Dentre os inúmeros impactos ambientais que afetam a vida de milhões de pessoas no mundo, principalmente nos grandes centros urbanos, os desastres "naturais" aparecem de maneira cada vez mais frequente e intenso. Eles afetam mais gravemente determinados grupos populacionais e espaços geográficos mais vulneráveis, seja nos países mais pobres ou mesmo nos mais ricos. Pensando nestas questões, a Revista Ciência & Saúde Coletiva acaba de lançar uma edição especial sobre os riscos de desastres naturais para a saúde coletiva. A publicação contou com a participação de diversos pesquisadores da ENSP. A coordenadora científica do Centro Latino-Americano de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP), Cecília Minayo, que também é uma das autoras da Revista, apontou que apesar da importância crescente do tema, há pouco investimento em prevenção e na produção científica estratégica que dê respaldo à efetividade de ações e proporcione correta e adequadamente avaliação das situações, embora a consciência sobre o problema esteja crescendo.
Para Cecília, que escreveu Desastres naturais - impactos, vulnerabilidades e organização do setor saúde juntamente com a jornalista da Ciência e Saúde Coletiva Luiza Gualhano, defende ainda que a redução de riscos de desastres é considerada uma das funções essenciais da saúde pública. De acordo com elas, “em tais situações, tanto a população é alvo de doenças físicas e sofrimento mental, como as respostas precisam ser, de um lado, imediatas e, de outro, em forma de acompanhamento posterior indispensável”.
Ao todo, são 13 artigos, dos quais cinco têm foco nos impactos dos desastres na saúde. Outros três abordam a organização do setor saúde para a preparação e a resposta aos desastres e eventos de massa. Quatro abordam desastres e os riscos futuros, bem como os limites das políticas públicas para o tema no Brasil, tendo como referência a teoria crítica social. Um último artigo analisa a base de dados Desastres da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).
O editorial da Revista, intitulado A redução dos riscos de desastres naturais como desafio para a saúde coletiva, teve como autores os pesquisador da ENSP Carlos Machado de Freitas, que também é coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes/Fiocruz); e Claudia Garcia Serpa Osorio-de-Castro, que também integra o Núcleo de Assistência Farmacêutica da Escola (NAF/ENSP); e ainda a participação da pesquisadora da Universidade Federal Fluminense Elaine Silva Miranda.
O editores convidados alertaram que nos últimos 40 anos foram registrados, em escala mundial, mais de 3,3 milhões de óbitos por desastres, sendo a maior parte em países pobres, que concentram para além de 90% da população e dos óbitos. “Se estes eventos impactam de modo mais grave a saúde dessas populações, é importante observar que alguns grupos populacionais encontram-se ainda mais vulneráveis, como mulheres e crianças, que possuem 14 vezes mais chances de óbito em um desastre”. Os autores apontam ainda que mesmo sendo percebida a crescente importância sobre o tema, ainda há pouca produção científica sobre desastres no país, principalmente no que se refere às repercussões na saúde das populações e à capacidade de atuação do setor saúde em todas as fases.
Segundo eles, com este número especial o que se espera é contribuir para uma melhor compreensão destes eventos na interface com a saúde. “A ideia é que esta publicação possa contribuir para o fortalecimento da capacidade de 'propor e agir' do setor saúde, em parceria com outros setores, tanto na prevenção dos desastres - por meio da atuação sobre os determinantes sociais e ambientais - como nas ações de preparação, resposta, reabilitação, recuperação e reconstrução pós-desastres”.
Outros artigos que contam com a participação de pesquisadores da ENSP são: Desastres naturais e saúde: uma análise da situação do Brasil; Avaliação econômica dos casos de Dengue atribuídos ao desastre de 2011 em Nova Friburgo (RJ), Brasil; Eventos de massa, desastres e Saúde Pública; Preparação da assistência farmacêutica para desastres: um estudo em cinco municípios brasileiros; O tema desastre na área da saúde: perfil da produção técnico-científica na base de dados especializada em desastres da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS); Indicador de vulnerabilidade socioambiental na Amazônia Ocidental. O caso do município de Porto Velho, Rondônia, Brasil; Medicamentos essenciais e processo de seleção em práticas de gestão da Assistência Farmacêutica em estados e municípios brasileiros; entre outros.