paisagem brasileira no acervo do Instituto Moreira Salles. Com 280 obras, entre fotografias, desenhos e gravuras produzidas entre os anos de 1820 e 1920, a mostra fica em cartaz até 17 de junho no Museu de Arte Brasileira (MAB-FAAP).
Para os curadores Carlos Martins (consultor de iconografia brasileira do IMS), Sergio Burgi (coordenador de fotografia do IMS) e Julia Kovensky (coordenadora de iconografia do IMS), o objetivo da exposição, ao reunir os acervos fotográfico e iconográfico do Instituto Moreira Salles, é apontar os procedimentos que moldaram a representação da paisagem brasileira no decorrer do século XIX.
Na exposição serão exibidas gravuras, desenhos e litografias de artistas viajantes, como os alemães Johann Moritz Rugendas e Carl Friedrich von Martius e o inglês Charles Landseer, entre outros que passaram pelo Brasil. “Empenhados em registrar tudo o que viam, esses artistas deixaram um grande legado em papel: esboços naturalistas, estudos preparatórios, aquarelas e gravuras, que, reproduzidas em larga escala, ilustravam álbuns de suvenir e livros de viagem”, explica Carlos Martins.
Em relação à fotografia, os visitantes poderão ver obras de renomados fotógrafos estabelecidos no Brasil como Augusto Stahl, Victor Frond, Militão Augusto Azevedo, Georges Leuzinger, Marc Ferrez, entre outros. “Esses fotógrafos se especializaram no registro da paisagem urbana e natural e deixaram um legado primordial para a história e memória do país”, acrescenta Sergio Burgi.
As imagens apresentadas nesta exposição retratam o Rio de Janeiro, então capital do Brasil, e antigas regiões coloniais e cafeeiras do século XIX, como São Paulo, Salvador, Recife, Olinda, Santos, Mariana e Ouro Preto. Também compõem a mostra panoramas com registros da vegetação, de rochas, rios e cadeias de montanhas, temas apreciados por viajantes e naturalistas, além de registros fotográficos produzidos, por exemplo, por Marc Ferrez para a Comissão Geológica e Geográfica do Império e por Georges Leuzinger para o naturalista Louis Agassiz.
Maria Izabel Branco Ribeiro, diretora do MAB-FAAP, explica que na versão paulistana da mostra, que já passou pelo Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro em 2011, os curadores incluíram vistas de São Paulo em outras épocas. “Desta forma, o público poderá estabelecer comparações com seus pontos de referência e tornar a visita uma experiência significativa”, acrescenta.
Pesquisador e Crítico de fotografia, o Prof. Rubens Fernandes Junior, diretor da Faculdade de Comunicação e Marketing da FAAP, enfatiza que a exposição destaca o artifício imagético que surpreendeu as visualidades da segunda metade do século XIX e meados do século XX.
“Graças às novidades tecnológicas criadas a partir do desenvolvimento científico, o homem pôde ter a primeira experiência imersiva vivenciada em profundidade. A visão panorâmica permite ver um contexto que não percebemos cotidianamente diante de uma ampla vista. Com a fotografia panorâmica e com os espaços específicos criados para sua apreciação, a imagem técnica ganhou uma compreensão mais acurada da realidade”, declara o Prof. Rubens.
Espaços e Estruturas
Para a mostra, os organizadores prepararam a reconstituição cenográfica de uma rotunda, grande atração nas principais cidades européias no final do século XVIII e início do século XIX. As rotundas eram edifícios de forma cilíndrica construídos especialmente para abrigar grandes panoramas. Na exposição, será exibida uma vista do Rio de Janeiro, mostrada em Paris no ano de 1824. A imagem, que terá 11 metros de perímetro em uma estrutura circular, foi a primeira representação do Brasil na Europa.
Também será montada uma sala equipada com cinco projetores e uma tela de 3 metros de altura por 20 metros de comprimento, em formato semicircular, com projeções sequenciais de panoramas de cidades brasileiras entre fotografias e gravuras. A ideia é propiciar aos visitantes a sensação então experimentada pelos frequentadores desse entretenimento urbano que é o precursor do cinema.
Haverá ainda na mostra uma sala voltada para a história dos ofícios relacionados à captação e reprodutibilidade da imagem, na qual serão exibidos e descritos os materiais e técnicas utilizados no registro iconográfico e fotográfico do século XIX: pedras litográficas, câmaras escuras (réplicas de princípio de equipamentos dos séculos XVI e XVII que instrumentalizaram os artistas no período anterior à invenção da fotografia), máquinas fotográficas, lentes e equipamentos que pertenceram ao fotógrafo Marc Ferrez, entre outros itens.
As técnicas de impressão, conjuntamente com a fotografia, propiciariam o desenvolvimento dos processos de reprodução da imagem por meios fotomecânicos, que facilitaria ainda mais a multiplicação da imagem. Aliado a esta expansão da comunicação por meio da circulação de imagens em múltiplos suportes, o formato panorâmico se estabeleceu ao longo do século XIX como uma das principais formas de representação iconográfica.
A Coleção Martha e Érico Stickel de iconografia, incorporadas recentemente ao acervo do IMS, enriqueceu ainda mais o conteúdo da exposição. A presente exposição, a partir da seleção de obras do acervo do IMS, se faz possível graças à recente incorporação da Coleção Martha e Érico Stickel de iconografia. Essa contribuição ao acervo é significativa, uma vez que somada à coleção de fotografia oitocentista existente no Instituto, onde se destaca a Coleção Gilberto Ferrez, propicia, nessa mostra, indicar muitos dos procedimentos e atitudes que moldaram a representação da paisagem brasileira, contribuindo para a formação da imagem do país no decorrer do século XIX e sua subsequente divulgação no exterior.