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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Artigos: Teoria do Eterno Retorno



   Eterno Retorno é um conceito desenvolvido pelo filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), considerado por ele próprio um dos seus pensamentos mais aterrorizadores. Foi durante um passeio em 1881 que Nietzsche refletiu sobre os sentidos das vivências em alternâncias que se repetem. Embora em várias de suas obras encontramos pistas do que seria o Eterno Retorno, é na sua obra A Gaia Ciência (1882), um dos mais belos livros antes de Nietzsche sofrer das baixas de sua saúde, que ele nos brinda com a idéia mais nítida do que seria esse conceito:


“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!“ Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: “Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: “Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?” pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?” (aforismo 56)

   Parece que o Eterno Retorno defende a tese de que pólos se alternam nas vivências numa eterna repetição. Criação e destruição, alegria e tristeza, saúde e doença, bem e mal, belo e feio,… tudo vai e tudo retorna. Porém, esses pólos não se opõem, mas são faces de uma mesma realidade, isto é, um complementa o outro, são contínuos de um jogo só. Alegria e tristeza são faces de uma única coisa experiênciada com grau diferente.

   A temporalidade não está presente no Eterno Retorno, a realidade para Nietzsche não tem uma finalidade nem um objetivo a cumprir, e por isso as alternâncias de prazer e desprazer se repetem durante a vida. – O Eterno Retorno não se reporta a uma demarcação temporal cíclica e exata, mas às nuances de vivências que se complementam e dão o colorido da vida.

   O devir não ocorre de um modo exatamente igual, mas são variações de sentidos já vivenciados, faces de uma mesma realidade. A alegria e a tristeza que senti não serão iguais no amanhã, mas voltarei a experimentar esses estados em suas diferentes variações.

   A indagação que Nietzsche nos faz através do aforismo acima não se trata de uma negação da vida, pelo contrário, nos remete a uma afirmação da vida. Não posso crescer se não experimento declínio e vice-versa, são faces de uma mesma moeda sem demarcação de tempo e exatidão, de tal modo, Nietzsche nos aponta que “os homens não têm de fugir à vida como os pessimistas, mas como alegres convivas de um banquete que desejam suas taças novamente cheias, dirão à vida: uma vez mais”. – Eis aqui uma bela resposta de Nietzsche ao pessimismo de Schopenhauer.

   Se tudo retorna - o prazer e o desprazer, a dor e o deleite, a alegria e o sofrimento - Queremos mesmo viver à eternidade onde nada de novo irá acontecer além de vivências com nuances variadas de uma mesma realidade? - Não é fácil dar uma resposta a indagação que o Eterno Retorno nos faz.  Mas apenas você pode respondê-la, e ninguém poderá fazer isso por você, uma resposta pronta e acabada não faz sentido, da mesma forma que a “verdade” e a “mentira” não encontram acomodação no pensamento de Nietzsche. Talvez decorra daí o sentido perturbador do conceito.

   Nietzsche nos dá o Eterno Retorno como uma saída, que consiste em buscar a criação na destruição, só nessa complementação que podemos transcender e reafirmar a vida em detrimento dos valores que envenenou a humanidade e negou a vida, sobretudo, aqueles simbolizados na cruz.